Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Estado de S. Paulo

CASO RENAN
Ricardo Brandt e Expedito Filho

Família de Renan teve ajuda de empresário

‘As relações perigosas entre o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e os empreiteiros tiveram mais umas de suas páginas expostas à luz. O livro de contabilidade de uma gráfica de Maceió indica que contas de campanha eleitoral da família do senador em 2004 foram pagas por um empresário da construção civil. Seis cheques de Sérgio de Almeida, dono da Mais Engenharia Ltda, foram entregues à Cian Gráfica Editora Ltda. para pagar adesivos, santinhos e cartas de campanhas feitas supostamente a pedido de Renan.

São cheques de baixo valor, mas que mostram que o presidente do Senado contava com a ajuda de empresários amigos antes mesmo de estourar o escândalo em que ele é acusado de ter despesas pessoais pagas pelo lobista Cláudio Gontijo. O representante da construtora Mendes Júnior pagaria a pensão de uma filha de Renan com a jornalista Monica Veloso.

Dos seis cheques, quatro foram registrados como entregues em 14 de julho de 2004. Todos no mesmo valor: R$ 4.360. São cheques de números seqüênciais que, segundo contabilidade da empresa, deveriam ser depositados nos dias 5 de agosto, setembro, outubro e novembro.

O último pagamento consta como sustado. O livro registra ainda outro cheque de Sérgio de Almeida no dia 25 de novembro, no valor de R$ 4.350, que também teria sido ‘sustado’.

O empresário Benezildo Moura, antigo aliado de Renan e dono da gráfica, afirmou que o material de campanha foi confeccionado a pedido do senador. Ele encomendou os papéis para as campanhas de seu filho Renan Calheiros Filho, que disputou e ganhou a Prefeitura de Murici, e de seu irmão Robson Calheiros, que concorreu e também foi eleito vereador de Maceió.

O livro registra que teriam sido produzidos 500 mil santinhos para candidaturas de vereadores a pedido de Renan, 250 adesivos para Renan Filho e 50 mil cartas para Robson Calheiros, entre outros.

Não é a primeira vez que Moura testemunha contas de Renan sendo pagas por empreiteiras e lobistas. Ele já confidenciou que, após perder a eleição para governador em 1990, Renan chegou a ter suas despesas pagas por empresários e amigos – entre eles o lobista Cláudio Gontijo. O depósito teria sido feito em uma conta já encerrada de Moura no antigo Banco América do Sul. Ele afirmou, porém, não ter guardado os comprovantes.

Nesta época, Gontijo ainda trabalhava na Santa Bárbara Engenharia. Senador e lobista já afirmaram, anteriormente, que são amigos e que se conheceram quando Gontijo atuava na Santa Bárbara. Consulta nas prestações de contas de campanha de 2002 dos senadores mostra que a empreiteira doou R$ 80 mil.

NOVO AMIGO

Sérgio de Almeida consta como proprietário da Mais Engenharia Ltda, fundada em 9 de fevereiro de 2000. Consulta feita na Receita pelo CNPJ da empresa mostra que hoje ela está registrada como Gabino Parking Ltda, uma empresa que atuaria com estacionamento de veículos. Os CNPJs porém têm o mesmo número. Pelo registro, Almeida detém 90% da empresa e os outros 10% estão em nome de Maria de Fátima Uchôa Sampaio de Almeida.

As relações de Renan e Almeida continuam fortes. O amigo empresário que pagou contas de campanha assumiu cargo de diretor de operação na Companhia Energética de Alagoas (Ceal), por indicação de Renan. Procurado ontem, ele não foi localizado.

LYRA

O usineiro e ex-deputado federal João Lyra quebrou o silêncio e admitiu que teve sociedade com Renan na compra de uma rádio e um jornal. Afirmou ainda que, por sugestão de Renan, o negócio de R$ 2,6 milhões foi registrado em nome de laranjas.

As declarações que complicam ainda mais a situação do presidente do Senado foram dadas em entrevista publicada pela revista Veja deste final de semana.

Na entrevista, João Lyra, que foi aliado político e sócio de Renan e depois virou seu desafeto, disse que suas relações foram além das de negócio envolvendo a sociedade na JR Difusão. O usineiro afirmou que o presidente do Senado usou jatos e helicópteros cedidos por ele em passeios e viagens políticas. Documentos entregues à Veja registram que o senador usou as aeronaves de Lyra 23 vezes – o que custaria R$ 215 mil. Mas tudo saiu de graça.

A reportagem informa que no período em que eles foram sócios (1999 a 2005) o usineiro colocou à disposição de Renan um jatinho e um helicóptero da frota de uma de suas empresas, a LUG Táxi Aéreo.’

MÍDIA & PRECONCEITO
O homem da mão pesada

Flávia Tavares e Mônica Manir

‘Manoel Maximiano Junqueira Filho – Juiz de Direito titular da 9ª Vara Criminal da Comarca da Capital (SP) – Magistrado que rejeitou queixa-crime de Richarlyson tem fama de rigoroso e polêmico

Ele quis evitar um exame perfunctório. Desses sem utilidade, ligeiro, superficial. Mesmo porque – palavras suas – um exame perfunctório é vedado constitucionalmente, na esteira do artigo 93, inciso IX, da Carta Magna. Então o juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho deu tratos à bola e começou assim sua sentença:

1. Não vejo nenhum ataque do querelado ao querelante.

2. Em nenhum momento o querelado apontou o querelante como homossexual.

Antes de entrar no mérito do parágrafo 3, consta esclarecer quem se envolveu na querela. José Cyrillo Júnior, diretor-administrativo do Palmeiras, é o querelado, o réu. Contra ele se formulou a queixa-crime da injúria depois de participar do programa Debate Bola, da TV Record, no dia 26 de junho. No programa os debatedores comentavam a notícia, divulgada pelo jornal Agora São Paulo, de que um jogador de futebol negociava com o Fantástico a revelação, no ar, de sua homossexualidade. Perguntaram para Cyrillo se, por acaso, o tal jogador homossexual era do seu time. Cyrillo saiu-se com o seguinte: ‘O Richarlyson quase foi do Palmeiras’.

Richarlyson Barbosa Felisbino, atleta do São Paulo, ligou para seus advogados. Queria saber se podia entrar com processo contra Cyrillo. Renato Salge e Paulo César Ferreira, um dentista, outro engenheiro, os dois principiantes no Direito, mas ambos amparos legais do jogador no vai-não-vai para o Palmeiras, entenderam que a frase de Cyrillo tinha nítida intenção de ‘animus difamandi vel injuriandi’, conforme preceitua o artigo 22 da Lei de Imprensa. Richarlyson virou o queixoso, o querelante do processo.

Ocorre que, na tentativa de evitar o dito exame superficial, o juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho destrinchou o parágrafo 3.

Se o tivesse rotulado de homossexual, o querelante poderia optar pelos seguintes caminhos:

3.A – não sendo homossexual, a imputação não o atingiria e bastaria que, também ele, o querelante, comparecesse no mesmo programa televisivo e declarasse ser heterossexual e ponto final;

3.B – se fosse homossexual, poderia admiti-lo, ou até omitir, ou silenciar a respeito. Nesta hipótese, porém, melhor seria que abandonasse os gramados…

Eis que o titular da 9ª Vara Criminal da Comarca da Capital perdeu a bola no meio de campo e deixou sua defesa vazada. Ainda assim, avançou:

Quem é, ou foi, BOLEIRO, sabe muito bem que estas infelizes colocações exigem réplica imediata, instantânea, mas diretamente entre o ofensor e o ofendido, num ‘TÈTE-À-TÈTE’ (sic).

