‘O diploma só deveria ser exigido para quem tem responsabilidades sobre a vida humana: médicos, químicos, físicos, engenheiros. O resto é ridículo! Daqui a pouco, exigirão diplomas para músicos, pintores, poetas, escritores.’ [
Fausto Wolff]‘Quem acha que jornalistas não têm responsabilidades sobre a vida humana, não entendeu o que é jornalismo. Na dúvida, reportem-se ao recente `caso Eloá´.’ [Pedro Osório, secretário executivo do FNDC, na lista de discussão Parayba-PB]
Dentro do inexorável processo dialético onde teses e antíteses se chocam, procurando um processo de ruptura, para produzir um novo estágio de conhecimento, uma nova síntese, mais próxima da verdade sobre a obrigatoriedade ou não do diploma de jornalismo, trombamos com o ‘caso Eloá’ e com uma profunda necessidade de reflexão…
O jornalista na grande mídia faz o que ele julga ético e com qualidade adequada para a sociedade? Ou o que o patrão manda?
Política editorial
Notícias como no caso da Eloá somente são publicadas após uma decisão gerencial, genérica e automaticamente incorporada à cultura e aos valores da empresa, ou específica, analisada caso a caso:
Vai dar lucro ou não vai? Qual o risco de se gastar com uma indenização? Quanto seria? Como ficaria a relação custo-benefício?
Negócios! E o capital tem privilégios para fazer o que bem entende até o momento em que suas vítimas se organizarem, pressionarem os empresários e o governo para colocar um limite na coisa. Trata-se de coisa difícil de acontecer, enquanto jornalistas, a serviço dos donos da mídia, ou presos à matrix por eles gerada, estiverem informando à população de que estamos em uma democracia de verdade, numa República etc…
Como o jornalista trabalhador não decide sobre o que e o como será ou não publicado, ele não afeta significativamente neste processo. Portanto, devemos exigir um diploma é do patrão! Este, sim, é quem tem responsabilidade sobre a vida humana…
Quem acha que jornalista tem responsabilidade sobre a política editorial real de um veículo (não a teórica e formal, visível), determinando o que e como será publicado na grande mídia, não entendeu ainda o que é jornalismo.
A imoral conciliação de classe
Será por que o sindicato da categoria ou a própria Fenaj emite ou não emite parecer público a respeito do coleguinha responsável por matérias deste tipo? Ou sobre o patrão que o mandou fazê-la desta forma? Ou ambos? Ou não faz campanha para que o jornalista desobedeça, em casos assim? Há algum caso de profissional que se recusou a produzir determinada matéria, de uma determinada forma, alegando não ser correto? Ou publicando na internet que sua matéria foi deturpada pelo editor? Se isto já ocorreu alguma vez – deve ter sido tão pouco, que não conta – significando cumplicidade explícita do jornalista com a manipulação da informação na grande imprensa constatada por Perseu Abramo e outros.
Alô, alô, jornalistas que defendem o compromisso da categoria com a ética e com a qualidade da informação para a sociedade! Por que não começar com o ‘caso Eloá’? Já seria o primeiro passo, né? O que impede que vocês se fiscalizem a si mesmos? Ou aos donos da mídia? Mas é bom saber que, assim, por exemplo, a empresa não financiará mais o jornalzinho do sindicato e, no mínimo, a imoral conciliação de classe irá por água abaixo, com todos os prejuízos decorrentes da luta de classes… [ver aqui e aqui]
Temerário defender posições
Por que será que não há reportagem alguma na grande mídia (e nem na pequena…), afirmando que estamos numa ditadura do poder econômico, plutocracia, cleptocracia e corporocracia? Que a democracia de direito é uma farsa que se faz passar por democracia de fato; que a República é, na realidade, uma Reparticular; e a Federação um Estado unitário, autoritário e oligárquico?
Talvez porque os jornalistas da grande mídia sejam responsáveis por nossas vidas, mas não estão nem aí, se somos enganados diariamente por seus patrões, aos quais obedecem cegamente e manipulam a informação para atender aos interesses daqueles e não perder a boquinha. Ou então, foram condicionados pelo sistema de ensino, pela própria mídia, pela necessidade de sobrevivência, pela subserviência etc., tornando-se incapazes de enxergar um milímetro à frente de seu nariz! Estão presos na matrix…
Não me parece que o diploma faça alguma diferença nesta história toda…
Haveria algum estudo sério, comparando os ganhos para a sociedade em países que obrigam e os que não obrigam os jornalistas a terem diploma? Por que nenhuma das duas posições utiliza esta situação a seu favor? Talvez por não haver diferença alguma que justifique qualquer delas!
De qualquer forma, enquanto não tivermos este dado de forma confiável, em mãos, será temerário defender qualquer das duas posições…
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Engenheiro civil, militante do movimento pela democratização da comunicação e em defesa dos Direitos Humanos, membro do Conselho Consultor da Câmara Multidisciplinar de Qualidade de Vida (CMQV)