É muito bom ter poder e fazer o que se quer, dizer o que bem se entende, contar piadas sem graça alguma e ter espaços em todos os setores da mídia escrita, falada e televisiva. O importante de tudo isso é utilizar as verbas publicitárias a contento e naturalmente as portas se abrirão de forma escancarada para que nossos grandes representantes do poder político, econômico e cultural tenham espaços na mídia para se apresentar sem preocupação alguma com questionamentos ou discussões. Infelizmente, hoje no Brasil predomina a ditadura do poder econômico onde os ricos têm concessões de emissoras, de redes de TV e de jornais para ditar o sentido da mídia e até dizer qual a notícia que pode ou não sair.
Em Fortaleza, é sintomática a utilização do poder midiático pelos gestores públicos. A prefeita de Fortaleza é hoje articulista do jornal O Povo, um jornal que se diz democrático, mas não dá espaços à contestação para não contrariar a nobre articulista que, claro, tem o direito de escrever, sim, mas o que acontece é que as contestações são trocadas pelos membros da tal coluna de opinião. A democracia na comunicação passa a ser mera retórica como é retórica a tal educação de qualidade, a saúde para todos e a luta contra a miséria. Nossos governantes sabem muito bem como calar a boca dos jornalistas e como efetivar a submissão da mídia aos interesses políticos.
Em recente episódio na Assembleia Legislativa do estado do Ceará, a mídia disparou: “Vandalismo na Assembleia”, como se todos professores fossem responsáveis por um ato isolado provocado por jovens no ímpeto de mostrar que aquela casa não satisfazia os interesses do povo. O ato de vandalismo foi uma pichação que questionava a educação de qualidade. O crime, aí, não foi a pichação em si, mas o que ficou gravado (Educação Já) e certamente nem os governantes nem os próprios jornalistas sabem o que é, pois o tal poder é embriagador e nem sempre os que o têm e convivem com ele sabem das demandas populares.
Comunicação democrática e verdadeira
Alguns jornalistas, para não se comprometerem diante do poder, preferem esconder as mazelas do sistema educacional e também as coisas boas que acontecem na educação. Quantas vezes os educadores não mandam suas experiências para alguns jornais e estas não são sequer mencionadas? Outro costume imoral dos jornalistas é não responder aos e-mails enviados. Que tal criar uma mensagem automática apenas para dizer que recebeu? As assessorias de imprensa dos órgãos públicos, ao invés de informarem, fazem a mera defesa dos poderosos de plantão e têm a síndrome de camaleão mudando de cor ao sabor de quem está no poder e tem dinheiro.
Nosso povo precisa de informações verdadeiras, nossa população está órfã de verdadeiros profissionais que esqueçam de sua paixões políticas e promovam a informação isenta, de qualidade e afirmativa para que todos possam ter espaços nos meios de comunicação sem distinção de cor, credo, raça ou preferência religiosa. Não podemos aceitar que a regra seja quem tem mais, fala mais, quem tem menos, fala menos, pois tal atitude não rima com democracia nem com o sentido verdadeiro da informação. A falta de abertura nos meios de comunicação nos jornais de nosso país é triste e certamente está fora do contexto e da serventia da informação. Por que todos calam em relação a isso? Onde estão as entidades de direitos humanos que não exigem a tal comunicação democrática? Felizmente hoje as redes sociais têm um papel importante que deveria ser reservado aos meios de comunicação que escondem ou falseiam a verdade. Um exemplo disso foi a repercussão das palavras do governador do estado do Ceará, que disse que para dar aulas a pessoa tem de ter amor e não pensar no salário. Só teve repercussão na mídia depois de explodir nas redes sociais. A mídia não deu o espaço para tamanha infelicidade de declarações e somente depois da repercussão nos espaços democráticos que hoje as redes sociais representam foi que começaram a ser divulgadas.
O certo é que é preciso repensar os meios de comunicação e suas redações, que hoje são comandadas por pessoas que escondem o sentido da notícia e que têm uma relação meio irreal com o sentido verdadeiro da sociedade. Talvez seja por isso que muitos jornais estão encalhados nas redações, pois nem inspiram confiança nem representam o sentido real dos que lutaram sempre pela comunicação democrática, verdadeira e digna para todos.
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[Francisco Djacyr Silva de Souza, vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE]