Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

O país da crônica policial

Com base na realidade, a mídia nacional, ultimamente, transformou o país em cenário no qual prospera a crônica policial, camuflada em informação digna de capa de revista, chamada de primeira página dos jornais ou dada na TV ou rádio em horário nobre. Não há um só dia, uma só semana, que não surja um escândalo político, uma troca de tiros entre polícia e bandidos, tudo, noticiado com pitadas de sensacionalismo. Muitas vezes, certos casos não passam de indício, uma acusação que precisaria ser aprofundada. Perturbam e prejudicam alguém, criando constrangimentos, mas, geralmente têm procedência.

A função da imprensa tem esse nobre e incômodo papel, embora, sob os protestos daqueles que se acham molestados com a notícia dos fatos, principalmente contra autoridades que muitas vezes se acham acima do bem e do mal. O senador Joaquim Roriz quis enxovalhar os meios de comunicação, ao ser acusado de desviar mais de 2 milhões de reais do Banco de Brasília (Brasília); o mesmo acontece com Renan Calheiros, fazendo igual tipo de jogo. Quanto ao primeiro, os fatos mostram que a imprensa tem suas razões – com seu anunciado pedido de renúncia, para escapar da cassação; o segundo, é só uma questão de tempo.

Arroubos à moda caipira

Para completar, o noticiário internacional nos mostra também barbaridades cometidas pelo fanatismo dos terroristas do mundo árabe, numa guerra fratricida, por motivos religiosos, entre sunitas, curdos e xiitas, pertencentes a grupos ligados ao Fatah, Hamas, Hezbolah e Al-Qaida. Pobre e sofrido povo do Iraque, vítima dos bandos descrentes do diálogo em nome da paz e confiantes na vitória através da barbárie. Em cada esquina, uma mesquita (na qual se ora), mercado, repartições ou outro lugar nos quais se reúnem pessoas e, sem que alguém perceba, lá estará um ou mais grupos de assassinos com carros-bombas ou usando explosivos que matarão inocentes, com a frieza do gelo siberiano.

Por que tanto ódio? Por que tanta sede de sangue e vingança? São ações selvagens que não param. Em Bagdá, a capital do Iraque de tantas tradições culturais, um dos berços da civilização, com arte requintada para mostrar ao mundo, como vivem os moradores, aterrorizados com as armas que disparam de todos os lados? Quantos iraquianos ainda moram em Bagdá ou em outras cidades, focos do fanatismo brutal e inconseqüente?

Com tanta mortandade, de uma guerra nascida pela força da mentira do presidente dos EUA, Bush – sob a acusação de que o Iraque disporia de armas atômicas, o que levaria aquele louco, Saddam Hussein, a morrer enforcado. Eu gostaria de saber de Bush se ele consegue dormir tranqüilo sabendo que morreram mais de 3 mil soldados norte-americanos, cerca de 50 mil iraquianos civis e dezenas de jornalistas, sendo estes molestados de toda maneira… Bush não passa da reencarnação do rei Xerxes, da antiga Pérsia, 480 anos a.C., com sonhos de grandeza, conquistas e uma cobiça insaciável. Todo país ou continente tem o seu Xerxes e só pedimos que na América Latina ninguém tenha esse mesmo sentimento, apesar das ameaças à democracia pelo presidente da Venezuela Hugo Chávez, nas investidas contra os meios de comunicação, censurando-os e estatizando-os desde que não cantem loas ao seu governo.

Felizmente, os arroubos à moda caipira, que só assustam pela riqueza do petróleo, não metem medo pela falta de carisma e competência. Mas é bom ficarmos de olho vivo, porque é assim que nascem as ditaduras.

Desafiando a paciência

E o Brasil, o país da cordialidade do Sérgio Buarque de Hollanda, como anda? Bons tempos aqueles em que se acreditava nesse gesto normal, na confiança de sair às ruas com tranqüilidade, sem a presença ameaçadora da bandidagem que hoje domina a cidade. Nos dias atuais, corremos perigo tanto dentro como fora de casa. Somos prisioneiros de um sistema de segurança que funciona pessimamente. O governo tem que investir nesse setor, ou o cidadão pagará caro.

Os assaltos, seqüestros-relâmpagos, furtos e roubos em grande número, são noticiados diariamente. O brasileiro vive apreensivo com as falcatruas armadas por gente do alto escalão – da vida pública e privada. A polícia federal tem mostrado serviço e devia servir de exemplo a outras corporações, sem o exibicionismo da algema, quando desnecessária. Cadeia para os fora da lei.

Os policiais federais batizaram as operações com nomes criativos e chegaram ao objetivo. Prosseguem com o trabalho: do valerioduto, ou mensalão (dinheiro para cooptar políticos), da máfia das sanguessugas (superfaturamento na compra do sangue), das ambulâncias (superfaturamento), Furacão, dos bingos ou caça níqueis (que engana e envolve tóxico, com dinheiro sujo para magistrados e policiais), da Navalha (propina da construtora Gautama para governadores ou acólitos e outros do ramo, que pagariam pensões alimentícias de políticos), do apagão aéreo (sabotagem no controle de vôos), do meio ambiente (defesa da fauna e da flora), do Xeque-mate (tráfico de influência), do matadouro (venda de carne sem o cumprimento da obrigação fiscal), Aquarela, a última (lavagem de dinheiro do Banco de Brasília – Brasília).

Todo dia é a mesma coisa. O noticiário apresenta algo novo ligado à bandidagem. São os fatos a desafiarem a paciência de todos nós, que nos sentimos enganados. Quais outras operações o brasileiro deseja? Certamente, aquelas que possam evitar meter a mão em seu bolso e mexerem com seus direitos.

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Jornalista