Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O mau exemplo da secretária

Aguardei, pacienciosamente, algum órgão de imprensa piracicabano divulgar o que muitas pessoas já sabiam: estou, em defesa de meus direitos – e, especialmente, em respeito à dignidade do trabalho intelectual –, batendo às portas da Justiça contra a lastimável e infeliz atitude da professora Giselda Ercolin, atual secretária de Educação de Piracicaba, em plagiar trabalhos de minha autoria. Agora que A Tribuna Piracicabana noticiou (leia aqui) posso dizer de minha tristeza e indignação: o plágio foi escandaloso, abuso de corar as pedras das ruas. E não se tratou de uma ou de outra nota, mas descarada e deslavada cópia de muitas e muitas páginas, ipsis literis, sem qualquer referência e sem qualquer respeito ao trabalho alheio. Ela não deu informações históricas já conhecidas, como tentou alegar a editora: simplesmente copiou, acintosamente, parte inteiras de obras minhas.

Se é desrespeitoso e imoral, a qualquer pessoa, fazer uso de trabalho intelectual alheio, isso se torna inconcebível e assustador, quando parte da secretária da Educação de um governo municipal. Se é esse o exemplo que vem da educação, esperar mais o quê? Os latinos já sabiam e advertiam: “A corrupção do bom é péssima.” Se não tivermos mais confiança nem mesmo na educação, em que deveremos confiar?

Ora, não se diga que a Justiça apenas decidirá se houve ou não plágio. Houve. E escandaloso. A Justiça, especialmente, decidirá sobre reparações de danos. Pois, no livro organizado pela professora Giselda Ercolin, as cópias são tão flagrantes, tão absurdamente evidentes que não haverá como ignorá-las, constatação fácil para qualquer leitor mediano. A sra. Giselda Ercolin falou, a este jornalista, que não plagiou: que fez “uma colagem”. E, alegando nada ter cobrado ou recebido para realizar a “colagem”, tentou justificar uma afronta ao direito autoral que, aliás, é hoje uma das grandes lutas de intelectuais e de escritores: o respeito ao trabalho do autor.

Com dinheiro do Fundef

Os livros e documentos de minha autoria – dos quais a secretária da Educação Giselda Ercolin fez a sua “colagem” – são o resultado de toda uma vida de estudos, de pesquisa, de trabalho, mergulhando nos escaninhos mais escondidos da história de Piracicaba. Na verdade, esses trabalhos por minha terra são minha vida. E a professora Giselda Ercolin teve a audácia de menosprezar o que tem sido a minha razão de viver. E usando verba da Fundef, que é organismo para auxiliar o desenvolvimento do ensino fundamental. Que educação é essa que se propõe a Piracicaba?

Por essa obra, “colada” pela professora Giselda, minha terra me deu títulos e prêmios que me honraram. Não se tome – peço o favor – como imodéstia enumerar alguns deles, mas tenho que fazê-lo: “Piracicabanus Praeclarus”, “Mérito Histórico Prudente de Moraes”, a medalha Prudente de Moraes do IHGP, o Prêmio Clio de História (Academia Paulistana de História) e, finalmente, a honra de ter sido eleito para a Academia Paulista de Jornalismo, ocupando a cadeira nº 40, cujo titular, para maior orgulho meu, foi um piracicabano notável, Leo Vaz.

Não posso permitir – por respeito a mim mesmo, à minha terra, a meus netos, a quem deixo a minha herança intelectual – que a secretária de Educação de Piracicaba, Giselda Ercolin, “copie” trabalhos de toda uma vida minha e se vanglorie, impunemente, da farsa que entregou às escolas desta terra. Com dinheiro do Fundef, que se lembre disso a Câmara Municipal.

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Jornalista, Piracicaba, SP (www.aprovincia.com)