Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Estado de S. Paulo

MÍDIA & POLÍTICA
Vera Rosa

Lula se recusa a responder sobre Renan e critica pergunta do ‘Estado’

‘Com a absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pairando como uma sombra sobre sua viagem aos países nórdicos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recusou-se ontem a responder se o governo havia orientado a bancada do PT a inocentar o aliado. Ao lado do primeiro-ministro da Noruega, Jens Stoltenberg, Lula não escondeu a irritação com a pergunta, feita pela reportagem do Estado em nome de todos os jornalistas que acompanham a viagem, durante a conferência de imprensa.

‘Eu só lamento que na minha despedida eu tenha que falar do Brasil. Seria tão mais fácil um jornalista do Estadão lá no Brasil ligar para o presidente do PT e receber todas as informações…’, queixou-se o presidente, poucas horas antes de encerrar a visita de cinco dias à Finlândia, Suécia, Dinamarca e Noruega, numa referência ao deputado Ricardo Berzoini (SP).

Na pergunta, o Estado também indagou se o governo pressionaria Renan a se licenciar do cargo e mencionou a ameaça da oposição de segurar votações, como a que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

Assim que o nome de Renan foi citado, Lula mudou a fisionomia: adotou ar circunspecto, abriu os braços e balançou a cabeça, em sinal de contrariedade. ‘Quando eu chegar ao Brasil, na terça-feira, você me faça quantas perguntas quiser sobre o Renan, sobre o PT, que eu falarei com o maior carinho. Mas eu estou terminando uma viagem de uma semana, estou tão cansado quanto vocês e não é justo que esta viagem não tenha despertado nenhuma curiosidade no Estadão’, encerrou. Não houve direito a réplica.

Indagar a um presidente em viagem oficial sobre assuntos internos de seu país é praxe na imprensa internacional. Um exemplo ocorreu na visita do americano George W. Bush ao Brasil, em 9 de março. Em entrevista ao lado de Lula, no Hotel Hilton, em São Paulo, ele foi questionado por jornalistas americanos sobre um encontro que haveria no Iraque, com representantes do Irã e da Síria. Não só respondeu, como defendeu a posição americana para a ‘jovem democracia’.

GRILAGEM

Em relação aos noruegueses, Lula não foi ríspido. Um repórter de Oslo perguntou sobre problemas na compra de terras no Brasil, mas ele não saiu do sério. ‘Tenho obtido informação de gente lá do Brasil que está vendendo terra da União, em conluio com cartórios, e isso não vamos permitir’, disse. ‘A lei vale para o brasileiro e para o norueguês. Lei é lei e tem de ser respeitada.’

Lula também se esmerou nos comentários sobre etanol e afirmou não ter atrito com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, quando uma norueguesa quis saber como andava seu relacionamento com colegas de esquerda. Ao final da entrevista, quando já deixava a sede do governo, os jornalistas brasileiros ainda tentaram insistir na pergunta sobre Renan. ‘É importante, presidente!’, gritaram. ‘Chega, chega, chega, chega’, repetiu, saindo da sala.’

***

Jornal noticiou passo a passo a viagem à Europa

‘Ao contrário do que afirmou o presidente Lula, ao declarar que a sua viagem não despertou curiosidade no Estado, a cobertura sobre o giro pelos países nórdicos apareceu em dez páginas do jornal, entre segunda-feira e ontem. Duas equipes, com repórter e fotógrafo, seguiram seus passos e registraram os principais fatos. Na segunda-feira, para apresentar a viagem à Finlândia, Suécia, Dinamarca e Noruega, em página inteira, textos abordaram o papel de Lula como promotor dos biocombustíveis e um acordo da Petrobrás. Ao longo da semana, declarações sobre Renan Calheiros foram registradas, assim como a defesa do etanol, comentários sobre o efeito da crise global no País e o combate à inflação, um acordo para o fim de barreiras na Suécia e críticas às tarifas da União Européia, entre outros pontos.’

Moacir Assunção

Em protesto, internautas propõem até fim do Senado

‘Críticas aos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Aloizio Mercadante (PT-SP) – apontado como o responsável por arquitetar a absolvição do presidente do Senado -, ao PT e ao presidente Lula e até propostas de extinção do Senado e da Câmara são a tônica dos mais de 500 e-mails de leitores ao portal estadao.com.br, divididos entre o Fórum, o blog do jornalista Daniel Piza e comentários sobre reportagens, enviados desde quarta-feira, quando Renan salvou seu mandato.

O leitor Jorge Batalha descreve a reação da filha de 6 anos à notícia da absolvição: ‘Papai, quando crescer, quero ser política’. Ele respondeu que não deveria porque políticos ‘vendem a dignidade’. Em carta ao presidente do Senado, Batalha diz que ‘a voracidade com que vossa excelência se apegou ao cargo mais parece um marisco incrustado na pedra’.

Os leitores João Gonçalves Batistelli e Maria Angela Zacchi fizeram questão de pedir aos amigos que mandassem cartas de protesto aos senadores pela absolvição. ‘Precisamos de um Brasil mais justo para nossos filhos e netos’, justificam na correspondência, que traz os endereços eletrônicos dos parlamentares.

Luiz Geraldo Dias pede a extinção do Senado. Luiz Camargo faz uma crítica contundente a Mercadante. ‘ No voto aberto, Renan seria cassado, não foi porque vocês são da mesma laia, é uma pena, pois eu ,trouxa, acreditava em você.’ O leitor Corival Carmo questiona as escolhas do senador. ‘Para se reeleger, o senhor não precisaria se aliar ao Renan. O senhor poderia escolher entre ser um Eduardo Suplicy ou uma Ideli Salvatti e o senhor escolheu ser Ideli’, diz, em referência à senadora do PT catarinense.

Um leitor que se identifica apenas como Antônio Carlos ironiza a fala de Renan, que disse que iria rezar . ‘Reze por todos nós, senador! Porque, lamentavelmente, parece que não resta mais nada a se fazer neste País . A nossa classe política parece ter saído mesmo das profundezas do inferno! Precisamos exorcizar esses demônios que tomaram conta do Congresso ou estaremos todos condenados!’’

CHINA
O Estado de S. Paulo

Ex-colaborador do ‘NYT’ é solto depois de 3 anos

‘O jornalista chinês Zhao Yan (foto), preso em 2004 sob acusações de fraude e de divulgar segredos de Estado, foi solto na manhã local de hoje em Pequim. Zhao, ex-colaborador do ‘New York Times’, saiu da prisão sem fazer declarações, após cumprir a pena a que foi condenado por fraude (acusação que ele sempre negou). A Justiça rejeitou a outra acusação. Segundo os Repórteres Sem Fronteiras, a China mantém 35 jornalistas e 51 ‘ciberdissidentes’ na prisão ‘por exercerem o direito de informar’.’

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Marcelo Rubens Paiva

Saga

‘Recebi muitos e-mails de leitores pedindo informações sobre a minha saga em busca do tempo perdido com o suporte da Microsoft. Comprei um computador novo, um Dimension E520, com o Windows Vista Home Basic. Tentei pagar as contas do começo do mês. Mas o certificado digital não estava válido, informou o banco, pois o sistema operacional não fora ‘homologado’. A essa altura, eu descobria que periféricos ou seus drivers não eram reconhecidos pelo Windows Vista. Sem contar que não há corretor ortográfico em português no Windows Mail, o substituto do Outlook, cujo catálogo de endereços não dialoga com versões anteriores do Word.

Passei a semana dedicado ao problema, pendurado ao telefone, esperando uma saída. Sem contar a ida a bancos, manipulando contas e papel-moeda, atividade que eu achava extinta pelo mesmo meteoro que caiu em Yucatán no México e acabou com o Cretáceo.

O suporte do fabricante do computador me sugeriu pedir à Microsoft uma licença de downgrade – como o nome sugere, o oposto do upgrade -, já que há no problemas de compatibilidade comigo. Como algumas mulheres já me disseram. Uma solução simples. Eu pediria para voltar para o Windows XP. Seria como sugerir ao Ronaldo Fenômeno que, se ele quisesse jogar, deveria voltar para o São Cristóvão, time carioca que o revelou.

