Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

O mal necessário

A Clínica Literária foi exposta em carne e osso, ouvidos e sentidos, ao XI Enancib – Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação – uma esfera afastada do ramerrame da comunicação, mas que deveria ser acompanhada mais de perto.

Acontece (enquanto esta matéria é redigida, o evento está em curso, de 25 a 28 de outubro) num suntuoso prédio da UniRio na Urca (Rio de Janeiro), restaurado e mantido pela CPRM – Serviço Geológico do Brasil, reunindo especialistas acadêmicos da ciência da informação, uma disciplina de que pouco se ouve falar no dia-a-dia. Mesmo entre os profissionais de comunicação, consumidores e produtores eles mesmos de grande parte, senão da maioria, das informações que se acumulam ao longo da história.

Ao som de um piano eletrônico e um sax, surpresa para a Clínica Literária, que nunca havia visto isto em evento acadêmico, a abertura do XI Enancib foi feita pela professora doutora Célia Ribeiro Zaher, Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da UFRJ, cuja cerimônia prosseguiu com a palestra ‘Inovação e Inclusão Social’ e Emir José Suaiden e demais convidados, incluindo o americano Nicholas Belkin, da Universidade Estadual de New Jersey, escalado na programação para a conferência ‘Desafios para a Busca de Informação de Pesquisa no Século 21’.

Evolução tecnológica avança com velocidade

Nos primórdios da ciência da computação no meio produtivo da sociedade, leia-se mercado de trabalho e ensino, há apenas três décadas e meia atrás, os programas de computadores eram escritos a lápis em folhas de papel, transferidos eletronicamente para a memória da máquina por meio de cartões previamente perfurados (numa linguagem híbrida alfanumérica) enquanto os programadores e analistas tinham a penosa tarefa paralela de documentar todo o seu trabalho. Do contrário não poderiam posteriormente fazer manutenção em seus próprios programas, ricos em fluxos lógicos e algoritmos. Eu chamava esta tarefa pesada, e tecnicamente inócua, de o ‘mal necessário’. Sem a documentação dos sistemas, feita com sofisticado grau de metodologia, era como navegar às cegas num oceano de informação.

Porém, mesmo antes dessa época, no início do século 14, os primeiros passos para a ciência da documentação e, posteriormente com a explosão da ciência da informação (imediatamente após a II Grande Guerra), simbolizada pela abertura dos arquivos técnicos da Alemanha em ruínas, nascia uma classe de profissionais, especialistas, acadêmicos e pesquisadores pouco mencionada em nosso dia-a-dia – a dos cientistas da informação; do arquivo à biblioteconomia, da guarda à catalogação de documentos e informação, da busca à contextualização e pesquisa, palavras estas que remetem os estudiosos do assunto a labirintos epistemológicos inimagináveis pelo indivíduo comum.

O fenômeno recente da explosão do uso da internet, da web e das metologias de cloud computing (computação em nuvem) remetem, por sua vez, o ambiente da ciência da informação a plataformas de perspectivas inalcançáveis a qualquer um de nós, cientistas e indivíduos comuns. Produzir informação nunca foi tão fácil; arquivar, proteger, acessar, atualizar, utilizar e contextualizar essa produção, todavia, nunca foi tão complexo, posto que a evolução tecnológica avança com velocidade e está apenas no seu prelúdio.

Conferências, eleição da diretoria e prêmio

No momento em que o Brasil, inserido numa onda internacional de incertezas quanto às reais tendências no campo das ciências de comunicação, com efeitos mais práticos para nós, brasileiros, no âmbito da imprensa, onde se discutem direitos trabalhistas, modelo empresarial e a inserção do profissional através do credenciamento acadêmico, alguns estados da federação trazem à tona, através de seus legislativos, propostas de limitação da liberdade de imprensa que, com relação ao objeto de estudo do Enancib, o da informação, mereceriam a atenção que a imprensa parece sonolentamente ignorar.

Informação e comunicação são ciências consanguíneas, uma não tem sentido sem a outra.

Realizado pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e a Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM) o XI Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (Enancib) tem como tema ‘Inovação e inclusão social: questões contemporâneas da informação’.

O evento é fruto de uma parceria das Escolas de Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia da UniRio com o Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia (IBICT/MCT); com o Programa de Pós-Graduação em Ciência da Saúde (PPGCS) da Fiocruz; e com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por meio do curso de Biblioteconomia e Gestão das Unidades de Informação da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis.

Na programação do XI Enancib, há conferências de pesquisadores estrangeiros convidados; apresentação de resultados de pesquisas; reuniões dos dez Grupos de Trabalho (GTs), de estudantes de pós-graduação e de coordenadores de programas de pós-graduação em Ciência da Informação; a assembleia-geral da Ancib, com eleição de nova diretoria; e a entrega do Prêmio Enancib às melhores dissertações e teses defendidas entre janeiro e dezembro de 2009. Nesta edição, será realizado pela primeira vez o fórum ‘Informação Em Saúde: pesquisas, realizações e perspectivas’. O objetivo é discutir a elaboração de pesquisas na área de Informação e Comunicação em Saúde, visando à elaboração de projetos para a criação desse Grupo Temático dentro da Ancib.

Para saber mais sobre o evento, acesse: http://congresso.ibict.br.

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Escritor e jornalista