Trazer o episódio à Justiça, outra coisa não é senão dar dimensão exagerada a um fato insignificante, se comparado à grandeza do futebol brasileiro.

Manoel Maximiano Junqueira Filho, 45 anos, nascido nos prados de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, é figura de dimensão controversamente exagerada. Seus apelidos vão de Junqueirinha a Manezinho, passando por Nel. ‘Em meus 40 anos de carreira, foi a primeira vez que ele absolveu um cliente meu, mas é o único juiz que conheço que convida os advogados para tomar cafezinho na sala dele’, contrapõe Oswaldo Ianni, advogado de Cyrillo, o cartola querelado.

Vem dos corredores e também dos despachos a fama de pegar pesado nas sentenças. Um de seus pontos fracos é o porte ilegal de armas. Manoel Maximiano Junqueira Filho recebeu pena de advertência do Tribunal de Justiça de São Paulo em julho do ano passado depois de se manifestar por escrito contra decisão superior que mandava soltar um indivíduo que ele havia mandado prender. Não só escreveu sua reclamação nos autos como ampliou a reprovação a todos os juízes do Tribunal de Alçada Criminal que dessem moleza a quem se munisse ilegalmente de uma arma. ‘Quem anda armado à noite não vai fazer outra coisa que não roubar…’, já ouviram o doutor dizer pelos corredores.

Na querela que envolveu Richarlyson, o titular da 9ª Vara aparentemente se indignou com o arrimo documental, que incluía manifestação de grupo gay da Bahia e do colunista Juca Kfouri, ‘batendo-se pela abertura, nas canchas, de atletas com opção sexual não de todo aceita’. Manoel Maximiano Junqueira Filho resolveu ampliar sua reprovação:

5. Já que foi colocado, como lastro, este Juízo responde: futebol é jogo viril, varonil, não homossexual. Há hinos que consagram esta condição: ‘OLHOS ONDE SURGE O AMANHÃ, RADIOSO DE LUZ, VARONIL, SEGUE SUA SENDA DE VITÓRIAS…’

O hino, citado pelo Juízo, é o do seu time, o Internacional de Porto Alegre, embora a letra oficial não seja exatamente esta. Consta dos autos desportivos oficiais: ‘…CORREM OS ANOS, SURGE O AMANHÃ, RADIOSO DE LUZ, VARONIL, SEGUE A TUA SENDA DE VITÓRIAS…’. Literal é que o magistrado pega firme nas peladas de futsal entre colegas de magistratura, que não freqüentou as aulas de Educação Física na Faculdade de Direito da USP, que ornamenta sua sala com uma espada tesa na vertical e que seus ídolos varonis são Félix, Carlos Alberto, Brito, Everaldo, Piazza, Clodoaldo, Gérson, Jairzinho, Pelé, Tostão e Rivelino, no escrete de ouro; Manga, Figueroa, Falcão e Caçapava, no Colorado; e Carlos, Oscar, Vanderlei, Marco Aurélio e Dicá, na Macaca. O inconteste é Pelé, o ‘mais completo atacante, jamais visto’, mas que não venham, ora bolas, com ‘sistema de cotas’, forçando o acesso de tantos por agremiação…

12. E não se diga que essa abertura será de idêntica proporção ao que se deu quando os negros passaram a compor as equipes. Nada menos exato. Também o negro, se homossexual, deve evitar fazer parte de equipes futebolísticas de héteros.

Pelé é personagem de diálogo folclórico entre o juiz e uma testemunha em pleno tribunal. Teria ele perguntado: ‘A senhora conhece o Edson?’. A testemunha fingia que não. ‘O Edson Arantes?’, insistiu o juiz. ‘Também não’, replicou a testemunha. ‘O Edson Arantes do Nascimento?’, completou o doutor. ‘O Pelé?’, desconfiou a testemunha. ‘Goooooooool!’, bradou o juiz. Richarlyson, por sua vez, fez gol contra nesta semana ao se referir à discriminação no geral: ‘O preconceito denigre o Brasil’. Foi pego no contrapé pela desinformação.

O titular da 9ª Vara, também chamado de Manezinho, possivelmente devido à sua baixa estatura métrica, é homem casado e classificado como culto nas leis e nos conhecimentos gerais. Vem de família fazendeira, com respaldo jurídico. O irmão Paulo advoga, o pai também, ambos em Ribeirão Preto. Quando soube do teor da sentença sobre o caso Richarlyson, Manoel Maximiano Junqueira, o progenitor, ligou para Manoel Filho parabenizando-o. ‘Ele não é de ficar em cima do muro, pessoas transparentes assim são raras.’

É translúcida a homofobia no esporte. Há quem se lembre de Luiz Cláudio Alves da Silva, o Lilico, jogador de vôlei brasileiro, que assumiu ter orgulho de ser negro e gay. Lilico, vítima de AVC fatal em dezembro do ano passado, chegou a cogitar sua não-convocação para a seleção brasileira por causa da orientação sexual.

No futebol, a coisa se acirra. Luiz Felipe Scolari afirmou certa vez em entrevista que mandaria um jogador embora de seu time caso descobrisse ser ele (o jogador) gay. Não à toa, a Coordenação Nacional de Aids, com a participação de Ongs e técnicos de vários Estados, criou o vídeo Pra que Time Ele Joga em 2002, distribuído nas escolas como material para aulas de Educação Sexual. O filme mostra o herói do time de futebol do colégio marginalizado do grupo depois de ser visto beijando um rapaz. Quem resgatou da memória a película de 12 minutos foi Joana D’Arc Costa, presidente da ONG Rosa Vermelha, associação de Ribeirão Preto que atua em defesa dos direitos humanos dos Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros. ‘Não dá para falar em homofobia sem tratar de racismo e machismo’, conclui.

O fecho do juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho para o despacho do caso Richarlyson toca no seio familiar:

15. Para não se falar no desconforto do torcedor, que pretende ir ao estádio, por vezes com seu filho, avistar o time do coração se projetando na competição, ao invés de perder-se em análises de comportamento deste, ou daquele atleta, com evidente problema de personalidade, ou existencial; desconforto também dos colegas de equipe, do treinador, da comissão técnica e da direção do clube.

Também toca em estrofe de Acordo de Malandro, pagode de O. Martins e J. Rosa Filho, interpretado por Bezerra da Silva:

16. Precisa, a propósito, estrofe popular, que consagra: ‘CADA UM NA SUA ÁREA, CADA MACACO EM SEU GALHO, CADA GALO EM SEU TERREIRO, CADA REI EM SEU BARALHO’.

Manoel Maximiano Junqueira Filho não citou o restante da estrofe: ‘DUAS FASES POSITIVAS QUANDO SE ENCONTRAM SÓ DÁ EXPLOSÃO, SE VOCÊ QUEBRAR NOSSO TRATADO, VAI LEVAR ECO DO MEU ‘TRÊS OITÃO’. Terminou o despacho com um:

17. É assim que eu penso… e porque penso assim, na condição de Magistrado, digo:

18. Rejeito a presente Queixa-Crime. Arquivem-se os autos. Na hipótese de eventual recurso em sentido estrito, dê-se ciência ao Ministério Público e intime-se o querelado, para contra-razões.

