Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O mensalão, a economia e as eleições

 

Dois assuntos competem por visibilidade na imprensa: o julgamento do mensalão, com seu contraponto CPI do Cachoeira em segundo plano, e as dificuldades da economia brasileira. Na quinta-feira (2/8), a seção de Economia do O Globo publicou um título dramático: “No fundo do poço”. Aludia à informação de que a produção industrial teve queda de 5,5% em junho, a maior desde 2009.

O jornalista Jorge Félix, titular do blogue “Poder Econômico”, no portal iG, falou ao Observatório da Imprensa sobre a convivência dessas duas grandes pautas:

Jorge Félix −Sem dúvida nenhuma, o fato de o julgamento do mensalão estar ocorrendo neste momento de agravamento da crise mundial, e também das suas consequências para o Brasil, é bastante conflitante para o trabalho do jornalista. Essa semana a gente já pôde perceber isso no primeiro dia de julgamento, as fontes desapareceram. A gente ficava esperando o retorno e as fontes estavam muito envolvidas em acompanhar o trabalho do STF. É evidente que temos que cobrir. A imprensa tem que cobrir, e muito bem, esse episódio. E eu espero que nós, jornalistas de economia, possamos passar por esse desafio e consigamos levar para o leitor, para o telespectador, a situação da crise. Que isso não perca espaço nos noticiários. Que quem está no comando, na edição, possa equilibrar os dois episódios, que são de grande importância para o país.

Evidentemente, os jornais têm posição sobre o mensalão. Eu diria até que os três jornais mais importantes do país têm uma posição muito clara, a favor de um julgamento rigoroso. Você diria que isso em alguma medida pode influenciar a edição do material de economia? Por exemplo, o jornal claramente quer ver pessoas condenadas etc. Aí, na economia, ele começa a colocar coisas muito pesadas, está tudo muito ruim.

J.F. − É evidente que, se os veículos de comunicação no Brasil, e isso a gente pode sentir pelo noticiário, estão em uma postura bastante vigilante na questão do julgamento do mensalão, é um risco e é uma grande possibilidade que isso tenha uma certa influência também no noticiário econômico. Por quê? Porque isso já é uma postura em relação à política econômica, em relação ao governo Lula, e isso pode fazer com que a crise pareça um pouco mais grave, com consequências mais graves do que ela realmente é e do que ela realmente pode implicar aqui no Brasil. Se nós pegarmos comparativamente com o mundo, mesmo que o Brasil termine o ano com o PIB inferior a 2%, nós estamos falando de uma realidade mundial. Quando falávamos do governo Fernando Henrique, ele também sofreu muito com as crises mundiais; os resultados foram muito influenciados e a política econômica foi muito influenciada pelas crises que ele passou. Eu acredito que as duas coisas dialogam, sim. A posição que os jornais estão tendo, crítica, e que tem que ser crítica, em relação ao mensalão, e também a visão que eles têm em relação à economia.

 

Eleições municipais

Outro assunto que disputa espaço na imprensa com o julgamento do mensalão é a campanha eleitoral para a eleição de prefeitos e vereadores. Tema diretamente relacionado com o enredo do mensalão.

No Estado de S. Paulo de segunda-feira (6/8), José Roberto de Toledo comenta reportagem de Daniel Bramatti publicada na véspera no mesmo jornal. Bramatti constatou que em 2008 os candidatos com mais de 100 inserções semanais de 30 segundos na TV tiveram 69 vezes mais sucesso do que um adversário com menos de 50 inserções por semana.

Toledo conclui que “a despolitização se espalha a cada pleito, e nada é capaz de promover tanta desigualdade entre candidatos quanto a propaganda eleitoral compulsória no rádio e na TV”.

Não se trata, portanto, de fazer apenas a cobertura jornalística da movimentação dos candidatos, mas igualmente de colocar em pauta, de forma crítica, o próprio processo eleitoral.