FHC voltou da Alemanha para segurar a alça do ataúde eleitoral do José Serra. O ex-presidente chegou e foi logo acusando o presidente Lula de ser ‘chefe de facção’, ou seja, de ser chefe do Comando Vermelho ou do PCC. A imprensa fez eco e, seletivamente, esqueceu-se de todos os esforços do governo Lula para combater o crime organizado (com destaque para a quadrilha que operava no Ministério da Saúde ao tempo de Serra).
O que FHC diz, ele mesmo não escreve. E o que FHC escreveu, ele pediu para o leitor esquecer quando se elegeu presidente. Recentemente, o ex-presidente tucano escreveu um livro para fazer o leitor lembrar o que deveria ter esquecido a seu pedido. Portanto, parece ter razão aquele sociólogo francês que disse que FHC não está nem na esquerda, nem na direita, mas decadente.
As idas e vindas simbólicas de FHC, seus ditos e não ditos, suas persistentes memórias seletivas, são cômicas. Mas em razão de sua venerável idade não riremos dele. Escutaremos com expressão séria todas as bobagens que ele quiser falar. Mas não lhe daremos ouvidos, pois a voz da sanidade merece atenção – e a da senilidade, não.
José Serra tentou fazer o Judiciário reabrir o caso dos aloprados, que morreu há exatos quatro anos. Sua iniciativa jurídica naufragou, mas a mídia aproveitou para requentar a notícia e republicar a foto da montanha de dinheiro beneficiando escandalosamente o candidato tucano (ver aqui).
Relações perigosamente íntimas
Tenho a viva impressão que a imprensa faz um jogo partidário e perigoso. A candidatura Serra tem se mostrado incapaz de produzir qualquer fato relevante e sobrevive às custas de denúncias e notícias requentadas insistentemente pela mídia. Sua derrota inevitável tem sido anunciada a cada nova pesquisa divulgada.
FHC estava na Alemanha e certamente deve ter se deliciado com a ópera ‘Götterdämmerung’, de Richard Wagner. Na democracia, a maioria vence, portanto é absolutamente justo que a maioria dos brasileiros (que entre outras coisas paga as diversas aposentadorias do FHC) se delicie com o ‘Tukandämmerung’ composto nas urnas eletrônicas para José Serra.
Os candidatos passam, a democracia sairá fortalecida e a mídia deveria continuar a cumprir sua relevante função de fiscalizar o poder público. Mas não é isto o que ocorrerá. Especialmente, se a imprensa continuar a manter relações perigosamente íntimas com a candidatura do PSDB. Alguns jornalões, revistinhas e canais de TV parecem preferir correr o risco de afundar no mesmo ‘Tukandämmerung’ eleitoral. Não lamentarei por eles, só pelos jornalistas que sofrem em consequência da partidarização excessiva da mídia durante as eleições e da reação partidária que ela certamente provocará após a vitória petista.
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Advogado, Osasco, SP