Após queixa dos advogados do atleta, criticando o ‘pensamento jurássico’ e a falta de imparcialidade do juiz da 9ª Vara Criminal, o Conselho Nacional de Justiça pediu explicações ao magistrado sobre o conteúdo da sentença. A partir daí, decidirá se abre processo administrativo contra o douto Manoel Maximiano Junqueira Filho.

TERÇA, 7 DE AGOSTO

Cartão para o juiz

Após saber que o juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho teria que explicar ao Conselho Nacional de Justiça sua sentença afirmando que ‘futebol não é jogo para homossexual’, o atleta do São Paulo Richarlyson desabafa: ‘É preciso acabar com todo tipo de preconceito’.

HOMOSSEXUALIDADE

‘Esta situação incomum, do mundo moderno, precisa ser rebatida… ‘

HISTÓRICO

Foi advertido pelo TJ depois de se manifestar por escrito contra decisão superior

ORGULHO PATERNO

Ao saber da sentença, o progenitor ligou parabenizando-o pela ‘transparência’’

DOW JONES VENDIDA
Alastair Campbell

Não tenha medo de Rupert Murdoch

‘Tem sido a sorte e também o infortúnio de Rupert Murdoch o fato de ter sido demonizado como grande bicho-papão da mídia. Sorte porque isso lhe confere um perfil e uma influência que pode deixar alguns assustados com a sua sagacidade empreendedora, vontade de vencer e aquilo que muitos podem perceber como sede de poder. Infortúnio porque isso significa que o entendimento que o mundo tem dele talvez não seja tão completo como deveria ser, nem seu sucesso tão proclamado como poderia ser.

Portanto, foi interessante estar em Nova York na semana passada quando o assédio de Murdoch à Dow Jones & Co. e ao The Wall Street Journal teve sucesso. Os gemidos de apreensão e angústia e as medonhas advertências sobre o que ele pode agora fazer ao jornal e aos seus padrões já eram profundamente conhecidos de alguém como eu, que fui jornalista em Londres na década de 1980, quando Murdoch se estabeleceu como um participante dominante na mídia britânica.

Naquela época, a ascensão dele envolveu, às vezes, batalhas terríveis com sindicatos dos gráficos e seus apoiadores quando ele buscou tirar proveito comercial do desejo de Margaret Thatcher de acabar com o domínio da mão-de-obra organizada. Em comparação, aquisições e tomadas de controle mais recentes têm sido relativamente indolores. Ele se aproxima, deita as garras em cima, enfrenta os gemidos de angústia, as pessoas dão de ombros quando um novo título vai para o império de Murdoch e depois o mundo avança.

O fato de os padrões dos jornais britânicos terem caído nos últimos anos, na minha opinião, é indiscutível e, pelo fato de Murdoch ter sido tão predominante no mercado, é evidente que ele tem de estar em algum lugar no processo quando se trata de atribuir a culpa. Mas pretender, como querem alguns, que, de alguma forma, ele seja o único responsável por tudo que está ruim na nossa mídia noticiosa não é apenas intelectualmente preguiçoso, é não entender corretamente o processo.

O ponto principal está no ritmo da mudança. Quando comecei a trabalhar em jornais, há 28 anos, para a maioria das pessoas a ‘mídia’ significava um jornal que a sua família recebia diariamente e alguns minutos de noticiário na TV, no caso do meu país, na BBC. Hoje o alcance e a escala da mídia noticiosa é inconcebível.

O advento do noticiário 24 horas por dia e sete dias por semana indubitavelmente foi o maior fator na alteração da natureza e no tom dos jornais. Com a TV e o rádio se tornando os provedores mais imediatos de informações, os jornais mudaram. Muitos se tornaram tanto participantes como expectadores do debate político, uma coisa que se encaixa no estilo de Murdoch, com a sua evidente visão conservadora do mundo.

Na Grã-Bretanha, muito se comenta a influência política de Murdoch no maior tablóide diário, o The Sun, que passou de conservador a trabalhista em 1997. E, conseqüentemente, foi considerado que pode ter ajudado Tony Blair a se tornar primeiro-ministro. Na minha opinião, o The Sun, foi, em parte, levado a essa decisão por Murdoch, que viu em Blair um figura genuinamente modernizante, seriamente decidida a levar o Partido Trabalhista para mais perto do centro político.

Mas o mais importante foi que os leitores do Sun estavam se deslocando na mesma direção, gostando do que viam e ouviam de Blair. Será que Tony Blair teria perdido a eleição se o The Sun tivesse ficado com os conservadores? Provavelmente, não. O jornal teria perdido credibilidade? Sim.

Quanto à questão da interferência dele em assuntos editoriais, estamos enganando a nós mesmos se fingirmos que as personalidades que possuem jornais não têm influência nas posições e atitudes editoriais. Murdoch não precisa interferir diretamente. Seus editores sabem o que ele pensa e raramente ele está longe dos pensamentos deles.

Pela minha experiência com ele, eu o vejo, primeiro, como um homem de negócios, segundo, como jornalista, e o poder vem em terceiro lugar, muito embora esses aspectos se misturem. Mas vale a pena ressaltar que minha única experiência direta como jornalista contratado trabalhando para ele foi como colunista político e editor-assistente num jornal (agora extinto) que era declaradamente de centro-esquerda e no qual, se houve alguma interferência de Murdoch, nunca percebi. Também trabalhei para Robert Maxwell. Esse sim era um proprietário que interferia.

Quando as pessoas examinam o Times de Londres, que é de propriedade de Murdoch e agora tem o formato tablóide, e dizem que não é mais o que era, é verdade. Mas também não é mais o mesmo o mundo que ele noticia nem o mundo empresarial no qual opera. E, goste dele ou deteste-o, considere-o uma influência benigna ou maligna, em virtualmente todas as etapas da mudança, Murdoch tem estado à frente do jogo.

Quando lançou o canal noticioso 24 horas Sky News na Grã-Bretanha, em 1989, os analistas previram que não sobreviveria. A Fox News foi recebida com uma reação muito parecida quando chegou às telas dos Estados Unidos. Agora atinge uma enorme quantidade delas.

Ele também tem estado à frente de muitos de seus rivais na compreensão da importância da internet. Depois, acrescentou publicações e filmes e alguns dos contratos feitos com a internet, e você tem um magnata que pode dizer legitimamente a seus executivos seniores, como ele disse recentemente: ‘Vocês todos pensam que eu sou muito velho. Eu acho que vocês é que são muito velhos.’

Um dos ex-editores de Murdoch, Richard Stott, que também editou o meu livro, no qual Murdoch é a mais mencionada figura da mídia, uma vez me disse que Rupert Murdoch desprezava os políticos. Não tenho certeza que isso seja totalmente exato. Mas, certamente, ele os acompanha de perto para ver o que de bom e de ruim poderão fazer para seus interesses empresariais. E, sem dúvida, alguns daqueles que ele sentiu que poderiam ameaçar esses interesses podem ter sentido a dor de uma ocasional paulada editorial.

Mas, nas democracias avançadas, embora as estruturas de poder tenham mudado, os líderes eleitos continuam a deter um enorme poder. Murdoch é um enorme participante da mídia global. Se os políticos são intimidados por ele, isso é problema deles. Se eles passam a mensagem errada por causa do medo da ira editorial dele, em primeiro lugar, não deveriam ter sido eleitos. E, se os jornalistas não gostam de trabalhar para ele, existem mais empregos na mídia do que jamais houve na história da humanidade, e ele também ajudou a fazer isso acontecer.

*Alastair Campbell, porta-voz e consultor do primeiro-ministro Tony Blair de 1994 a 2003, é autor do livro The Blair Years (A Época de Blair).’

TELES vs. TVs
Gerusa Marques

Emissoras de TV e teles voltam a disputar mercado

‘A disputa que vem sendo travada nos bastidores do Congresso entre emissoras de TVs e empresas de telefonia pelas novas formas de distribuição de conteúdo ganhará visibilidade, na próxima quarta-feira, com a realização de uma audiência pública na Câmara. As grandes redes de televisão do Brasil, entre elas a Globo, querem manter o domínio do mercado de produção e distribuição de programas de TV. As teles defendem mudanças de regras para entrar nos novos filões abertos pelo avanço da tecnologia, como a televisão no celular e pela internet.

A briga não é propriamente nova, mas ganhou força no primeiro semestre deste ano em uma espécie de batalha de projetos. Logo no início da legislatura, o deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC) apresentou um projeto de lei propondo a abertura total do mercado de produção, programação e distribuição de conteúdo para as empresas telefônicas.

Em seguida, houve o contra-ataque, com o projeto de lei do deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), que propõe estender às produtoras e distribuidoras o limite de 30% de participação de capital estrangeiro, já previsto na Constituição para jornais e emissoras de rádio e TV. Com isso, as teles, que em grande maioria são grupos internacionais, ficariam de fora desde mercado.

Os projetos passariam originalmente apenas pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, onde foi designado relator o deputado Jorge Bittar (PT-RJ). Em março, já havia uma mobilização dos parlamentares da comissão para fazer um amplo debate sobre o tema e votar logo o substitutivo.

Bittar anunciou que pretende partir desses projetos para elaborar um novo marco regulatório para o setor de comunicações, envolvendo os setores de televisão aberta, TV paga, banda larga e telefonia.

Os radiodifusores, então, reagiram em duas frentes. Primeiro, o deputado Albano Franco (PSDB-SE), que é detentor de emissora de TV, apresentou, no início de abril, um requerimento para que os projetos passassem antes pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, alongando a tramitação. Enquanto isso, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) apresentou, no mesmo mês, um outro projeto de lei sobre o assunto, desta vez no Senado, criando novos obstáculos para as telefônicas.

A manobra, segundo fontes do mercado que acompanham a tramitação das propostas no Congresso, é segurar o andamento dos projetos na Câmara e, enquanto isso, fazer avançar a proposta do Senado, que agrada mais às emissoras. O projeto de Ribeiro estabelece, entre outros pontos, que pelos menos 51% do capital votante de empresas da cadeia do conteúdo pertençam a brasileiros.

Em junho, o processo na Câmara quase foi atropelado pela criação da CPI das Teles, destinada a investigar os contratos firmados desde 1997 entre a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e as empresas de telefonia fixa.

O autor da CPI, deputado Wellington Fagundes (PR-MT), é presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico e relator dos projetos sobre conteúdo.

A CPI também foi apontada pelas telefônicas e por alguns deputados como uma tentativa das emissoras de TV de protelar a elaboração de novas regras, já que desviaria o foco dos projetos para a Comissão Parlamentar de Inquérito. A CPI, porém, acabou sendo arquivada dias depois, porque não havia alcançado o número necessário de assinaturas para a sua criação.

Na época, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), teria advertido as comissões de Desenvolvimento Econômico e de Ciência e Tecnologia para não adiarem a discussão, sob pena de o projeto ser avocado para o plenário.

A advertência resultou em um acordo entre as duas comissões para que os projetos sejam votados até o fim deste mês na Comissão de Desenvolvimento Econômico e, até o fim de setembro, na de Ciência e Tecnologia. Os projetos têm caráter terminativo e, depois de aprovados nas comissões, seguem direto para o Senado.

Foram convidados para a audiência pública, promovida pelas duas comissões, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, o presidente da Anatel, Ronaldo Sardenberg, e representantes das associações de emissoras de televisão aberta, de TV por assinatura, telefonia fixa e celular.

O presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, deputado Júlio Semeghini (PSDB-SP), diz que é preciso pensar em um modelo estratégico de longo prazo para o setor de comunicações do País. ‘A discussão do conteúdo não pode ser isolada das telecomunicações, tem que considerar esse novo mundo da distribuição’, afirmou.

A idéia do deputado Jorge Bittar é propor um novo marco regulatório, modificando o Código Brasileiro de Telecomunicações, a Lei Geral de Telecomunicações (LGT) e a Lei do Cabo, que regulam os setores de radiodifusão, telefonia e TV a cabo, respectivamente.

Teles x TV

As emissoras de TV: Querem manter a reserva que detêm no mercado de produção, programação e distribuição de conteúdo, como os programas de televisão. Para tanto, defendem que qualquer empresa que entre nesse setor se submeta à regra constitucional válida para as emissoras de rádio e TV abertas, que estabelece que pelo menos 70% do capital dessas companhias estejam nas mãos de brasileiros

As teles: Querem a abertura do mercado e regras convergentes para a televisão, internet e telefonia. Defendem a queda dos limites de participação do capital estrangeiro na TV a Cabo, restrito a 49%, e a possibilidade de produzirem e distribuírem conteúdos para as novas mídias, como a TV pela internet e pelo celular

Novos mercados: O avanço da tecnologia permitiu o surgimento de novas maneiras de ver televisão. Além da TV aberta tradicional e da TV por assinatura (via cabo, satélite ou microondas terrestres), apareceram também a TV pela internet (IPTV) e pelo celular. Isso cria a necessidade de programas de televisão específicos para esses veículos, como resumo dos gols, de novelas e clips musicais, resultando em novas receitas e publicidade’

GIANETTI NO FANTÁSTICO
Fred Melo Paiva

A questão é: quanto vale o seu futuro?

‘Eduardo Giannetti da Fonseca quase perde a estréia dele próprio na televisão. Hoje à noite, em algum lugar entre a voz do Cid Moreira e o figurino do Zeca Camargo, ele estará no Fantástico inaugurando um novo quadro do programa – uma série de dez episódios cujo título coincide com o de seu último livro: O Valor do Amanhã (Companhia das Letras, 2005). Até anteontem, Eduardo Giannetti estava na Rússia. Passou antes pela Finlândia, Suécia, Noruega. Tudo a passeio. Em São Petersburgo, ponto final da sua viagem, concluiu que os russos pensam demais em dinheiro – uma obsessão que, na visão dele, só encontra paralelo com o Brasil. ‘São países encrencados.’

Eduardo Giannetti voltou ontem , ‘não para assistir ao Fantástico, mas para dar aulas na segunda-feira’. Economista e filósofo de primeira grandeza, é autor de oito livros em que mistura suas especialidades como se o conhecimento de uma não sobrevivesse sem a outra. Está agora com a mão na massa, preparando dessa vez um ‘livro de citações’. Mineiro de Belo Horizonte, 50 anos redondos, é professor de História do Pensamento Econômico nas Faculdades Ibmec de São Paulo, onde vive. Ph. D. pela Universidade de Cambridge, Giannetti é um economista raro – um sujeito capaz de dispensar o economês, esse esperanto dos que lidam com os mistérios do mercado financeiro.

Sua incapacidade de se fazer desentender explica a vocação que Eduardo Giannetti tem para alcançar públicos improváveis. Um exemplo: convidado pelo Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, promoveu leituras de Adam Smith para alunos do ensino público de Diadema e São Bernardo. Aos sábados. E nunca faltou quórum. Tem desafio semelhante ao se arriscar no Fantástico com o intuito de ‘plantar a semente da dúvida na cabeça do espectador’.

De São Petersburgo, na Rússia, Giannetti concedeu ao Aliás a seguinte entrevista:

O que vamos ver hoje no ‘Fantástico’: o filósofo ou o economista?

Vocês verão uma tentativa de integrar os dois, além de um terceiro elemento: o tratamento estético refinado, que vai traduzir argumentos e conceitos em imagens. Serão dez episódios, abertos sempre pelo ator Matheus Nachtergaele, que interpretará algumas fábulas – A Cigarra e a Formiga, Adão e Eva, Ulisses e as Sereias, Romeu e Julieta. Cada uma delas vai nos apresentar a seguinte situação de escolha no tempo: é melhor viver agora e pagar depois, ou pagar agora e viver depois? Em outras palavras, há duas posições que uma pessoa pode assumir: a de credora, na qual ela aceita um sacrifício agora tendo em vista um benefício futuro; ou a posição de devedora, em que aceita abrir mão de alguma coisa mais à frente, para ter algo desde já. Tomei muito cuidado para não moralizar a questão. Também não vou prescrever nada. Estou na postura socrática de tentar plantar a semente de uma dúvida na cabeça do espectador: será que as minhas escolhas refletem os meus valores e o meu projeto de vida?

Não corre o risco de parecer que um importante pensador brasileiro está flertando com a auto-ajuda?

Eu brinco que o programa é o avesso disso, porque não vai dar receita, mas provocar o pensamento – todo episódio irá terminar com uma pergunta, justamente para se plantar a semente da dúvida. Eu me interessei por fazê-lo porque a questão das escolhas no tempo precisa ser mais refletida no Brasil. Tanto no plano do comportamento individual, como no do coletivo. Porque, independentemente da reflexão, o País tem feito escolhas que refletem os valores da nossa cultura e o seu projeto de nação.

O brasileiro dedica-se pouco a planejar o futuro?

Vivemos uma cultura cujo centro de gravidade está calcado no ‘aqui e agora’. A razão histórica disso é que somos resultado da confluência de três outras culturas extremamente imediatistas. Como dizia Sérgio Buarque de Holanda, o colonizador ibérico veio para encontrar o paraíso e não para construí-lo, a exemplo do que aconteceu na América do Norte. Ele trouxe a noção do desfrute imediato e predatório. Por outro lado, nossa formação passa também pelo africano submetido à escravidão, o que deturpa terrivelmente a psicologia temporal. À medida em que não era dono nem de seu próprio corpo, não havia nada que o escravo pudesse fazer para melhorar seu futuro. Por fim, somos fruto da cultura indígena, adaptada a um meio em que se vive um momento de cada vez – é o ambiente da caça e da coleta, onde não há sequer a agricultura organizada, que é um enorme exercício de planejamento e ação inteligente no tempo. O encontro desses vetores só poderia produzir uma nova cultura fundamentada no imediato.

Quanto nós devemos sacrificar do presente em nome de um futuro melhor?

Isso depende, primeiro, do ciclo de vida em que a pessoa está. Cada etapa da existência humana tem uma psicologia própria e uma maneira de perceber o tempo. Depende também das perspectivas. Se você tem um longo horizonte pela frente e vive em uma sociedade com instituições sólidas, que te permitem agir no presente com vistas ao futuro, então vale mais a pena o sacrifício agora em favor do amanhã. Mas, se você é um jovem morando em um morro carioca, submetido à violência, suas perspectivas diminuem – não há condição objetiva de agir no tempo fazendo sacrifícios em nome de benefícios remotos. Então, tudo depende de circunstâncias, instituições, fases da vida, valores individuais. Tem um exemplo para isso que é curiosíssimo. Nas semanas que se seguiram aos atentados de 11 de setembro, nos Estados Unidos, o consumo de produtos dietéticos despencou. Caiu também a demanda por spas. As pessoas ficaram com tantas incertezas com relação ao futuro, que não viam sentido em abrir mão de prazeres que podiam desfrutar no presente.

No Brasil, a carga tributária é imensa, mas seus benefícios sociais são tímidos. A classe média paga por saúde e educação, mas tem de usar planos de saúde e escolas particulares. A CPMF, criada para ser provisória, vai se tornando definitiva. As promessas que não se cumprem reforçam a idéia que não vale a pena fazer sacrifícios pensando no futuro?

Este é outro elemento a contribuir com a cultura do imediato. Com relação à carga tributária, porém, o que mais me preocupa é que uma fatia muito grande da sociedade brasileira acaba sendo empurrada para a informalidade, onde não há condições de planejar o futuro de uma maneira minimamente generosa. Ao contrário, vive-se com enorme precariedade e com um horizonte de tempo muito curto. Mais da metade da população economicamente ativa do Brasil não tem uma situação regular de emprego. Isso torna a economia brasileira uma caricatura, muito mais parecida com uma selva do que com uma verdadeira economia de mercado. Nesta, há um arcabouço de regras, leis e instituições que permitem exatamente essa sofisticada ação inteligente no tempo, visando muitos anos à frente. Mais da metade da nossa população não pode ter relação de crédito, não pode aparecer publicamente. Tudo por causa do tamanho opressivo da carga tributária. Indo além, o Estado brasileiro não cabe no PIB brasileiro. E isso encurta o horizonte de tempo das nossas escolhas.

O brasileiro com carteira assinada ainda confia na Previdência Social?

