Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O leitor deve julgar com sua consciência

Diogo Mainardi soltou o verbo de novo. Na Veja, edição nº 1991 (17/01/2007), como de costume, manifestou sua insatisfação contra o governo Lula e, desta vez, foi além. Indignado com a falta de capacidade do brasileiro de reagir diante dos fatos escandalosos que marcaram o país de 2005 para cá, afirma que…

‘…o Brasil revelou toda a sua desavergonhada vagabundice. Um depois do outro, os fatos mostraram como somos ordinários, como somos baratos, como somos atrasados. Os mensaleiros reeleitos. O acidente da Gol. Os perigos do tráfego aéreo. A paralisia dos aeroportos. O aumento do salário mínimo. O aumento do Judiciário. O aumento dos deputados e dos senadores. A barganha por cargos. Arlindo Chinaglia. Aldo Rebelo. Os atentados no Rio de Janeiro. A incapacidade de reagir contra os criminosos. Os mortos em enchentes. Os desastres ambientais…’

…e por aí vai. Mainardi disse alguma inverdade? O que ele citou foram fatos ou invencionices, suas ou da Veja? Ou ainda, fatos-notícia criados pela oposição?

Embora seu estilo de escrever divida opiniões, não se pode negar que tudo o que ele citou foi mostrado fartamente na imprensa escrita, no rádio, na televisão e na internet. Só não viu, só não leu, quem não quis, ou quem se deixou levar pela cegueira das paixões. Que a Veja deu aos fatos uma atenção maior, é inegável. Como é inegável a sua notória falta de sintonia com Lula, razão que a levou a cair no desagrado do governo e dos partidos que lhe dão apoio.

Todo leitor tem o direito de gostar ou de odiar o modo pelo qual a Veja se apropria de certos argumentos para expor suas idéias ao resto da sociedade. O que ninguém pode é negar que a revista se valeu de elementos concretos para publicar os acontecimentos que mancharam a esfera política nacional.

Fatos apurados com rigor e isenção

A Veja comete erros jornalísticos? Sim. E quem comenta é o jornalista Alberto Dines no Observatório da Imprensa, edição nº 381 (16/5/2006). De acordo com ele, ‘a edição nº 1956 de Veja (17/5/2006) transformou-se instantaneamente num clássico da impostura jornalística’.

Para começar, Dines enumera erros cometidos pela revista que, em sua opinião, são primários. Por exemplo, denunciou o presidente Lula e outras pessoas proeminentes da República por terem dinheiro depositado em bancos estrangeiros, com base em um depoimento de Daniel Dantas, uma fonte não-confiável, segundo a própria revista.

De fato, ao dar espaço e credibilidade a uma fonte que não merece crédito, fica evidente que a revista pode endossar qualquer denúncia, com ou sem fundamento. Mais adiante, Dines revela outras falhas elementares. Primeiramente, o jornalista que escreveu a matéria não ouviu as partes acusadas. Em segundo lugar, atropelou a ética profissional ao expor a maior autoridade do país como suspeito de ter dinheiro depositado em bancos estrangeiros. E, por último, reconheceu, ingenuamente, a falta de provas para fundamentar as denúncias.

Tal comportamento, sem dúvida, pode afetar a credibilidade da Veja e da imprensa como um todo. Entretanto, tão imperdoável quanto os erros jornalísticos apontados por Dines, é certas revistas omitirem ou deturparem os acontecimentos para agradar aos poderosos de plantão, com os quais se dizem afinadas politicamente.

A hora é de o público-leitor julgar os meios de comunicação de acordo com sua consciência. Jamais se deixar influenciar pelos discursos ideológicos preparados por eles, para não cair na armadilha e achar natural a sua dominação pela linguagem que possam lhe impor. Não aceitar o que certos tipos de mídia escrevem como verdades absolutas, para não ter um papel passivo diante das propriedades discursivas evocadas por eles – geralmente, fundamentadas em sua natureza ideológica.

Cabe, enfim, ao leitor, substituir a mensagem partidária por notícias baseadas em fatos – de preferência fatos apurados rigorosamente e com isenção.

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Jornalista, Salvador, BA