Nestes dias em que o Maranhão tem ocupado o noticiário nacional – por conta da eleição de José Sarney para a presidência do senado e do grampo da PF –, lembrei-me de uma frase de Eliane Cantanhêde, colunista da Folha de S.Paulo, em texto publicado no início de janeiro: ‘O Maranhão é o Brasil. Ou melhor, o Brasil é o Maranhão’. Estamos em fevereiro e volto a me perguntar: o que ela quis dizer com isso? Que o resto do Brasil também é assim: pobre, atrasado e corrupto? Sinto muito, mas discordo. Ah, não, caro leitor! Esse título ninguém vai nos roubar.
A nossa pobreza é mais pobre. Mais autêntica. Trata-se de um estilo. Uma vocação. Você duvida? Então pegue o mapa da desigualdade e ponha-o de cabeça para baixo. Você vai ver. Lá estamos nós, os maranhenses, seguindo à risca a máxima bíblica: ‘Os últimos serão os primeiros’. Somos os primeiros entre os últimos quando se fala de Enem, IDH, QI e outras siglas e índices. Isso não é fantástico? Como disse Marcelo Mirisola: ‘Basta um verniz pra ser feliz.’ É bom saber que a gente dá de goleada nos nossos hermanos brazucas em relação a uma série de coisas.
Quer mais um exemplo? Vamos lá. Veja a nossa política. Depois de viver quarenta anos debaixo do chinelo e da chibata de uma ‘oligarquia furiosa’ – como diz a imprensa governista –, o que a gente fez? Botou no poder outra oligarquia ainda mais furiosa e insaciável, a de Jackson Lago e seus pares. Pior: que ainda rouba sob a bandeira da libertação. Ou seja: de uma só tacada conseguimos nos libertar definitivamente da idéia de liberdade. E de inteligência.
O outro é mistério
A nossa justiça também não decepciona. Somos os primeiros entre os últimos em matéria de decência. Antes que alguém me processe, vou logo esclarecendo: não digo isso de minha própria cabeça. Fui forçado a essa conclusão depois que a imprensa mostrou o caos eleitoral provocado pela venda de sentenças judiciais no estado; depois que o nome do juiz de direito Marcelo Baldochi apareceu na ‘lista suja’ do trabalho escravo. Mas principalmente depois que um maranhense exilado no Espírito Santo me enviou, por e-mail, este pequeno poema, à moda Gonçalves Dias:
Minha terra tem Tribunais
Onde canta a liminar
Os juízes que aqui se vendem
Não se vendem como lá
Por falar em poesia, como diria Drumonnd, o Maranhão são dois. Um a gente conhece: é o Maranhão do trabalho escravo, dos juízes corruptos, da compra de votos, da população analfabeta, das oligarquias em fúria, dos currais eleitorais, da imprensa chapa-branca, da censura arbitrária, da esquerda atrasada, das estradas fantasmas, do crime organizado, da baderna institucional, da casa de taipa, da roça de toco, das orgias palacianas, dos assaltos a banco, dos contratos espúrios, da violência no campo e das panelinhas culturais.
O outro Maranhão é mistério.
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Professor e jornalista, Chapadinha, MA