Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O mais do mesmo

Em 2008, a SIMTV, filiada à RedeTV! em Natal, chegou com o slogan ‘Diga sim para o novo’. Um ano após, vemos que o novo não veio, o desenvolvimento não veio e temos mais uma TV igual a outra qualquer em Natal. Em novembro passado, chegou as bancas o Novo Jornal, de propriedade de Cassiano Arruda (ex-funcionário do Diário de Natal por 40 anos) e uma junção de acionistas que preferem não se identificar.

A fórmula do jornal é interessante. Ser analítico e apresentar reportagens, como o jornal O Coletivo já faz. O projeto gráfico foi bem elaborado pela agência de publicidade do filho de Cassiano, Arturo Arruda, da Art&C. As primeiras edições até que foram interessantes, apesar de apresentarem mais reportagens da Folhapress (agência de notícias da Folha de S.Paulo) do que da equipe de reportagem local. Com nova fórmula, em policromia na maioria das páginas, criado em cima de uma pesquisa de mercado, o Novo Jornal tem tudo para crescer entre meses. Assim como todos os veículos ligados a um grupo empresarial, político ou acionário que ninguém sabe o nome.

Esse crescimento não é de se espantar, pois o lado da mídia empresarial-patronal-comercial, como diz Vito Giannotti, cresce em velocidade recorde – o lado deles enxerga a possibilidade de hegemonia da sociedade e manutenção dos interesses de políticos e empresariais, pouco interessados no cidadão em si ou nos projetos públicos a que deveriam se ater.

É só olhar os banners desses veículos. É só você parar para ver que a Assembléia Legislativa só patrocina o Nominuto.com. E por quê? Não se sabe claramente, mas digamos que a ligação do proprietário do portal e o presidente da Assembléia é bem próxima. Sem considerar que Diógenes Dantas, dono do portal, é presidente das TVs Assembléia do Brasil.

Mesma capa, mesmas fotos, mesmo número de linhas

É nessas horas que vemos a fraqueza da esquerda. Sem um veículo para propagar suas idéias, suas propostas perdem-se em ilusão quando a grande mídia lhes dá um espaço mínimo. A ilusão de aparecer na TV e de achar que os jornalistas-avestruzes vão dizer a verdade é o mesmo que crer em papai Noel. Não sei a esquerda nacional, mas a natalense não enxerga a potência de ter um veículo de comunicação de massa para disputar a hegemonia com o outro lado. E disputar a hegemonia é trazer o outro lado dos fatos. É publicar nos jornais, sites e televisões o rosto de quem não tem vez; a fala de quem é silenciado e as notícias dos desprezados.

O Novo Jornal chegou. Mas isso não indica que o desenvolvimento vem por aí. Veio apenas outra forma de imprimir jornal. A mídia natalense continua e continuará a mesma, trabalhando em defesa dos interesses dos políticos, empresários e de seus currais. Não adianta colorir o jornal e fazer um projeto gráfico moderno. Encantará o público, sim. Mas uma hora o leitor perderá o encanto, pois a novidade acabará e ele deparará com sete jornais de grande a médio porte apresentando a mesma capa, fontes e número de linhas. Além das mesmas fotos, mudando apenas a ordem nas páginas.

Mais uma vez, vemos nascer um jornal que traz mais do mesmo!

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Jornalista e escritor, Natal, RN