Numa redação de jornal em Porto Alegre. Um foca ofegante adentra na sala do redator-chefe. O jovem jornalista está mais assustado que cachorro em canoa.
Foca Ofegante: ‘Chefe, a casa caiu! O povo nas ruas só fala em impeachment!’
O redator-chefe, com uma cuia na mão, leva a bomba à boca e suga profundamente o chimarrão. Em seguida, calmo que nem água de poço, fala:
‘Que povo mal informado, tchê! Já faz quase duas décadas que o Collor foi impeachmentado, até já voltou como senador. E, se duvidar, chega novamente à presidência da República. Bah! Mas que povo atrasado, piá!’
Foca Ofegante: ‘Chefe, não é do impeachment do Collor que estão falando!’
Redator-Chefe: ‘E de quem mais poderia ser?’
Foca Ofegante: ‘O povo, chefe, está falando do pedido de impeachment dela! Entendeu? Dela…’
Redator-Chefe: ‘Seja mais claro, piá! Não estou entendendo bulhufas!’
Foca Ofegante: ‘Tá bem, chefe, vou ser sincero como a vaca pro touro. O povo, chefe, está falando do pedido de impeachment da governadora! Pronto, acho que agora o senhor entendeu.’
‘Vá devagar, faça rodeios’
O redator-chefe fica, por um momento, de boca aberta que nem burro que comeu urtiga. Súbito, salta da cadeira, mais ligeiro que enterro de pobre, e larga um berro mais forte que peido de burro atolado. O foca se assusta e cai de costas. O redator-chefe corre pela sala mais nervoso que gato em dia de faxina, porém feliz como prostituta em dia de pagamento de quartel!
Redator-Chefe: ‘Por que você não falou logo, seu destrambelhado?! Então, é isso?! Quer dizer que, finalmente, pediram o impeachment da governadora Ana Júlia Carepa?’
O foca, ainda no chão, pega o celular e liga para o deputado que o encarregou de dar a notícia ao seu chefe.
Foca Ofegante: ‘Deputado, acho bom o senhor dar uma chegadinha aqui na redação…’
Deputado: ‘O que está havendo? Você já deu a notícia pro seu chefe?’
Foca Ofegante: ‘Dei umas dicas, deputado, mas estou com medo de abrir totalmente o jogo e contar tudo. Isso pode provocar um infarto no homem.’
Deputado: ‘Vá devagar. Faça rodeios e, quando sentir que vai causar o menor impacto possível, conte pra ele que a Assembleia acatou o pedido de impeachment da Yeda.’
Mais duro que salame de colônia
Foca Ofegante: ‘Eu já comecei, fui quase direto ao assunto, com muito cuidado, mas o homem tá mais por fora que arco de barril.’
Deputado: ‘Faça como achar melhor, mas tenha cuidado, seja sutil como gato que vai pegar passarinho.’
O foca desliga o celular, observa que o chefe agora também está desligado, absorto em pensamentos, recostado naquela cadeira enfeitada como bidê de china. Provavelmente está bolando uma manchete mais bonita que laranja de amostra.
Foca Ofegante: ‘Chefe, eu sei que o senhor tem razão de estar mais por fora que surdo em bingo, pois viajou muito nos últimos tempos. Ficou umas três semanas em Não-Me-Toque…’
Redator-Chefe: ‘Eu, por fora?! Nada disso, piá! Enquanto estive por lá, toda semana eu lia o Boletim da Associação dos Suinocultores.’
Foca Ofegante: ‘Chefe, o que estou querendo dizer é que… Bom, eu sei que, para o senhor, isso vai ser mais difícil que nadar de poncho, portanto precisa ser mais forte que sapato de padre!’
Redator-Chefe: ‘Vai logo, piá, desembucha! O que é que você ainda tem pra me contar?’
Foca Ofegante: ‘Chefe…’ O foca pigarreia, olha pros lados, respira fundo e finalmente solta a bomba: ‘Chefe, o gato subiu no telhado!’
O redator-chefe leva a mão ao peito e escancara a boca. Porém o grito fica preso na garganta, e o homem desaba no chão. Bá!
Mais duro que salame de colônia!
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Escritor, Rio de Janeiro, RJ