Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O príncipe baiano

Seguindo os ensinamentos de Maquiavel, a moral do senso comum não pode guiar os animais políticos que se apoiam na virtú e fortuna. Diferente do tirano que apenas usurpa a terra e oprime a plebe, o príncipe legítimo segue os preceitos maquiavelianos, enquanto o primeiro apenas é maquiavélico. Antonio Carlos Magalhães foi o príncipe da Bahia por décadas, assim como Mário Covas foi de São Paulo, Miguel Arraes de Pernambuco, Leonel Brizola do Rio de Janeiro e Tancredo Neves de Minas Gerais. Entretanto, coube ao baiano o papel de vilão na imprensa, enquanto em sua “nação” é visto como um dos seus orixás. Sua trajetória política teve escândalos que lhe renderam o apelido de “Toninho malvadeza”, e também teve atitudes corajosas, como a defesa de liberdade de culto religioso – posição pouco defendida pelos setores do sul e sudeste – e a industrialização baiana com a vinda da fábrica da Ford.

Interlocutor de muito carisma, era visto dançando em palanques e visitando terreiros, mas além do lado showman tinha uma postura definida, homem de direita, o que, independente de ideologia é louvável, além de que a direita há anos é demonizada por alguns setores da imprensa e das classes artísticas e intelectuais, que em muitos casos formam uma pseudo-esquerda. Apoiando-o ou o combatendo-o, era possível esperar quais seriam as ações e reações do príncipe baiano.

Como todo clã importante, os Magalhães lidam com inimigos externos e pendências dentro de suas próprias veias. O herdeiro político do “Pai da Bahia” é ACM Neto, já que o filho Luís Eduardo Magalhães morreu de forma precoce, enquanto o jovem deputado mostra crescimento dentro do tabuleiro brasileiro. A presença de ACM Neto na mesa da posse de Dilma Rousseff em 2010 não foi apenas um processo burocrático, mas também uma imagem simbólica de sua posição.

Maniqueísmo e paixão

A história de avô e neto se assemelha em partes com Cesare Borgia e seu pai, o papa Alexandre VI. Quando o sacerdote morreu, o duque teve seu poder esfaqueado, conforme aponta Maquiavel em sua obra O Príncipe. Portanto, quando ACM avô faleceu (2007), o descendente perdeu uma oportunidade de migrar para o executivo e assumir a prefeitura de Salvador. O jovem pode usufruir do apoio de setores da imprensa local e de liberais ortodoxos que possuem condições financeiras superiores a da base dos partidos de esquerda ou que se dizem de esquerda. Outro ás será agregar o apoio dos populares. Com capital e imagem tudo se torna mais acessível.

Agora deputado federal e um dos principais nomes da oposição, começa a reerguer sua base, os pseudo-aliados de seu avô mostraram sua face e migraram para outro partido que não assume ser nem de direita, nem de centro, nem de esquerda, no qual pode estar envolvido em um plano de melhorias públicas ou de poder pelo poder.

ACM Neto, em seu Twitter, avisou que o PSD seria o “Partido Sem Decência”, em seu estilo agressivo herdado do avô, apesar de pelo viés democrático pode ser considerada uma atitude que baixa o nível do debate a provocação está inserida no jogo político. “Os homens devem ser adulados ou destruídos” ensina Maquiavel, e ACM Neto já declarou que o DEM foi prejudicado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e seu PSD. Outro inimigo em sua lista é o governador Jaques Wagner (PT), que comanda a Bahia. Para ir além do posto de deputado e já tendo ofendido ambos deve escolher qual buscará destruir primeiro.

Em um panorama que migra cada vez mais para o centro, com os atores políticos atuando em momentos na centro-esquerda, centro ou centro-direita, a ala de ACM Neto no DEM emerge como opção de direita assim como é legítimo os quadros do PSOL defenderem a esquerda. Entretanto, alguns setores da mídia precisam cobrir de maneira menos maniqueista e apaixonada aqueles que assumem suas posições com vigor.

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[Gabriel Leão é jornalista, São Paulo, SP]