Na terça-feira, o suporte da Microsoft me deixou uma hora e meia esperando. Imaginei que a saga seria semelhante às travessuras praticadas por Amyr Klink. Na quarta, me atendeu em minutos. Então, meu mundo começou a girar, como num surto de labirintite.

Sim, claro, a Microsoft me daria licença para um downgrade, e ainda perguntaram se eu queria CD ou faria tudo pela internet. Me passaram para os especialistas. Por instantes, achei a empresa generosa e sábia. Entendi o seu sucesso. Até me perguntarem qual Windows Vista tinha vindo com o computador novo. O Home Basic, informei. ‘Ah… Infelizmente, não fazemos downgrade do Home Basic, só do empresarial.’ Silêncio constrangedor. Perguntei se era justo, aquele cara ricaço, o Bill Gates, que ganha em dólar, cara de gente boa, fazer isso com um escritor dos trópicos. E qual a solução para os meus problemas. ‘Desinstalar o Vista e instalar o XP.’ Sim, eu tenho um XP do meu computador antigo. Posso instalá-lo no novo? ‘Não, ele só é liberado para o antigo.’ Mas vocês podem liberá-lo para o novo, é cópia oficial, comprada, registrada e juramentada? ‘Não podemos, não é o procedimento.’ Silêncio. Outro. A solução seria comprar um outro XP, me sugeriu o atendente, que me passou para o departamento de vendas. Valor? R$ 450. Perguntei o que o Bill Gates faria com o dinheirinho suado de um escritor do Terceiro Mundo, a feira?

Lembrei-me do personagem Morsa, do livro Mãos de Cavalo (Daniel Galera), que ensinou propositalmente ordens de comandos trocadas para dois dobermanns (ou seria dois dobermenn?) Aos gritos de ‘pega, pega!’ e ‘morde!’, os cachorros recuavam, enfiavam o rabo amputado entre as pernas e sumiam pela casa. Aos gritos de ‘senta!’, ‘deita!’, ‘parado!’ ou ‘amigo!’, eles atacavam o primeiro à frente.

Voltei para o maior fabricante de computadores do mundo, cujos atendentes falam com um simpático sotaque gaúcho. Contei o meu problema e disse que eu queria devolver o computador. ‘Devoluções só nos sete primeiros dias.’ Mas descobri os problemas depois. ‘Não podemos fazer nada.’ Então, pedi para trocarem o meu computador. E sugeri que a empresa me enviasse disquetes do Windows XP. Não podem, pois eles não trabalham mais com o XP. Então, perguntei onde eu errei, pois era evidente que a culpa era minha. ‘O senhor deveria ter se informado antes da compra das compatibilidades do Windows Vista’, me disse em gauchês. Mas o que adiantaria, se vocês só trabalham com o Vista?

É. Eu deveria ter feito um genoma dos meus pais, antes de dar os primeiros passos. Eu deveria me certificar de que o mundo me entenderia, antes de nascer. Eu deveria ter certeza de que eu entenderia as mulheres, antes de começar a me apaixonar por algumas delas.

O que você faria? Encostar o computador novinho em folha e recuperar o velho?

No dia 7 de setembro, fui jurado com Marcelo Mirisola e Anselmo Bactéria de um concurso de poesia promovido pelo Espaço Parlapatões. Foram declamadas ao vivo no teatro, numa noite em que se abriu espaço para a camada mais desprestigiada (e no entanto mais próxima dos deuses) do caldo cultural contemporâneo. Revelou que a poesia está aqui, que há poetas de todos os gêneros e estilos em atividade: a dádiva não morreu. Ganhou Espantalho Descarado, de Marcelo Montenegro. A pontuação é minha. Por que votei nela? Por que será?

