A mídia tem falado da morte súbita de jogadores de futebol. Dá o que pensar. Cada vez que recebia a Caros Amigos, eu buscava, faminta, a coluna de José Róiz. O médico mineiro dizia coisas atrevidas nesse tempo de espetacularização do esporte, de culto aos músculos e às dietas de todo tipo. Mais ainda: ele falava de como bem viver. Morreu em 2003, para lá da curva dos 80, magrinho e sábio. E deixou tudo que ensinou em livro – um dentre outros escritos – republicado pela editora Casa Amarela, tem o título Esporte mata! (São Paulo: Editora Casa Amarela, 2004. 178 pp.). Indiferente às críticas que recebia e avesso a sensacionalismos, Róiz afirmava: ‘O homem não foi feito para correr.’
Róiz ensinava que nenhum adulto com mais de 25 anos deve fazer exercício violento, mas também não pode ter vida sedentária. O melhor é simplesmente caminhar, e muito, e dançar, hábito que preserva o vigor do corpo e da mente. Além disso, o médico só recomendava o vôlei, mas nunca o competitivo, aquele do atleta. Jogando vôlei, a pessoa caminha e faz as quatro ginásticas que Róiz considera necessárias – aquelas que contraem os músculos posteriores, situados ao longo da coluna vertebral.
‘Grife globalizada’
Muitos escritos do médico mostram sua preocupação com o tipo de alimento consumido na vida moderna. Embora não fosse vegetariano, sugeria que as pessoas evitassem a carne, especialmente por causa de doenças como a da ‘vaca louca’. Para ele, a melhor refeição possível é feijão comum com carne de soja moída, acompanhada de uma fonte de vitamina C, como as frutas cítricas, podendo se substituir metade da mistura por um pouco de arroz e verdura. E o ideal, adotando ou não essa refeição, é ingerir uma pequena quantidade de alimento, evitando o excesso de proteínas, em intervalos de duas horas e meia. Isso estimula a produção de insulina, que ‘limpa’ o sangue, enviando para os tecidos a glicose, a gordura e os aminoácidos das proteínas. Bem nutridas, as células do corpo ficam mais capazes de produzir anticorpos contra as doenças.
Róiz sempre dizia que não teria escrito o livro se não fosse pelo seguinte: a humanidade se divide em dois grupos, os longevos e os não-longevos. Nos longevos, que vivem mais, a insulina predomina sobre o glicocorticóide, um dos hormônios do estresse. Nos não-longevos, acontece o contrário. O problema é que os longevos são feitos de um ‘barro especial’, são minoria. A maioria tem dificuldade para nutrir todas as células do organismo. Assim, praticar esportes, se estressar e produzir mais e mais glicocorticóide vai piorar a situação, especialmente se a pessoa praticar musculação ou corrida e ainda tiver problemas de coluna ou de coração. Gilberto Felisberto Vasconcellos, que faz o prefácio do livro, resume bem o pensamento de Róiz: ‘Foi contra a grife globalizada do mundo: esporte não é vida. Nem saúde.’
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Jornalista, Florianópolis, SC