Dona Marisa Letícia finalmente ganhou espaço no noticiário político. Nos quatro anos de mandato do marido mereceu destaque na imprensa quando Lula, recebido pelo rei da Espanha, esqueceu ‘a galega’ dentro do carro, de onde foi resgatada por Sua Majestade em pessoa; apareceu nas colunas de fofoca por ter convencido o marido a aplicar botox, que ela experimentou e aprovou, e por ter adotado o comportamento das socialites e contratado um personal trainer para manter a forma.
Assustada com a possibilidade de ter que sair do Planalto, dona Marisa se vestiu de militante e foi à luta. Está em todos os comícios, dançando animada ou entregando camisetas para o marido-star assinar, fazendo o sinal da vitória e chega até a dar declarações à imprensa: ‘Sempre participei das campanhas de Lula e do PT e estou me dedicando à reeleição. Estou sempre à disposição para colaborar’.
O que a imprensa está devendo aos leitores é uma matéria que diga por que, afinal de contas, ela se ‘dedica à reeleição’. Será que tem algum projeto relevante para os próximos quatro anos? Se tiver que deixar Brasília agora, o que é improvável, vai abandonar uma causa social importante em que se empenhou desde o primeiro dia do primeiro mandato? Se tivesse que sair, as mulheres pobres do Brasil perderiam uma defensora no centro do poder? Ou o papel de primeira-dama é apenas seguir o protocolo em solenidades oficiais e marcar presença nas viagens e comícios eleitorais do marido?
Em vez de se limitar a mostrar fotos da primeira-dama em campanha, está na hora de a imprensa discutir o papel que ela deveria desempenhar na presidência da República. É procurar dona Marisa e, em vez do perfil tradicional que conta sua luta para sobreviver no bairro operário, no papel de mãe viúva com filho para criar, discutir o que ela fez ou deixou de fazer nos últimos quatro anos.
Ao acompanhar o noticiário que registra o empenho de dona Marisa na reeleição do marido, a sensação que fica é de que primeira-dama é isso mesmo: aquela mulher invisível que mora em Brasília e só sai de casa quando o marido precisa, seja numa solenidade oficial, seja para ir à rua pedir votos.
Mulher invisível
A imprensa, por falta de memória ou por medo de parecer preconceituosa, parece ter esquecido que a antecessora de dona Marisa conseguiu dar a esse título honorífico um significado diferente. Com seu trabalho no Comunidade Solidária, dona Ruth transformou um cargo honorífico em trabalho tão efetivo que o processo não parou com sua saída do governo.
A imprensa parece ter respirado aliviada quando dona Marisa, em vez de tentar deixar sua marca como primeira-dama, preferiu aderir ao modelito tradicional: aquela senhora bem vestida que entra muda e sai calada das cerimônias oficiais. Passados quatro anos de governo, dona Marisa entra para a história das primeiras-damas como a ex-operária que chegou ao Planalto e tratou de melhorar o visual.
Talvez ela esteja feliz com o papel desempenhado e acredite que colabora o suficiente porque foi à rua fazer campanha. O que não está certo é a mídia se deixar manipular destacando a presença dela em comícios. Se ela ficou quatro anos no Palácio e não mereceu notícia por qualquer trabalho feito, não deveria agora ganhar tanto destaque.