O banco HSBC fez há pouco tempo uma pesquisa internacional sobre poupança previdenciária. O Brasil aparece como o país em que o maior número de pessoas ainda conta com a provisão estatal de previdência – e com a maior intensidade. Isso mostra que não acordamos para a realidade. Olhando para a coletividade brasileira, há três pontos que evidenciam claramente nossa dificuldade de antever o futuro e de agir consistentemente na sua construção. O primeiro deles é o descaso com o ensino fundamental. Capital humano é uma troca no tempo – implica sacrifícios feitos agora para colher benefícios lá na frente. Os Estados Unidos, ex-colônia como nós, universalizaram o ensino fundamental em 1890. O Brasil completou esse movimento, a duras penas, com um século de atraso, na década de 1990. Um segundo ponto diz respeito à destruição do meio ambiente. A natureza é um patrimônio de todas as gerações, presentes e futuras. Mas muitos de nós estão consumindo esse patrimônio de modo irreparável. É como vender a prata da família para jantar fora. Por último, a questão da previdência: nossa imprevidência previdenciária talvez não tenha paralelo no mundo. Somos um país de estrutura etária jovem que gasta 13% do PIB com pagamentos de benefícios previdenciários. Só que 13% do PIB é o que gastam os países europeus mais maduros demograficamente. Só o déficit da previdência do funcionalismo público brasileiro é maior do que todo o gasto do Estado com o ensino fundamental. Acontece que são 3 milhões de funcionários públicos aposentados e 37 milhões de crianças de 7 a 14 anos freqüentando a escola pública. Um país que comete uma enormidade dessa está se condenando à miséria e à ignorância perpétua. Ao invés de estar investindo no futuro, está desinvestindo num passado de esbanjamento. A Constituição de 1988 transformou funcionários públicos seletistas em pessoas com direito a aposentadoria em regime especial. Esse é o tamanho do rombo que aparece agora. Isso, em um certo sentido, foi o extermínio do futuro do Brasil. E, como se viu na pesquisa do HSBC, a sociedade brasileira ainda acha que o Estado será capaz de prover tudo.

Para mudar esse cenário, bastam decisões de governo?

Nosso governo não é tão diferente da nossa sociedade quanto gostamos de imaginar. Ele apenas reflete o que somos. O grande contraponto a tudo isso é também não desprezar a capacidade que temos de desfrutar o presente e viver intensamente as oportunidades que a vida oferece. Aquilo que sempre surpreende o olhar estrangeiro: como um país de vida material tão precária consegue manter a chama da alegria e do vigor? A grande utopia brasileira é conquistar a capacidade dos povos civilizados de agir inteligentemente no tempo sem perder essa disponibilidade para o momento e para o desfrute dos prazeres. Freud escreveu O Mal-estar na Civilização. Nossa utopia é a civilização sem mal-estar. O risco é o pesadelo que corresponde a ela – para usar a expressão de Rousseau, o risco é perdermos o doce sentimento da existência e não alcançarmos o conforto e a segurança. Então será o mal-estar – mas sem a civilização.

Da utopia para o pé no chão: por que se diz hoje que a aquisição de um imóvel não é bom investimento para o futuro?

Se você for nas periferias das grandes cidades brasileiras, o imóvel é a única poupança que existe. Para a massa da sociedade, a casa própria ainda é o grande sonho. Pena que ela direcione todo o seu esforço poupador para a aquisição de bens materias, ao invés de aplicar em capital humano. É uma diferença marcante entre nós e os asiáticos, que assim têm tirado da pobreza sua população. Para uma pequena camada mais rica, há outros investimentos – bolsa de valores, renda fixa, hedge funds. Agora, como estamos caminhando para uma taxa civilizada de juros monetários, há uma grande novidade no Brasil: aquele sujeito que vivia de renda, que antes dava um telefonema, fazia sua aplicação e não precisava mais pensar no assunto, esse tipo está acabando. A vida do rentier brasileiro que quiser manter seus padrões terá certamente novos desafios.

Essa semana foram anunciados lucros recordes dos maiores bancos brasileiros, o que tem muito a ver com crédito pessoal e financiamento para compra de automóveis. Em entrevista ao ‘Aliás’, há 2 anos, você classificou esses lucros como ‘imorais’. Continua pensando da mesma forma?

Os bancos estão em ambiente fortemente competitivo e jogam dentro das regras da economia. É lamentável apenas que as linhas de crédito no Brasil estejam crescendo como crédito ao consumidor e não ao investimento.

Para o banco, é melhor que sejamos compradores de carros do que poupadores?

O banco vive da intermediação entre credores e devedores. O que existe no Brasil é uma poupança pequena e uma demanda muito grande por crédito. Para os bancos, esse cenário acaba sendo um grande negócio. O que acho verdadeiramente intrigante é existir tanta gente no País que se coloca na seguinte situação: o sujeito tem uma aplicação financeira e uma dívida no mesmo banco. O que ele recebe de juros numa ponta é a fração do que vai pagar na outra. Rasgar dinheiro não é diferente disso. Com clientes assim – e são dezenas de milhares, talvez milhões -, não é só o banco que ganha dinheiro. É qualquer um de nós que decida entrar nesse negócio.

Você acusou os bancos de imoralidade por ‘empurrar’ linhas de crédito às pessoas.

Nesse ponto é verdade. Mas o que mais agride hoje meu sistema nervoso é o que fazem as redes de varejo no Brasil. É uma maluquice, quer dizer, uma maladrangem. Eles não mostram o preço à vista – e criam uma situação para parecer que ele é igual ao valor parcelado em 20 ou 30 vezes. Em qualquer lugar do mundo, preço à vista é diferente de preço a prazo. Logo no Brasil, com as taxas de juros que temos, o preço é o mesmo? O que se faz é embutir os juros no preço à vista e criar a impressão de que ele é igual à soma das parcelas. Estão sonegando do consumidor brasileiro a informação verdadeira e salutar, evitando que ele tome ciência do que significa abrir um crediário. No fundo, boa parte do varejo no Brasil é apenas um conjunto de financeiras disfarçadas.

Como analisa a atual turbulência dos mercados financeiros ao redor do mundo?

Há cerca de 10 anos, tivemos um aumento brutal da liquidez, que são ativos financeiros buscando oportunidades de retorno. O banco de investimentos americano J. P. Morgan estima que, de 2000 para cá, esses ativos aumentaram em US$ 3,9 trilhões. Houve também um enorme boom de crédito. Estamos vivendo uma bolha gigantesca, talvez monstruosa, de liquidez. As recentes agitações dos mercados financeiros mostram que talvez esteja chegando no limite esse processo descontrolado de oferta e expansão do crédito em escala global. Por trás disso, temos os Estados Unidos, que sugam poupança do mundo; e, por outro lado, dois grupos de países altamente poupadores – os asiáticos de alto crescimento e os produtores de petróleo. Assim, um setor está consumindo e despoupando, enquanto outro gera enormes massas de dinheiro buscando rentabilidade. Como há muito recurso perseguindo ativos (reservas de valor com liquidez, como imóveis ou ações), o valor disso vai subindo. Mas, quando aparecem problemas, como os que tivemos com hedge funds de bancos americanos, as pessoas ficam assustadas. Começam a achar que seus ativos podem passar a valer menos do que antes. Ao tentarem fugir para ativos mais seguros – os títulos do tesouro americano -, provocam grande nervosismo. O que ninguém sabe direito é se as tempestades em Wall Street irão derrubar a Main Street, que é a economia real.

A economia é uma conversa que nem todo o mundo entende. Ao mesmo tempo, sua boa gestão define a qualidade do futuro de uma família ou de um país. O economista é em geral uma pessoa frustrada pela impossibilidade de se fazer entender?

Todo ser humano é um economista intuitivo, porque precisa fazer escolhas. O papel do profissional da economia é dar instrumentos para as pessoas refletirem. Os grandes economistas do passado imaginavam que o progresso libertaria a humanidade da escravidão da economia. O avanço da tecnologia, das ciências e da produtividade criaria um mundo em que as pessoas precisariam pensar cada vez menos em temas econômicos. Mas um dos grandes paradoxos do mundo é que quanto mais se avança no processo de desenvolvimento, mais obcecadas as pessoas ficam com a economia. O sonho do médico é que o paciente possa esquecer da sua saúde. Quando tem de pensar demais nela, significa que alguma coisa está errada. Na economia parece que isso não vale. Quanto mais evoluímos, mais ela se torna um valor central na existência humana.

