A atual temporada do Campeonato Brasileiro de Futebol não está interessante. Pelo menos para o torcedor mineiro. Rodada após rodada, atleticanos, americanos e cruzeirenses veem seus respectivos clubes cada vez mais próximos da Série B. Outra característica negativa do presente certame é o baixo nível técnico dos jogadores, o que vem a ser consequência direta do grande fluxo de futebolistas brasileiros para clubes do exterior.
Entretanto, apesar dos problemas em campo, fora das quatro linhas dois personagens têm chamado a atenção: o boneco inflável João Sorrisão; e Loco Abreu, atacante uruguaio do Botafogo Futebol e Regatas.
Vamos ao primeiro personagem. João Sorrisão foi criado para acompanhar a música homônima (interpretada pelo grupo “Os Havaianos”)exibida durante o programa Esporte Espetacular, da Rede Globo de Televisão. A letra da música (de gosto duvidoso) reflete a decadência do mainstream musical no Brasil. Não obstante, o programa lançou uma campanha para os atletas dos times que disputam a Série A do futebol brasileiro: o jogador que fizer um gol e imitar (eufemismo para adestramento) o João Sorrisão, ganha um boneco do personagem.
Dito e feito. Vários jogadores, mimeticamente, passaram a adotar a escalafobética coreografia ao comemorar seus tentos. Obviamente, não se trata de nenhuma novidade, visto que boa parte da população brasileira está “acostumada” a ser manipulada pelos meios de comunicação de massa.
“Ter opinião é tabu”
Por outro lado, Sebastián “Loco” Abreu comprova que ainda existe “vida inteligente” no cenário esportivo. O artilheiro uruguaio, que tem curso superior (algo raríssimo entre os jogadores brasileiros, mas comum para atletas de outras nacionalidades), tem se destacado pelas entrevistas polêmicas. Em uma delas, ao ser questionado se participaria do quadro “Inacreditável Futebol Clube”(exibido no Fantástico) por ter perdido um “gol feito” na partida entre Botafogo e São Paulo, Loco foi enfático: “Realmente, o `Inacreditável Futebol Clube´ é uma bobagem que vocês têm para sacanear o jogador, mas só quem está lá dentro sabe como é difícil jogar futebol.”
Evidentemente, podemos concordar ou não com esta afirmação. Entretanto, poucos indivíduos têm a coragem suficiente para criticar publicamente a poderosa emissora da família Marinho. Após as declarações de Abreu, não faltaram comentários odiosos à atitude do centroavante botafoguense na imprensa especializada e nas redes sociais da internet. Em um meio acostumado a padronizações e a frases clichês em entrevistas, como é o mundo do futebol, ter “opinião própria” ainda causa certo estranhamento.
Infelizmente, essa postura passiva não impera apenas nos bastidores do secular esporte bretão. No Brasil, a maioria da população ainda prefere ser guiada intelectualmente por pensamentos metafísicos e alheios (atitude que Nietzsche qualificava como “instinto de rebanho”), a ter uma postura crítica e racional frente à realidade. Lembrando as palavras do cantor e compositor Lobão, em entrevista a um programa do Record News, “no país da fofoca, ter opinião é tabu”.
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[Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas, Brasil: Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de História e Geografia]