Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O futebol esfacelado pelo poder

O Brasil inteiro sabe da relação entre CBF e  TV Globo. Mesmo nas rodas de boteco, onde se discute sobre tudo, as pessoas conservam as mesmas opiniões sobre Teixeira, Marin, Havelange e Del Nero. É tudo farinha do mesmo saco. E diria mais: farinha mofada pelo tempo e pela sujidade que esconde sob si. Mas neste país não basta as pessoas saberem. O crédito das informações ainda depende da cobertura midiática. Parece que de uma só vez os brasileiros foram apresentados aos homens que dirigem o nosso futebol. É como se até aqui a CBF fosse administrada por senhores de reputação ilibada. Não é o caso.

Enquanto Ricardo Teixeira se comporta como deus, comanda a CBF, da Suíça, e se diz o grande presidente da história da entidade, o futebol naufraga nas mãos de seus sectários. Aliás, conceituar Marin e Del Nero como sectários é exagero. Eles são verdadeiras marionetes nas mãos do Teixeira. Mas mesmo sendo marionetes – repilo se há aqui uma simbologia de inocência – o atual presidente e o vice da CBF são qualquer coisa menos inocentes. Não é de hoje que o futebol se tornou uma caixinha de dinheiro, e não de surpresas.

O presidente da Fifa se disse envergonhado pela entidade. Ora, o principal artífice da corrupção no futebol é o Joseph Blatter. Não adianta discursar, rebater as acusações ou passar por cima das investigações. Se a polícia americana entrou nesta jogada para limpar o futebol – com aquele espírito que somente os americanos têm de querer esclarecer tudo – não vai sobrar pedra sobre pedra. E na edição de 27/05 do Jornal Nacional houve antecipadamente uma explicação da emissora. A TV Globo se condoeu, mas em discurso sempre demagógico, apoiou as investigações.

O manto da hipocrisia

Acontece que as coisas não são tão simples assim. Durante a gestão de Ricardo Teixeira, a seleção brasileira se transformou na camarinha da TV Globo: repórter em avião, repórter exclusivo em treino, apresentador em concentração, enfim. O Estado de S. Paulo publicou recentemente uma matéria sobre acordos de escalação pré-estabelecidos com as estrelas do time canarinho. Os referidos contratos são de causar asco a qualquer futebolista que acredite na idoneidade do treinador, comissão técnica e dirigentes.

Aqueles acordos publicados no Estadão são fichinhas perto do escândalo revelado ontem pelas polícias suíça e americana. Vejam os senhores e senhoras que um dos acordos diz respeito a contratos de marketing da Copa do Brasil, em que, segundo o processo, José Maria Marin receberia 15 milhões de reais, divididos em três parcelas. A Copa do Brasil, como nós todos sabemos, é aquele campeonato onde grandes e pequenos clubes disputam partidas eliminatórias entre si. É onde aparecem equipes pobres do futebol brasileiro com uma canequinha na mão. E Marin enchendo as burras.

Bons jornalistas perderam seus empregos na luta contra Teixeira; o futebol brasileiro perdeu uma coisa essencial, que é a credibilidade; os jogadores da seleção não mais vestem um manto glorioso como é a amarelinha; eles vestem, sim, o manto da hipocrisia porque são avessos ao nacionalismo de outrora. A preocupação deles é embolsar os salários astronômicos e conservar a fama, independente de estarem jogando ou não. Estão esfacelando o futebol pouco a pouco. Já não resta nada além da paixão do torcedor que é desrespeitado e obrigado a assistir, por exemplo, um jogo às nove horas da noite, numa quarta-feira. O dinheiro, em vez de fortalecer e engrandecer nosso esporte, está destruindo-o pela raiz.

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Mailson Ramos é relações públicas