Em referência à matéria publicada no Estadão e em diversas outras mídias sobre a suspeita de participação do psiquiatra Luiz Altenfelder no escândalo da promotora em Brasília e de seu suposto treinamento para enganar a investigação através do psicodrama, minha primeira reação é de espanto. Me perguntei: como gravaram e divulgaram uma sessão de psicoterapia individual, particular, sem as pessoas envolvidas saberem? Pior: selecionaram trechos, isolados e fora do contexto. Os trechos selecionados trazem a público a suspeita de falta ética grave.
A suspeita de falta de ética grave da promotora se expandiu para o seu psicoterapeuta. Como discutir estas questões em público sem expor mais ainda o paciente? Um grande apuro.
Prontamente, o CRM abriu sindicância. Acho adequado. Trata-se de um fórum adequado para a proteção de todos. Mas continua a necessidade de discussão pública do que é o trabalho de psicoterapia. Vi e ouvi na TV psiquiatras questionando, falando que psicoterapia devia trabalhar com o passado, e não com o futuro. Contrariamente, os que trabalham com esta questão sabem que para certas situações realizar o treinamento do papel, se antecipando às situações reais, é o indicado. Aliás, no livro recém-publicado de Luiz Altenfelder o tratamento psicoterápico psicodramático de pacientes graves é fartamente discutido.
O “teatro da mídia”
Muita calma e não se precipitar em julgamentos fáceis e rápidos, é o que precisamos. A mídia precisa ser questionado sobre a ética desta reportagem. Nós, psicodramatistas, precisamos aprender a discutir nossa atividade profissional em público. O Brasil precisa encontrar meios mais eficazes e éticos de questionar atividades profissionais suspeitas.
Como uma mídia se sujeita a publicar trechos cortados de uma sessão de psicoterapia e editá-los de tal maneira que a suspeita apareça como verdade absoluta? Será que este “teatro da mídia” colaborando para um linchamento sumário de um profissional colabora para o Brasil realmente investigar com eficiência e ética profissionais suspeitos de corrupção?
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Psicodramatista, São Paulo, SP