As revistas Veja e IstoÉ já trouxeram reportagens de capa sobre o filme Lula, o Filho do Brasil, de Fábio Barreto. O crítico de cinema Luís Zanin postou em seu blog comentários sobre o filme e o antropólogo Roberto Da Matta também escreveu sobre este em sua coluna. De acordo com o historiador Alcides Freire Ramos, a opinião dos autores e a crítica sobre uma obra fílmica produz uma gama de significações que deve ser levada em consideração por ter grande influência sobre a recepção do público. Vejamos como alguns segmentos da mídia e os autores interpretaram o filme.
Tanto em Veja como IstoÉ, a principal tônica é a de que o filme tem por objetivo beneficiar, na campanha presidencial de 2010, o sucessor escolhido por Lula, Dilma Rousseff. Em Veja, edição 2140 de 22/11, a reportagem traz uma lista de empresas com investimentos do governo e que foram doadoras para o projeto de 16 milhões da LC Barreto, empresa produtora do filme e da propriedade do veterano Luís Carlos Barreto. Esteticamente, o filme é caracterizado como medíocre, ponto de vista que passa ao largo do crítico Luís Zanin e é comparado ao martírio de Cristo como forma de reforçar a tese da mitificação de Lula. Mitificação em vida que parece ser consensual, como negativa, entre os intelectuais entrevistados pelas duas revistas semanais e também nas colunas de Diogo Mainardi (também de Veja e opositor inveterado do presidente) e de Roberto Da Matta (O Globo) que traçam paralelos entre a figura presidente Lula e a forma como líderes totalitários do século 20 construíram suas imagens.
Sem pretensão propagandística
Já IstoÉ, edição 2083 de 14/10, traz detalhes da produção, entrevistas com figurantes do filme e pessoas que fizeram parte da história de Lula e da formação do PT. É colocado em dúvida se a película atingirá seu objetivo eleitoral, tendo em vista que Dilma Rousseff é encarada como uma desconhecida incapaz de reter o voto dos eleitores que votariam em Lula. Dona Lindu, mãe de Lula, que morreu em 1980 é vista como um dos personagens principais ‘de que barro Lula foi feito’, como afirma a autora da biografia que deu origem ao filme, Denise Paraná. O diretor Bruno Barreto também é entrevistado e diz que sem o ator mineiro, Ricardo Diaz, que aspirava a um papel de enfermeiro, não haveria filme. Também é frisado que o filme não se utilizou dos incentivos públicos e da Lei Rouanet, mas de particulares. É acrescentado em Veja que o ministro Franklin Martins foi bastante atuante na captação de recursos. Outra informação comum aos dois semanários é que a obra omite episódios polêmicos da vida de Lula, focalizando a figura ímpar cuja história constitui por si só um roteiro de cinema.
O crítico Luís Zanin (O Estado de S. Paulo), antes de assistir ao filme já estava ciente de que este teria de ser medido não apenas por sua qualidade cinematográfica como também por sua repercussão política. Na opinião do crítico, a ênfase no melodrama exagerado tornou os personagens unidimensionais o bastante para serem desumanizados. A interpretação de Glória Pires, para dona Lindu, é um ponto alto que salva alguns diálogos fracos e impede que a obra descarrilhe para o desastre, sendo composta de bons e maus momentos, um filme irregular. Bem aplaudido, é verdade, mas não tanto quanto a cúpula petista esperava, ao final da exibição. Uma exibição que gerou uma expectativa como nunca havia se visto no cinema nacional.
O diretor Bruno Barreto, em entrevista coletiva, afirma ter se preparado para este filme o bastante para se considerar hoje a pessoa que mais entende de sindicalismo no Brasil. Afirma que o tom melodramático foi, de fato, uma opção e que se a partir daí o filme gerar alguma reflexão será bem-vinda. Seu pai, Luís Carlos Barreto, afirma que a obra não tem nenhuma pretensão propagandística e que não cederá nenhum fotograma sequer para a campanha. Seja como for, vem bem a calhar esta produção em ano véspera de eleição, um filme que já vinha sendo planejado desde 2003.
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Professor de História, Ponta Grossa, PR