‘Ando assim, tipo um erro flácido ambulante, sem êxito, hesitante, disco riscado fora do catálogo no pó do instante. Ando assim oco, uma crosta, vodu cansado, que com a sorte nem mais dialoga – diamante. Ando assim, mais opaco que olímpico, esquivo, íntimo, insípido, um mastodonte pensando desamparado, aspirando a paralelepípedo. Assim assim, meio Buster Keaton, um tanto de lágrima hasteando o riso. Ando assim, raso, indiferente, me divertindo um bocado. Eu ando mijando no poste, porque o banheiro está sempre lotado.’

Na peça A Festa de Abigaiú, de Mike Leigh, em cartaz no Teatro Cultura Inglesa (direção Mauro Védia), casais vizinhos se encontram para bebericar e escutar Demis Roussos e Tom Jones, enquanto adolescentes dão uma festa punk na casa ao lado. O dilema é descobrir em qual casa a tensão é maior, naquela em que as neuroses são abafadas por uma opressora moral conservadora, cujos valores trabalho-casamento estabelecem princípios de felicidade, ou na que jovens extravasam dançando Sex Pistols e The Clash. Aliás, a arte de um grupo não é conseqüência do padrão do anterior (e para contestá-lo)?

Leigh cria um conflito baseado num realismo social extremo. Os diálogos rotineiros, formais, típicos de um encontro de pessoas comuns que mal se conhecem, são tão naturalistas, que se tornam surreais e cômicos. Rimos de quão banais somos. Como falar ao telefone com o suporte técnico de uma empresa.

Alguém se interessa por um Dimension E520 Core 2 Duo com Windows Vista Basic? É bonitinho. E pelo menos musiquinha toca.’

LÍNGUA PORTUGUESA
Fabiana Cimieri

Brasil protela unificação ortográfica

‘A unificação ortográfica dos dois países de língua portuguesa, que vem sendo protelada desde a assinatura de um acordo em 1991, ‘pode nunca entrar em vigor’. É o que admitiu ontem o presidente da Comissão de Definição da Política de Ensino, Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa (Colip), Godofredo de Oliveira Neto. ‘Não faz sentido começar um acordo de unificação já desunido’, disse ele, sobre o fato de que apenas três dos oito países da Comissão de Países de Língua Portuguesa (CPLP)ratificaram o documento.

Oliveira Neto se reuniu ontem com representantes dos Ministérios da Educação e das Relações Exteriores, lingüistas e gramáticos das principais universidades do País. Para o secretário de Educação Superior do MEC, Ronaldo Mota, que participou da reunião, a adesão de Portugal e Angola, o que ainda não ocorreu, é estratégica para a unificação ortográfica. ‘Favoreceria o intercâmbio cultural, educacional, didático e até econômico do Brasil com os países de língua portuguesa.’

De acordo com Mota, o MEC retomou as discussões para a implementação do acordo como parte da política externa do governo Lula de aumentar a área de atuação do Brasil no continente africano. ‘Não pode mais acontecer de doarmos livros didáticos para a Angola e eles serem queimados porque a ortografia é diferente’, disse.

A reforma ortográfica, que, entre outros itens, elimina o trema e os acentos diferenciais, já poderia ter entrado em vigor desde dezembro de 2006, quando São Tomé e Príncipe ratificou o documento. O acordo previa que, se fosse assinado por três países, já poderia ser implementado nesses lugares. O Brasil foi o primeiro a ratificá-lo, em abril de 2004, seguido de Cabo Verde e São Tomé. Além de Portugal e Angola, faltam ratificar Moçambique, Guiné Bissau e Timor Leste.

Para o professor e lingüista da Universidade de São Paulo (USP) José Luiz Fiorin, será difícil convencer Portugal a implementar o acordo em curto prazo. Intelectuais portugueses consideram a assinatura do acordo uma ‘brasilianização da ortografia’, já que haveria mais palavras portuguesas do que brasileiras modificadas, afirmou. No Brasil, estima-se que menos de 0,5% dos vocábulos seria alterado. Em Portugal, seriam quase 2%.