Por todas as crises que passamos, o brasileiro médio entende mais de economia do que, por exemplo, um francês?

Me espanta a freqüência com que se fala em dinheiro no Brasil. Só encontrei algum paralelo aqui na Rússia. São países encrencados. No caso brasileiro, a desigualdade é um agravante. Ela aumenta o valor social do dinheiro. Para os que o possuem, porque dá a eles um enorme poder. Para os que não o possuem, porque estes acabam superestimando seu valor na solução de problemas da vida. É uma sociedade desequilibrada.

DOMINGO, 12 DE AGOSTO

Giannetti no ‘Fantástico’

O economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca estréia hoje uma série de 10 episódios no Fantástico, da Globo. Com direção de Isa Ferraz (O Povo Brasileiro), o novo quadro baseia-se no livro O Valor do Amanhã, lançado por Eduardo Giannetti em 2005.

CONCEITO

‘A economia brasileira é mais parecida com uma selva do que com uma economia’

FUTURO

‘Consumimos a natureza de modo irreparável. É como vender a prata da família para jantar’

RAZÃO SOCIAL

‘Boa parte do varejo brasileiro é um conjunto de financeiras Disfarçadas’’

TELEVISÃO
Keila Jimenez

Órfãos de dubladores

‘Quando chegar nos cinemas por aqui, nos próximos dias, o famoso ‘Dãããp!’ de Homer Simpson não será mais o mesmo. A voz da mais hilária crítica ao pai de família americano mudou. Ou melhor, foi mudada. Sai o dublador Waldyr Sant’anna, voz do comedor de rosquinhas por 15 anos, entram Carlos Alberto, novo dublador, e uma legião de fãs ‘órfãos’ do timbre de Homer.

‘Entrei com um processo contra a Fox cobrando os meus direitos pela dublagem nos DVDs’, conta Waldyr. ‘Em represália, eles me tiraram o Homer. Cheguei a gravar as chamadas do filme.’

Brigas pelo pagamento dos direitos conexos, morte, guerra de preços de estúdios… Não faltam motivos para a troca de dubladores no mercado.Troca essa que é sempre um transtorno para o público, ainda mais em séries e desenhos populares.

‘Todos percebem a mudança. Há protestos na internet’, conta Waldyr. ‘Eu sou a voz do Homer desde sempre, ajudei a criar o jeitão dele’, fala o dublador que, por incrível que pareça, tem cara e pinta de Homer.

Jack Bauer também entrou numa fria. Dessa vez, nada de máfia chinesa, muito menos de ameaça terrorista. O agente de 24 horas foi parar na Justiça. Ou melhor, sua voz foi. Movendo também processo contra a Fox – que por sinal resolveu dublar tudo, para desespero de muitos – Tatá Guarnieri foi convidado a abandonar Bauer, que passou para o gogó de Márcio Simões.

Com Lost a confusão envolveu a rivalidade entre os estúdios do Rio e de São Paulo. Após duas temporadas dubladas por profissionais de São Paulo, a Disney mudou a dublagem da série para o Rio. O atrito: de novo o pagamento dos direitos de dublagem para a TV e DVD.

‘Os contratantes não pensam que dublagem, se bem feita, pode superar versões originais’, fala o representante de Comissão dos Dubladores do Sindicato dos Artistas, Ricardo Vasconcellos.

Isso é fato. Algumas produções são tão bem dubladas ou criam tanta identificação, que esquecemos que foram feitas originalmente em outro idioma. Ao ver a Sessão da Tarde, alguém se lembra que Jerry Lewis fala inglês?

Em 1995, o clássico Chaves pareceu se calar de vez, com a morte de seu dublador, Marcelo Gastaldi. Por conta disso, e de brigas com outros dubladores, episódios ganharam nova voz em DVD e no desenho, que estreou este ano no SBT. Apesar da eterna repetição no ar, para muitos, Chaves virou outro.’

***

Fagundes em espanhol

‘Empresa que dubla as novelas da Globo mantém a fidelidade com um banco de vozes

‘Antônio Fagundes terá a mesma voz em espanhol até a morte. Te dou minha palavra’. É assim, nesse estilo ‘la garantia soy yo’, que o homem que cuida das dublagens das novelas da Globo lá fora vende os seus serviços.

Antônio Coelho é um dos sócios Artsound, empresa responsável por boa parte da dublagem dos folhetins globais no mercado internacional.

‘O nosso forte é a dublagem em espanhol. Mas já fizemos algumas coisas em inglês’, conta o empresário, que atende aos interesses da Globo há nove anos. ‘Eles nos mandam o script editado, nós traduzimos para o espanhol e dublamos no México. Todas as nossas dublagens são feitas lá’, conta. ‘Para tanto, temos um banco de vozes, bonecos como chamamos. Então, todas as vezes que Vera Fischer estiver em uma novela, a mesma dubladora , o boneco de Vera, será chamada para dublá-la. Assim mantemos a fidelidade com o público.’

Com sede no Brasil, no México e em Miami, a Artsound ainda é responsável pelo armazenamento das cópias das novelas que a Globo comercializa no exterior. Um acervo que conta com mais de 70 mil fitas dubladas atualmente.

Coelho explica que as dublagens são feitas no México porque o espanhol de lá é bem aceito em todos os países de língua hispânica. ‘A Espanha aceita produtos em espanhol do México, que é considerado mais neutro, com menos acento. Já não aceita coisas feitas com o espanhol chileno ou boliviano’, explica.

Novelas vendidas para países com outras línguas, como a Rússia, são dubladas por empresas da região.

E dublar novelas é trabalho árduo. Costuma consumir mais tempo que a gravação da trama original. ‘Para cada 1 hora de novela levamos 32 horas de dublagem. Uma novela inteira demora 1 ano para ser dublada’, conta Coelho. ‘Há novelas que dão mais trabalho. Terra Nostra foi uma delas, mas também foi um sucesso internacional.’

Para agilizar, quando a Globo percebe que o folhetim será um sucesso começa a dublá-la antes mesmo de seu fim. Assim ganha tempo para comercializá-la logo para o exterior. Esse é o caminho seguido por Paraíso Tropical, ou melhor, El Paraíso Tropical.’

***

Olha quem está falando

‘Bruce Willis

Newton da Matta foi a voz do Duro de Matar desde a época em que ele era um rato na TV. Com a morte de Newton, Bruce, depois de 20 anos, ganhará nova voz.

Jack Bauer

Tatá Guarnieri teve de abandonar o agente de 24 horas após mover processo contra a Fox. Márcio Simões – a voz do policial Sucker nos cassetas – assumiu o posto.

Pica-pau

Os fãs garantem que o Pica-pau das antigas é melhor em tudo, até na dublagem. Entre os que assumiram a risadinha famosa estão Olney Cazarré e Garcia Junior.

Tartarugas Ninja

Sucesso do final dos anos 80, a série era considera um clássico da dublagem. Era, porque no cinema, as tartarugas passaram a falar mais grosso, incomodando os fãs.

