Pouco conhecida a veia jornalística do industrial americano Henry Ford, que se notabilizou no universo da indústria automobilística, sendo modelo de gestão e de empreendimento para a geração dele e ainda hoje homem de destaque na mídia. Henry Ford comprou o semanário americano Dearborn Independent, que até então tinha tiragem tímida, e passou a publicar artigos de sua lavra. Pouco tempo depois, o seu jornal tornou-se um dos mais concorridos. Mas o que teria levado esse industrial de sucesso a se meter com o jornalismo?
Afinal, é cediço que jornal não é um bom negócio econômico. Ford queixava-se que a imprensa americana estava nas mãos da comunidade judaica e não conseguia publicar algumas críticas ao modo de agir dos judeus, daí a justificativa dele para ter o seu próprio jornal. Notabilizou-se por escrever sobre a comunidade judaica e recolheu documentos para fundamentar seus longos artigos, o que acabou gerando, em 1922 o livro O Judeu Internacional, em que reúne essa coletânea de artigos e virou best-seller no mundo. No livro, que teve edição brasileira em 1933, pela Editora da Livraria do Globo, Ford revela como funciona a imprensa nos EUA e como os grandes jornais – The New York Times etc. – sofrem a influência em suas pautas dos anunciantes.
Atender somente aos interesses públicos
Até hoje não contestadas, chegam a ser assustadoras as revelações que Ford traz em seu livro, pois fala com desenvoltura sobre as agências de notícias e de como as informações são usadas por uma elite para ganhar dinheiro na Bolsa de Valores, manipular os mercados e a opinião pública. Houve equívoco na obra de Henry Ford? Sim, pois ultrapassou o campo da análise dos fatos para abrigar-se no antissemitismo, mas Ford se defende no livro dizendo que esse ‘rótulo’ de antissemita foi criado pela imprensa de influência judaica para desqualificar qualquer pessoa que ousasse falar sobre a questão judaica.
O livro de Ford foi escrito no entreguerras e antes do genocídio judeu de Hitler na Alemanha e hoje tem valor apenas histórico, pois este é um tema que deve ser tratado com seriedade, equilíbrio e sem qualquer preconceito – afinal, somos todos irmãos. Ford relata no livro a história do boicote sofrido pelo matutino New York Herald, pois tinha linha independente e seu proprietário, James G. Bennett, dizia que seu jornal estava disposto a atender somente aos interesses públicos, e não aos particulares – e foi assim até a sua morte. Porém, após isto, o jornal entrou em crise financeira e teve que ser vendido, foi fundido com o New York Sun e o mito da imprensa independente nova-iorquina desapareceu.
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Advogado e psicanalista, Fortaleza, CE