Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

O lugar dos símbolos

Marc Augé, antropólogo francês, em seu livro Não-lugares – Introdução a uma
antropologia da supermodernidade
, traz um útil conceito àqueles que se
dispõem a repensar as políticas e o planejamento e a operar as ações de
comunicação com os empregados, mais conhecida pela geográfica expressão
‘comunicação interna’, que deveria ser abolida do vocabulário. Afinal, cada vez
mais integrados pela tecnologia digital e pela vontade de viver em ambiente
democrático, todos pretendem estar neste mundo.


De volta ao conceito definido por Augé, os não-lugares são os espaços que não
valorizam os aspectos simbólicos de nossa existência e de nossa identidade.
Ambientes em que predomina o instrumental, o fazer preso ao presente, sem marcos
e mitos fundadores e sem perspectivas. Nos não-lugares o futuro é sempre
quantitativo, a esperança não tem significado. É o Jano decapitado e o ritual do
novo ano desfeito. Joseph Campbell interpretaria o não-lugar de Augé como o
espaço que impossibilita a trajetória do herói.


Exemplos fortes de não-lugares? A maioria das fábricas, com linhas retas e
corredores de produção; os escritórios impessoais e brancos; os fast-food,
assassinos do ritual da alimentação e da comensalidade; os necrotérios, os
hospitais, os asilos que escondem a morte, a doença, a velhice. Uma aluna me
falou, sabiamente, que Vinícius de Moraes e Tom Jobim jamais comporiam Garota
de Ipanema
em um fast-food


Um ser dos símbolos


A comunicação com os empregados, que se quer excelente, deve ser a expressão
de empresas que se pretendem lugares, como Simônides, poeta e pai da memória,
propôs na tradição clássica grega: lugares assentados em simbologia e imagens
fortes. Lugares são as moradas da memória dos empregados, dos consumidores, das
comunidades, da sociedade. Lugares se contrapõem ao excesso de informação e
permitem que ela se transforme em conhecimento.


Como muitos já afirmaram, o homem é um ser dos símbolos. Em várias
organizações, a comunicação com os empregados, desidratada de simbologia, os
transforma em extensões das máquinas.

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Professor da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE). Autor de inúmeros livros, entre eles O que é Comunicação Empresarial, A Comunicação da Pequena Empresa, e Tudo é Comunicação