Na reunião, foi decidido que um documento será enviado aos ministérios, sugerindo que o assunto seja mais debatido internamente. Segundo Oliveira Neto, foi percebido um desconhecimento generalizado sobre o tema. ‘Sugerimos campanhas de divulgação, mas também queremos ouvir os intelectuais que criticam a unificação para saber até que ponto eles desconhecem o assunto ou se podem ter razão.’ O segundo item é identificar pontos favoráveis e contrários para cada país iniciar conversas diplomáticas com Portugal visando à implementação conjunta. Por fim, a comissão propõe que o Itamaraty tente convencer os outros países e, só então, implemente o acordo no Brasil.’

Francisco Seixas da Costa

Estamos de acordo!

‘Nos últimos meses, verifica-se que o tema do novo acordo ortográfico da língua portuguesa tem estado em grande evidência no espaço público brasileiro. Nessa abordagem, a posição de Portugal tem merecido algumas referências, em alguns casos com imprecisões que parece importante não deixar passar em claro.

Não interessa fazer aqui um historial do que foram as anteriores tentativas de unificação ortográfica nem elaborar um inventário de supostas culpas pelo seu limitado sucesso. A doutrina, nesse âmbito, divide-se muito. Assim, proponho que olhemos adiante.

A reiteração da vontade de caminhar para uma norma comum, bem como o surgimento de novos países de expressão portuguesa, conduziu, em 1990, à assinatura de um novo acordo ortográfico, o qual deveria ter entrado em vigor, para todos os então sete subscritores, em 1994. Portugal ratificou esse acordo logo, em 1991.

Dois protocolos modificativos foram, entretanto, assinados. Um primeiro, em 1998, eliminando a data de 1994 como limite para a entrada em vigor do acordo, por se constatar a inexistência de ratificações suficientes até então. Um segundo, consagrando a entrada de Timor Leste e prevendo que o texto do acordo pudesse entrar em vigor desde que três países tivessem depositado entretanto os instrumentos de ratificação.

Em finais de 2006, verificou-se que Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe haviam ratificado esse segundo protocolo, pelo que é entendido que o acordo pode entrar em vigor. Algumas vozes consideram que, não obstante esses requisitos formais estarem preenchidos, seria importante que Portugal estivesse associado, desde o início, à entrada em vigor do novo acordo.

Convém fazer aqui um parêntesis para sublinhar que, pela aplicação do acordo, 1,6% do vocabulário usado em Portugal (e nos restantes países que seguem a norma portuguesa) deverá sofrer adaptações. No Brasil, essas mudanças abrangem apenas 0,5% das palavras. Mesmo assim, tem vindo a ser anunciado que o Brasil prevê a necessidade de um período de transição para a plena aplicação do acordo, de forma a permitir aos seus agentes editoriais fasearem os impactos das mudanças, em especial nos dicionários e livros escolares.

Gostaria de deixar bem claro que Portugal defende, como sempre defendeu, a importância de se caminhar num processo de harmonização ortográfica, em especial pela dimensão estratégica desse passo na capacidade de afirmação da língua portuguesa no mundo. Noto que, pela parte portuguesa, o acordo poderia ter entrado em vigor em 1994, o que não aconteceu por razões a que Portugal foi então alheio. A circunstância de tal não ter ocorrido acabou por suscitar no meu país uma reflexão mais amadurecida sobre os efeitos, em especial editoriais, das mudanças que o acordo implicaria. O governo português não pode deixar de ser sensível a esse debate, tanto mais que as alterações que atingiriam a norma de Portugal são bem mais significativas que no Brasil. É do saldo final dessa reflexão, a qual deverá atentar nos períodos de vigência dos manuais escolares, que vai depender a definição da posição portuguesa, que também tem de passar pelo necessário período de adaptação, antes da vinculação definitiva a uma futura norma comum.

