Numa entrevista à Folha Dirigida (www.folhadirigida.com.br), em 29 de junho, o pró-reitor de Assuntos Internacionais da Universidade Cândido Mendes, José Raymundo Romêo, entre tantas observações pertinentes, deixou escapar (o fez sem maldade, quero crer) um comentário curioso:
‘Se analisarmos dados simples vamos descobrir que a maioria do povo brasileiro passa a vida inteira sem cruzar com alguém de formação de nível superior. Alguns passam a vida sem ver um médico, um dentista. Não estou falando de jornalista, de físico, mas de profissões essenciais.’
Depois de ler duas vezes a afirmação, fiquei a pensar: o que faria da medicina e da odontologia profissões essenciais, e do jornalismo e da física atividades meramente acessórias, adventícias, contingentes, episódicas?
À primeira vista, a resposta parece óbvia. Os médicos e dentistas cuidam da nossa saúde, que é algo muito mais essencial (à primeira vista…) do que ter acesso a informações jornalísticas ou calcular a força que a atmosfera exerce sobre os nossos corpos (de aproximadamente 10 toneladas!), e saber por que ainda não fomos esmagados…
É normal que, no calor de uma entrevista, mesmo que por e-mail, o entrevistado, entusiasmado pela oportunidade de argumentar, acabe fazendo afirmações precipitadas.
No caso da essencialidade das profissões, e do encontro que a população brasileira tenha com este ou aquele profissional, apesar dos muitos pesares é mais fácil uma pessoa encontrar um médico do que um físico. E, cá entre nós, o que é lamentável reconhecer, quantos sabem para que ‘serve’ a física?
Um apelo
Quanto à odontologia e ao jornalismo, se de fato muitos brasileiros andam a quilômetros de distância da cadeira do dentista, os jornalistas, pelo rádio, pela TV, vencem esses quilômetros com facilidade, invadem nossas casas, deixam-nos boquiabertos com as notícias que divulgam.
Essencial tem a ver com o ser (esse, em latim), e, só por isso, toda profissão, pelo simples fato de ser exercida, é essencial. Um gari é essencial. Um piloto de avião é essencial. Um vendedor é essencial. Até um professor de latim é essencial!
Não sou jornalista (tampouco físico), mas como escrevo neste site que tantos jornalistas lêem, faço um apelo aos profissionais da área para que sejam tão essenciais quanto os médicos e dentistas. Cuidem de nossa saúde informacional, tragam idéias curativas, identifiquem as cáries e chagas sociais, meçam a nossa pressão, a nossa febre, façam diagnósticos precisos, proponham revolucionários tratamentos!
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Doutor em Educação pela USP e escritor