Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

O pequeno príncipe e o jornalismo

O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, traz em suas páginas, de forma filosófica e poética, uma série de reflexões. É um livro carregado de emoção, que nos faz refletir e também nos ajuda a criar comparações com o mundo em que vivemos.

É possível traçar um paralelo entre esse livro e o jornalismo atual. Só para exemplificar, pegue-se uma passagem do livro na qual o pequeno príncipe visita os asteróides próximos a sua casa para procurar uma ocupação e se instruir. No primeiro planeta, a personagem encontra um rei:

O rei sentava-se, vestido de púrpura e arminho, num trono muito simples, posto que majestoso.

– Ah! Eis um súdito, exclamou o rei ao dar com o principezinho.

E o principezinho perguntou a si mesmo:

– Como pode ele reconhecer-me, se jamais me viu?

Ele não sabia que, para os reis, o mundo é muito simplificado. Todos os homens são súditos.

Tudo parecido, formatado

Esse trecho sintetiza de forma bem detalhada o mau jornalista, ou seja, aquele que se considera um rei, com súditos. Aquele jornalista que quer ser aplaudido e diz ter a seu alcance todas as estrelas. Pobre profissional. Mal sabe que por detrás de sua vaidade e seu falso poder está a sua perdição, sua ruína – e há muitos ‘profissionais’ que agem assim.

Jornalista-rei é o que se acomoda em seu trono, vestido de púrpura e arminho. É aquele que espera pela informação e não se levanta para ver os fatos. Se jornalismo é verdade, se é exatidão, como podem contar a realidade por detrás de seus tronos sem ao menos olhar, olho no olho, sua fonte?

É a sociedade que mais uma vez sai perdendo – perde a riqueza dos detalhes da notícia, perde a oportunidade de observar outros ângulos do fato, perde, enfim, a vontade de continuar lendo – tudo é muito parecido, formatado, sem vida. Falta ao jornalista-rei cair na real e ver que seu planeta não possui súditos. Essa é a única salvação.

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Estudante de jornalismo, Americana, SP