Nas relações luso-brasileiras, parece por vezes existir um tropismo no sentido da dramatização das pequenas dissonâncias, como se o entendimento mútuo tivesse ciclicamente de passar por renovadas provas. A questão do acordo ortográfico parece ser um desses temas, como se uns anos a mais ou a menos na conclusão trouxessem algum mal ao mundo, que viveu sem ele até agora. O leitor ajuizará sobre se estaremos assim tão distantes: este artigo foi escrito sem recurso a nenhuma palavra que necessite de harmonização ortográfica. Esta é a melhor prova de que, afinal, e no essencial, estamos de acordo! * Embaixador de Portugal no Brasil’

SP SEM PUBLICIDADE
Humberto Maia Junior

Cidade Limpa faz 1 ano e Kassab fala em volta de publicidade

‘Prefeito mandará à Câmara projeto que permite pôr anúncios em novos abrigos de ônibus e relógios de rua

No dia em que a Lei Cidade Limpa, que proibiu a publicidade em São Paulo, completou um ano, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) anunciou a volta da propaganda. Ele disse ontem que vai enviar nos próximos dias à Câmara projeto de lei que dá permissão à Prefeitura de ceder a empresas privadas o direito de exploração publicitária de mobiliários urbanos como lixeiras, abrigos de ônibus e relógios. O prefeito sempre negou que iria esperar a Cidade Limpa estar concluída para lançar a licitação do mobiliário urbano.

Kassab, porém, não fixou um prazo. ‘Pode sair nos próximos dias. A cidade está preparada e (a cessão do direito de exploração) pode gerar uma receita importante para São Paulo’, disse, sem citar valores.

Mas, para Regina Monteiro, diretora da Empresa Municipal de Urbanização (Emurb) e presidente da Comissão de Proteção da Paisagem Urbana (CPPU) – que analisa a aplicação da lei -, a cidade pode não estar pronta para esse passo. Segundo Regina, há muitos interesses em jogo e ‘muita gente ferida’. Para ela, isso poderia inviabilizar o processo. ‘Não acho que o momento político seja adequado. Ainda é muito prematuro, falta muita coisa e podemos perder a chance de fazer o processo de forma bem feita.’

Com ‘gente ferida’ a diretora da Emurb refere-se aos empresários que, segundo ela, ainda estão ressentidos com as mudanças provocadas pela lei e iriam tentar inviabilizar o processo licitatório. ‘São pessoas que não entenderam o espírito, acham que a Prefeitura teve más intenções com a lei’, explicou. ‘Quando montarmos a licitação, vão questionar tudo, interpretar de forma errada, como se quiséssemos beneficiar um determinado grupo. Enfim, vão tentar achar pêlo em ovo.’

A diretora da Emurb disse que estão concluídos os estudos sobre a exploração da publicidade. Quem vai decidir é o prefeito. ‘O estudo abrangeu várias opções que serão apresentadas ao Executivo.’ O que é certo, segundo Regina, é que as licitações para a exploração de cada mobiliário urbano serão separadas. ‘Não vamos fazer um pacotão, envolvendo relógios e mobiliários urbanos, por exemplo.’

O objetivo de não dividir a cidade em lotes é evitar que uma área seja bem atendida por uma empresa, e outra, não. ‘E se um lote vinga e os outros não? Se não vingar nenhum, a Prefeitura pode assumir o serviço.’ Regina informou que os contratos deverão ser de curta duração. ‘Não acho que seria bom um contrato de 20 anos. Defendo cinco anos de vigência.’

Atualmente, existem em São Paulo 350 relógios e 1.250 abrigos de ônibus. O primeiro número é suficiente e não deve aumentar, disse a diretora da Emurb. A quantidade de abrigos, porém, é insuficiente. Os que existem estão concentrados na região do centro expandido, excluída a área da Subprefeitura da Lapa, na zona oeste.

A exploração de outros mobiliários, como lixeiras, bancos de praças, suportes de árvores ou banheiros será analisada numa segunda etapa. ‘Vamos começar com os relógios e os abrigos, que são modelos conhecidos e que provaram sua eficácia.Os outros dependem de análise.’

REFÉM

Para o vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-SP), arquiteto Lúcio Gomes Machado, a proposta de centralizar a exploração da publicidade de cada mobiliário por uma única empresa é um erro. O correto, segundo ele, seria dividir São Paulo em várias zonas e dar cada uma delas a uma empresa diferente. ‘A cidade não pode ficar refém.’

