Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O peso das palavras

Em sua coluna de domingo [9/9/07], o ombudsman do New York Times, Clark Hoyt, avaliou a cobertura do diário sobre o secretário de Justiça dos EUA, Alberto Gonzales, que deixa o cargo no dia 17/9. ‘Por que o New York Times não diz logo que o secretário de Justiça Alberto Gonzales é um mentiroso?’, questiona Hoyt. ‘Afinal, antes do anúncio de sua renúncia, no dia 27/8, todo republicano afirmava que era difícil acreditar nele’.

Gonzales teve seu nome envolvido em uma controvérsia sobre a demissão de nove procuradores federais americanos, em 2006. Apesar de alegar não ter nenhum envolvimento com o episódio, descobriu-se posteriormente que ele estava na reunião em que os afastamentos foram aprovados. O secretário também havia declarado, sob juramento, que, após o início das investigações sobre as demissões, não discutiu o caso com nenhum conselheiro porque não queria interferir nele. Mas Monica Goodling, uma de suas conselheiras, reconheceu publicamente que Gonzales teria tentado lhe convencer a alterar seu depoimento. Em uma audiência no Congresso, o secretário de Justiça atribuiu as contradições a ‘lapsos de memória’.

Para o ombudsman, quando algo parece tão óbvio para os leitores – como as inconsistências nos depoimentos de Gonzales –, é compreensível que eles queiram que o jornal seja direto e fiquem frustrados quando isso não acontece. Bob Garfield, co-apresentador do On the Media, da NPR, questiona por que o NYTimes e outros diários não afirmam com todas as letras que Gonzales é um mentiroso.

Cuidado

Segundo Hoyt, esta é uma questão levantada diariamente nas redações de jornais. ‘Como lidar com uma polêmica destas nas páginas de notícias sem exagerar, por um lado, ou sem usar eufemismos, por outro? O quão longe se pode ir nos editoriais?’, perguntam-se os jornalistas. O NYTimes enfrenta pressões constantes em relação a palavras ou expressões que possam validar pontos de vista de determinados grupos.

Seria o caso das demissões dos procuradores um escândalo, como muitos veículos de comunicação americanos – e o próprio NYTimes, em editoriais – relataram? O departamento de jornalismo do diário optou por evitar o termo ‘escândalo’, por se tratar de uma palavra com teor tendencioso, alega o chefe de redação Richard L. Berke. O mesmo vale para o termo ‘mentiroso’, pois supõe que se sabia a priori a intenção de Gonzales.