Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O hipócrita virtuoso

Alberto Dines desconversa a realidade alegando que quiseram inventar um ditadurômetro (ver aqui). Parece que neste mundo tudo é branco ou tudo é preto e que, na verdade, não existe uma escala muito ampla que vai de um ao outro. Que os países estão realmente divididos entre apenas democratas e ditaduras, e que terroristas de igual modo estão assim separados. Entre os terroristas do bem e os terroristas do mal. Não se chega à verdade escondendo a mentira.

‘Se a imprensa e a academia estão efetivamente interessadas em manter e aperfeiçoar o regime político previsto na Constituição é indispensável libertar-se dos disfarces, das atenuações e apegar-se aos valores absolutos. Este é o único radicalismo aceitável.

O pacifismo é incondicional ou é hipócrita.

A democracia é integral ou é uma farsa.

O Estado de Direito só existe em Estados rigorosamente laicos’, encerra o texto Dines.

Democracia é um ideal e não uma fórmula matemática que se possa estabelecer uma verdade apenas. É sempre um jogo de mais ou menos. Sempre terá que ser medida do democraciômetro. A maioria tem o direito de suprimir direitos da minoria? E em que grau? Existe democracia realmente ideal?

Terrorismo existe graduação. Ditadura não? O PTB histórico do ditador Getúlio Vargas não cultua o seu passado? O Partido dos Trabalhadores é saudoso da revolução soviética, da revolução maoísta, da figura sanguinária de Che Guevara, da história terrível deste credo no século 20. Como que não existe graduação? Acham que todos são bobos como o povo que iludem cobrando indenizações indevidas?

Democracia é injusta e lesiva

A tese alegada seria de que crimes são todos iguais e, portanto, todos merecem a mesma pena. Tudo contrário à idéia de justiça de qualquer código. Mas na verdade existe a atenuação ao atribuir aos terroristas da época do regime militar uma intenção que nunca tiveram. Nunca foram inspirados por estes valores democráticos apontados por Dines, como não são até hoje. Mas forma inspirados e financiados pelas ditaduras de socialistas da época, de terrível lembrança. A hipocrisia alegada para Comparato e Benevides está presente no nosso presidente, no seu ministério, no nosso governo e sua política exterior e o seu comportamento para com a ditabranda de Chávez, de Fidel Castro e o irmão carniceiro, para Evo Morales, para Cesare Battisti, para os assassinos do tenente da PM morto por Lamarca. Os que tolheram a vida do major alemão. Os assaltos a bancos, bombas explodidas, atacar quartéis, seqüestrar embaixadores, matar autoridades para impor a insanidade totalitária socialista. Tortura é crime inafiançável contra a humanidade e ditadura socialista é permissível?

É evidente que a ditadura terá maior ou menor grau de dureza, assim como o terrorismo. Explodir um prédio vazio é muito diferente do que explodir um trem com centenas de passageiros. Para os narcotraficantes, assaltantes de bancos, aloprados, mensaleiros, políticos corruptos a nossa democracia é a ideal. Para o cidadão é na verdade injusta e trata os malfeitores com direitos suprimidos da cidadania em geral. Para estudantes de escola pública ela é lesiva, para negros só com cotas para se equipararem aos direitos da classe média.

A conversa fiada da esquerda

Exemplo típico desta hipocrisia relativista é o jornalista Celso Lungaretti que freqüenta estas páginas dando total apoio à ditadura e às relações amistosas e incestuosas com Cuba pelo seu silêncio. Um guri de arma na mão em 68 querendo salvar a humanidade dos seus direitos. E declara que não apóia ditaduras hoje na maior cara de pau. A não ser, confessa despudoradamente, que a internacional. A trotskista. (Assim como uma islamização ou cristianização mundial a força, por enquanto apenas na moita). O terrorista Cesare Battisti, medido no terrorômetro de Lungaretti, alegado ser do bem, no fascismo certo, do fascismo santo, o assassino virtuoso. O assassino cara de pau que diz que não é cruel. Estava apenas, diz Lungaretti pela sua bandeira de luta, aprimorando os métodos da democracia italiana que ele conhece bem. (Apenas em Cuba espera submeter a uma análise mais apurada no microscópio). Por enquanto da ditadura de Cuba fica no limbo como sendo ditabranda aceitável. Para estes existe sim uma medida de terror, uma relatividade, totalmente permitido e validado. Matar milhares e manter ainda assim a ditadura, marchar para o fascismo do século 21 é democracia. Lutar contra isto não tem valor, não tem perdão, não pode ser relativizado, diz Dines. Apenas deve se deixar os terroristas como tentaram nos anos 60 e 70 deitarem e rolarem sem defesa eficaz. Aí, sim, é permitido. Deixar o mal abater os justos sem defesa e sem reação. Apoiar o Hamas contra a democracia de Israel é válido, mas não pode a democracia se defender eficazmente. Na Tchetchênia, no Sudão, na Somália não interessa. Apenas onde existe o capitalismo que deve existir liberdade para matar os governantes.