Machado, que é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, também propõe que a Prefeitura realize um concurso público antes da licitação para escolher o melhor projeto de construção do mobiliário urbano. As patentes dos projetos iriam para o poder público. A empresa que vencesse a licitação para a exploração da publicidade nesses locais seria obrigada a cumprir o projeto.

Para o arquiteto, deixar o projeto por conta da empresa dificultaria a troca por outra empresa. ‘No caso de mudanças, não poderia tirar (o mobiliário) porque a patente seria dela (empresa). Da maneira como propomos, a Prefeitura teria maior controle do processo.’ Segundo ele, o modelo de terceirizar a publicidade nos mobiliários funciona e não resulta na volta da poluição visual. ‘Paris só tem publicidade nos pontos de ônibus, lixeiras, banheiros públicos e não há poluição visual.’’

TELEVISÃO
Keila Jimenez

Crise aérea às 7

‘Em meio à crise aérea que enfrenta o País, a Globo terá em sua próxima novela das 7, Beleza Pura, um megaacidente aéreo. A aeronave do folhetim será alvo de uma sabotagem e acabará caindo, matando todos os seus passageiros. Entre eles estará a mãe de Joana (Regiane Alves), protagonista da história. Edson Celulari viverá um engenheiro que poderá ser culpado pelo acidente.

Oportunismo ou não, o acidente da novela vem de encontro com as tragédias aéreas da vida real, apesar de se tratar de uma sabotagem. Vale lembrar que, semanas antes do lançamento de O Clone, que abordava a cultura muçulmana, o mundo assistiu aos ataques terroristas de 11 de Setembro. Mas aí, foi pura coincidência – o tema da já estava traçado.

Beleza Pura marca a estréia-solo da autora Andrea Maltarolli e será ambientada no Rio. O início das gravações está marcado para outubro e a trama estréia em fevereiro. No elenco estão Carolina Ferraz, Leopoldo Pacheco, Dira Paes, Rodrigo Veronese, Kadu Moliterno, Gustavo Leão, Helena Fernandes, Marcelo Faria, Marcos Palmeira. Christiane Torloni fará uma participação especial.

Gordo e sua oncinha

João Gordo também sabe ser ‘fofinho’ com os animais. O VJ mostrou todo seu carinho com uma oncinha em passagem pela África do Sul. O resultado do safári vai ao ar no Gordo Viaja, programa gravado em câmera de celular, segunda-feira, na MTV.

Entre-linhas

A Record rufa tambores para anunciar que o Hoje em Dia alcançou o primeiro lugar em audiência ontem. Na faixa das 8h39 às 12 h, a emissora registrou 7 pontos de média, ante 6 pontos alcançados por Globo e SBT no horário.

O humorista Evandro, que faz o Cristian Pior no Pânico, aparece discretamente como executivo em um comercial da Caixa Econômica, atualmente no ar. A ação foi gravada antes de o moço emplacar na TV.

Paulo Betti entra em Sete Pecados na próxima quarta-feira. Será o pai de Beatriz (Priscila Fantin), que havia desaparecido em uma expedição.

O canal pago Sony exibe na terça-feira o final da 1.ª temporada de The Boondoocks.

A Cultura grava neste fim de semana novas vinhetas para a programação infantil, com 150 crianças. São filhos, sobrinhos e netos de funcionários, entre 3 e 12 anos, que circularão entre os estúdios.

O SporTV atribui à boa digestão do Pan o fato de ter alcançado 70% de audiência a mais que os demais canais esportivos pagos em agosto.

Há 11 anos na Rede Mulher, Allan Espejo comanda o último Mestre Cuca no dia 26, véspera da inauguração da Record News, que ocupará o espaço da emissora. E avisa que enquanto negocia com outros canais, mantém no site mestrecucatv.com.br seus novos programas e receitas.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Agência Carta Maior

Veja

Terra Magazine

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