Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

O espetáculo das grandes corporações

A Copa do Mundo é o segundo maior evento esportivo do planeta, atrás apenas dos Jogos Olímpicos. Organizada pela entidade máxima da área, a Federação Internacional de Futebol (Fifa), desde 1930 e de quatro em quatro anos, a Copa do Mundo tornou-se um espetáculo que movimenta bilhões de dólares, ao midiatizar produtos e explorar exaustivamente todas as formas de marketing e comercialização.

Acredita-se que por detrás das paixões futebolísticas sempre esteve presente a especulação financeira e a agiotagem, passando por cartalogens e corrupções, as quais, nos dias de hoje, já nem são consideradas de tal forma, tamanha é a liberdade de mercado e a falta de qualquer regulação neste meio. Ao mesmo tempo, a importância deste espetáculo hoje é muito maior do que no passado, já que a televisão o torna efetivamente mundial.

Os patrocinadores das seleções pagam caro à Fifa pelo direito de exclusividade para a exibição de suas marcas e obtêm sucesso. Em 2010, a entidade abriu 2.500 processos ao redor do mundo para proteger a marca da Copa, fechando o cerco e delimitando os espaços. Nesta Copa da África, os vendedores locais sequer tiveram seus direitos de comercialização garantidos, por não venderem produtos pertencentes às grandes corporações em questão.

Fatos como estes revelam o poder arbitrário da Fifa e demonstram quem realmente lucra, não importando o local de realização do evento. Aliás, fica bem claro que o comércio local sofre perseguição e tem suas ambições delimitadas pelo mercado do futebol. Tal procedimento deve-se não só à expectativa de faturamento nos estádios e arredores, mas também devido à busca de imagens somente das marcas e produtos dos patrocinadores, o que implica eliminar a possibilidade de concorrentes serem captados por fotógrafos e cinegrafistas.

Lucros e perdas

As seleções eliminadas precocemente na competição tiveram seus contratos de imagem rompidos com os patrocinadores e sofreram pressão, inclusive de veto e escolha de jogadores, como tem sido denunciado. Fato tão comum que não deveria causar espanto. É emblemático o caso do jogador Ronaldo Nazário, até então conhecido como ‘Ronaldinho’, que na Copa de 1998 teria sido escalado mesmo estando doente, supostamente por pressão dos patrocinadores, que teriam exigido que o jogador estivesse presente na final da competição.

Por todo este panorama traçado e acontecimentos exemplificados, pode-se delinear que em 2014 haverá uma disputa ainda mais acirrada entre as grandes corporações, já que os capitais buscam crescentemente ampliar seu espaço. A Copa realizada no Brasil irá gerar uma especulação ainda maior, conectando-se interesses econômicos e políticos. Ambos, ao fim, passam pelo interesse midiático, como praticamente tudo na formação social contemporânea.

Quem lucra enormemente com as Copas, independentemente do país-sede, é a entidade máxima do futebol, as grandes empresas (que têm o seu lucro multiplicado) e os governantes locais (cujos dividendos políticos resultam em exponencial aumento da capacidade eleitoral sua e de seus aliados). Quem perde é a população local, que paga caro para observar um circo muito bem planejado e que sustenta a paixão e os sentimentos das populações pelo futebol, uma verdadeira febre com claras dimensões midiáticas.

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Respectivamente, professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos e graduando do Curso de Comunicação Social – Jornalismo pela mesma instituição