Lungaretti se omite pela ditadura em Cuba por 50 anos, pois ainda não sabe bem se lá o povo não gosta. Portanto, é evidente que reconhece que existe esta ‘brandura’. Espera omissamente o tempo correr nas mãos dos ditadores totalitários que se revezam na cadeira. Sabe com certeza que o povo italiano é injusto com Battisti, o matador do bem, o matador aprimorador democrático. O totalitário pela verdade. Enquanto houver terroristas haverá ditaduras, pois nem todos são bobos para cair nesta conversa fiada da esquerda hipócrita. Direitos humanos, liberdade e expressão, liberdade de pensamento, de organização, de produção, de cooperativismo, de imprensa, política, de ir e vir, de fazer da sua vida o que bem entender se opõe aos ideais socialistas já demarcados por Marx e Engels no manifesto comunista. Opõem-se tanto aos ideais religiosos de qualquer tipo como os socialistas internacionalistas e dos seus irmãos nacionalistas.

Estados totalitários não diferem

Quem destes honestos julgadores da Folha se indignou com o deboche do nosso presidente, de Hugo Chávez e Rafael Correa junto a Raul Castro, em relação aos duzentos presos políticos confessados pelo ditador? Celso Lungaretti, Urariano Mota , Luiz Antonio Magalhães, Gilson Caroni Filho? Os professores Fabio Konder Comparato e Maria Victoria de Mesquita Benevides? Dilma Roussef, Marco Aurélio Garcia, embaixador Celso Amorim reclamou? Ou José Dirceu, que renasce das cinzas da corrupção? Como que então não tem graduação ditaduras? Nada disto. Apenas lançaram brindes a vida longa do ditador e a ditadura simpatizada.

Não existe nenhuma diferença entre um Estado socialista, cristão ou islâmico em termos totalitários. São todos fascistas em seus fundamentos e terríveis são os seus membros de na forma de oprimir o povo.

As vozes que aqui gorjeiam nunca gorjearam, sintomaticamente, pelos de lá.

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PS: Após este texto acima escrito, o ministro da Justiça Tarso Genro foi ouvido pela Comissão do Senado sobre as justificativas sobre o asilo. Saiu-se com algumas perolas da hipocrisia. Ele relatou que estaria para ser protocolado um caso semelhante do terrorista italiano, apenas que desta vez de um assassino fascista. E que ele analisaria de igual modo e concederia a proteção. Na maior cara de pau, ele conhece um caso que nem mesmo foi iniciado. Quando nem mesmo sabia sobre o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, que trabalha dentro da PF e estava em investigação, o que o jornalista da VEJA sabia! Pior, que daria abrigo para mais um assassino como se fosse normal promover a impunidade de crimes de morte alegadamente políticos dentro do país. Viramos a verdadeira casa da Mãe Joana nas mãos de Tarso!

O ministro da Justiça havia conversado com o juiz espanhol Baltasar Garzón no dia 25 de junho de 2007. No dia 24 de dezembro do mesmo ano, a Justiça da Itália expediu mandados de prisão contra autoridades e militares brasileiros que atuaram na repressão a grupos de esquerda e a dissidentes na Operação Condor.

Entre os documentos oficiais conhecidos até hoje se alega que há prova de envolvimento de brasileiros na prisão de suspeitos estrangeiros atuando no Brasil e compartilhamento de informações entre os órgãos de inteligência da América Latina (como ocorre com o governo da Venezuela, da Bolívia, do Equador, da Colômbia, da Argentina hoje em dia, até reunidos no fórum de São Paulo) e repressão da época. Interessante que nesta hora o Ministro reconheça a qualidade da Justiça Italiana quando alega perseguir Battiste! Mas a nossa Constituição impede a extradição de brasileiros natos. A Lei de Anistia, de 1979, ampara os suspeitos de crimes pró e contra o regime militar, que o nosso ministro não concorda, muito estranhamente. Teriam sido atitudes ocorridas dentro do nosso território, contra cidadãos que se encontravam dentro do nosso território ou fugindo de suas responsabilidades ou cometendo crimes. Mesmo assim Tarso acha lógica a intenção dos estrangeiros.

Esses impedimentos legais, porém, não encerram o assunto para o governo brasileiro, que elaborou uma estratégia para os pedidos da Itália e da Espanha. Serão dois passos: 1) após acolher os documentos, a União remeterá os dados para o STF (Supremo Tribunal Federal), que deve negar tanto extradição quanto prisão; 2) negados os pedidos, a papelada seguirá para a Procuradoria Geral da República, para que ela avalie se é o caso de denunciar os suspeitos por crimes previstos no Código Penal. Não é interessante que se dê abrigo para estrangeiros e se persiga cidadãos do país por motivos políticos de 40 anos atrás já anistiados? (Informação tirada do SITE da ABIN).

Este é o mesmo cidadão que, quando prefeito de Porto Alegre (janeiro de 2001 e março de 2002, depois deu o calote no povo), em 11 de setembro, declarou que os Estados Unidos não representavam os valores iluministas ocidentais se solidarizando como os terroristas na Zero Hora (27/09/2001).

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Médico, Porto Alegre, RS