Agente 86

Boa parte da dublagem perfeita de Bruno Neto acabou deteriorando por falha na preservação da série. Mario Tupinambá redublou o agente para os DVDs.

Shrek

O ogro verde ficou mais triste sem o seu dublador, Bussunda. Shrek 3 ganhou voz de Mauro Ramos, mas manteve o jeito casseta com seu ‘Fala sério.’’

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Guarujá ou Acapulco?

‘Chaves é brasileiro. Bom, pelo menos sua voz é. Há mais de 20 anos no ar no SBT, o enlatado mexicano nunca teve seu timbre original no ar por aqui.

Até as entrevistas de Roberto Bolaños – criador e intérprete de Chaves – o dono do SBT mandou dublar. O mais notório ‘Foi sem querer, querendo’ que o público brasileiro conhece é o dito por Marcelo Gastaldi por todos esses anos.

Essa é só uma peça das várias histórias sobre a dublagem da série.

Os primeiros episódios foram dublados no SBT mesmo, na correria, sem ordem cronológica de episódios, sem conhecimento do perfil dos personagens, nada. Para papéis menores que apareciam no roteiro, qualquer um que passasse no corredor na hora era chamado para dublar. Algumas piadas, sem sentido para os brasileiros, foram adaptadas pelos próprios dubladores.

Outra pérola: há um episódio em que os personagens vão para Acapulco, no México, mas em alguns trechos dizem estar no Guarujá. Na época da dublagem, Silvio Santos havia ordenado que uma certa novela mexicana comprada pelo SBT fosse dublada como se os personagens estivessem em São Paulo. A ordem se referia apenas àquela trama, mas alguém entendeu que se estendia a tudo e mudou a localização do episódio do Chaves. Resultado: ora os personagens estão em Acapulco, ora no Guarujá. E até hoje o episódio vai com esse roteiro nonsense.’

Etienne Jacintho

O ogro mais charmoso da TV

‘Desde a estréia dessa coluna, amigos me perguntam: ‘Quando você vai falar sobre House?’ Na verdade, a resistência vinha de um conceito básico do jornalismo, a imparcialidade. Pois confesso que me tornaria a sra. Gregory House agora mesmo e sem pensar duas vezes.

O mérito do ator Hugh Laurie é interpretar o papel de um médico ogro – que comete as maiores grosserias com pacientes e funcionários -, manco, mal-humorado, machista e nada galã, que ainda assim causa esse tipo de reação nas fãs. Juro que não sou a única!

É muito fácil encantar-se, por exemplo, por um dr. Doug Ross, o George Clooney, em E.R., ou por um dr. McDreamy, papel de Patrick Dempsey, em Grey’s Anatomy. Eles são galãs, galantes e românticos. Já House é o oposto, mas deliciosamente sarcástico e charmoso.

Além de conquistar fãs, o ranzinza House também abala suas colegas de trabalho, apesar de tratá-las mal. Allison Cameron (Jennifer Morrison) e Lisa Cuddy (Lisa Edelstein) sofrem. Quando Cameron demonstrou seu interesse por House, ele simplesmente acabou com a moça.

Nesta 3ª temporada, a diversão é acompanhar House lutando contra seus sentimentos. Em vez de declarar-se, ele só perturba Cuddy, destrói todas as possibilidades de relacionamentos que ela pode ter e ainda a desafia profissionalmente. Felizmente, o lance com Cuddy está substituindo à altura a tensão sexual entre House e sua ex-mulher Stacy (Sela Ward), que apimentou o ano passado. Afinal, diagnósticos complexos são bacanas, mas série sem romance não dá!’

Etienne Jacintho

‘Não conheço assédio’

‘Olivier Anquier é uma daquelas pessoas educadas demais. Ele chama os idosos de ‘pessoas antigas’ e afirma que seus fãs são ‘muito respeitosos’. Apesar da fama, Olivier diz não conhecer a palavra ‘assédio’ e admite que não conseguiria mais ficar longe da TV, quer dizer, da ‘televisão’.

Você sempre teve vontade de trabalhar na TV?

Não. O que aconteceu foi que Geraldo Rodrigues (do Forno, Fogão & Cia.) foi me buscar na minha primeira padaria. Já tinha feito modelo e manequim no mundo inteiro e recebi convites na França, nos EUA, na Itália e até na Espanha para fazer cinema, mas não sou ator. Não sei interpretar. E a televisão foi por acaso. Topei porque culinária é algo que domino bastante bem, tenho uma intimidade e não teria de interpretar.

É a carreira que você quer seguir?

É algo difícil de parar de fazer, porque já está fincado na minha proposta profissional, a não ser que eu tivesse uma rejeição que, obviamente, seria a minha desaparição do mundo da televisão, mas aparentemente isso não é exatamente o que está acontecendo. Isso me deixa feliz.

Há esse retorno do público?

Por justamente eu não ser um ator e por ser quem sou sem me travestir, minha maneira de comunicar cria um respeito grande. Uma palavra que não conheço e nem as conseqüências que ela pode trazer é o assédio – que, no meu entendimento, é uma postura agressiva. Há aproximação – seja de crianças, de mulheres, de homens, de jovens, de pessoas mais antigas, de ricos ou de gente simples, do meio urbano ou do rural – que cria uma relação respeitosa e agradável, que me enche de alegria.

Seu casamento com Déborah Bloch contribuiu para sua carreira?

Na TV não, porque fui independente das influências dela. Só trabalhei na Globo na Copa da França. Tinha adquirido a imagem do francês mais representativo no Brasil e, aí sim, o fato de ter sido casado com Débora Bloch foi importante. Meu trabalho na panificação teve visibilidade por causa da novela que nosso casamento gerou. Brasileiro é emocional e tinha aquilo de ‘a atriz que se casa com um padeiro’. Ela foi fundamental nessa visibilidade, mas para o desenvolvimento do meu trabalho não. Meu trabalho, eu capinei.

‘Hoje sou brasileiro’

Vinda ao Brasil: ‘Nasci em Paris, então sou de origem francesa, mas hoje sou brasileiro. Vim para cá por acaso no sentido de que nunca vim para cá para sair da França. Vim para passar um mês de férias em 1989, tinha 20 anos, e descobri um jeito de viver, um calor, uma generosidade e uma juventude que correspondia ao que desejava para mim.’

Gastronomia: ‘Acho que uma sociedade cresce quando aceita receber o que vem de outra sociedade. Da mesma forma que o Brasil contribuiu com a bossa nova no mundo inteiro, acredito que a presença de profissionais como Claude Troisgros fez história aqui. Também fiz esse papel de dar uma enobrecida a uma profissão, a um prazer, a um comportamento de vida, levantando a percepção de qualidade dentro de uma sociedade. Mas não fomos nós que fizemos, nós ajudamos e servimos de espelho para a geração nova como o Atalá (Alex Atala).’

Nacionalidade brasileira: ‘Me sinto brasileiro e você não pega uma nacionalidade à toa. É a minha maneira de enxergar este país e de repassar isso para a sociedade da qual faço parte.’

Carreira: ‘Comecei em 1996, na Record, e depois fui para a Globo, em 98. Aí peguei essas experiências para criar o Diário do Olivier. Fui para a Band em 2003 e, em 2005, voltei à Record.’’

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Terra Magazine

Veja

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