O governo resolveu antecipar o pagamento de juros ao FMI. Pagou promissórias que estavam por vencer. Em entrevista ao ‘Caderno B’ do Jornal do Brasil, de que participaram, entre outros, Dermeval Netto, meu colega de trabalho, que lidera uma equipe responsável por programas criativos de televisão na Universidade Estácio de Sá, e Ziraldo, autor da biografia de muitos de nós com O menino Maluquinho, Fernando Barbosa Lima fez um diagnóstico certeiro e fatal: ‘Faltam a ele [o presidente Lula] pessoas criativas’.
E sugeriu o seguinte: ‘Por que [o governo Lula] não faz um anúncio de uma página, com o título ‘Adeus, FMI’, e a fotografia do cheque que quitou a dívida?’.
Esperançoso, pensei: ‘Algum assessor lê o JB hoje [domingo, 8/1], segunda-feira em todos os jornais veremos um anúncio de página inteira: ‘Adeus, FMI’, com a fotografia do cheque’.
Aprendi na leitura de um soneto de Olavo Bilac com título em latim – ‘Benedicite’ (bendizei) – que o descobridor da esperança é ainda mais bendito do que o agricultor, o ferreiro, o arquiteto, o músico e Santos Dumont:
‘Mas bendito entre os mais o que no dó profundo,/ Descobriu a Esperança, a divina mentira,/ Dando ao homem o dom de suportar o mundo!’.
Suportar o mundo é difícil, mas duro de verdade é suportar o Brasil, onde vivemos.
Nós dizemos ‘o Brasil’, mas o presidente Lula, que só dizia ‘esse país’, agora diz ‘este país’. Aproximou-se um pouco. Como ensina a gramática de Celso Luft, ‘esse, essa, isso’ fazem ‘referência ao que está afastado da pessoa que fala’ e ‘este, esta, isto’ aludem ao que está perto da pessoa que fala. Homem de letras que sou, concluo que o presidente Lula aproximou-se do país do qual não ousa dizer o nome e em breve desembarcará no Brasil!
Oba! Estou torcendo por esse dia! ‘Esse dia’? Por que não ‘este dia’? Saibam que vacilei entre ‘este’, ‘esse’ e ‘aquele’, mas desisti de ‘aquele’ porque Luft ensina que ‘aquele, aquela, aquilo’ são referências ao que está afastado da pessoa que fala ou daquela com quem falamos’. Lula, Brasil, todos perto de nós!
Sabia, não sabia, saberá?
Passado o susto da entrevista do presidente Lula a Pedro Bial – uma vez só não discordei do Pedro Bial, em mesa de debates que dividimos no interior de São Paulo, por concordar em tudo com ele, mas meus amigos proclamaram que foi por medo de ser arranhado pelas unhas farpadas das fãs do Garfield da TV Globo – e lida a entrevista do Fernando Barbosa Lima, faço duas perguntas aos leitores.
A primeira é: por que o governo privilegiou o FMI em detrimento dos credores brasileiros?
Para que pobres professores federais desistissem de acioná-lo na Justiça, o governo propôs certa vez que recebessem 10% do valor arbitrado, em não sei quantas prestações semestrais. Um advogado meu amigo, que eu gostaria de ver no STF, porque é bom jurista, o Elicio de Cresci Sobrinho (não adianta, me explicaram que o STF agora é dos políticos também; então, nem sei se Tarso Genro irá, pois é mais intelectual do que político) aconselhou: ‘É melhor aceitar o ‘acordo’; a Justiça demora e quando sair a sentença final, irrecorrível, os credores não estarão mais aqui’. E assim, de seis em seis meses, a Caixa Econômica Federal lhes credita algumas merrecas.
A segunda é: vocês não acham que o presidente Lula está precisando de um tratamento? Psicólogos, socorrei-me para designar o estado em que a pessoa sabia de tudo quando candidato, não sabe de nada desde que foi empossado presidente, saberá de tudo de novo nas próximas eleições e, caso seja eleito de novo, não saberá de nada outra vez.
PS: Da minha querida amiga e escritora às veras, Ana Miranda, na Caros Amigos:
‘Um escritor de 50 anos é um menino, aos 60 começa a amadurecer, amadurece aos 70, aos 80 atinge a plenitude’.
A romancista ficou avó, só pode ser por merecimento, não por antigüidade, pois também é uma menina.
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Escritor, doutor em Letras pela USP e professor da Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro), onde dirige o Curso de Comunicação Social