Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O quarto poder e a politicagem

Não há como falar em política na Bahia sem citar o nome de Antônio Carlos Magalhães. Depois de ser prefeito de Salvador e governador da Bahia apoiado pela ditadura militar, tornou-se ministro das Comunicações do governo José Sarney, a partir de 1985.

Dois anos depois, com o apoio de Roberto Marinho devido às concessões feitas pelo ministro, consegue o direito de retransmissão da Rede Globo para a Bahia, através do seu recém-criado canal, a TV Bahia, à época, retransmissora da Rede Manchete. A Rede Globo era transmitida para o estado pela TV Aratu desde 1969 e em apenas dois anos no ministério o político baiano conseguiu a concessão.

Não há como falar em política no Maranhão sem citar o nome de José Sarney. Depois de ser governador do estado do Maranhão apoiado pela ditadura militar, tornou-se presidente da República ao assumir o cargo depois da morte de Tancredo Neves, a partir de 1985.

Dois anos depois, com o apoio de Roberto Marinho devido às concessões feitas pelo então presidente, consegue o direito de retransmissão da Rede Globo para o Maranhão, através do seu recém-criado canal, a TV Mirante, à época retransmissora do SBT.

Duas biografias coincidentemente parecidas que têm em comum um fato gravíssimo. O uso da imprensa e o abuso do poder para conseguir a transmissão da emissora líder de mercado em todo o país, com o intuito de conseguir força política e apresentar ao povo, ainda desprovido de outros meios de comunicação mais eficientes para alcançar as notícias, as verdades criadas e a opinião pública pré-fabricada ao público.

Imprensa e política

Mas por que motivo tive que voltar ao passado e falar sobre o finado político baiano? Simplesmente para lembrar a todos a força da imprensa e o seu papel fundamental na construção de cidadãos ou, simplesmente, de eleitores de cabresto eletrônico.

Vejo na grande mídia, agora, as acusações de nepotismo, abuso de poder, uso de laranjas, manipulação e negociatas utilizadas pelo senhor presidente do Senado. Sinto o clamor público em relação à sua saída da cadeira de presidente. Assisto na TV Senado aos nobres deputados, antes beneficiados por Ele (o Deus do Maranhão), agora o apedrejando e crucificando-o. Mas porque será que isso só veio acontecer agora? Será que a grande mídia nunca soube de nada disso? Será que nunca compararam as trajetórias do ex-ministro das comunicações com a biografia ‘ilibada’ do atual presidente do Senado? Ou simplesmente, ‘não era o momento’ de se fazer essa análise mais detalhada sobre a vida do senador Sarney?

A resposta é simples. A imprensa está intrínseca na política e vice-versa. Não há um sem o outro. A TV Senado é o grande festival, uma espécie de pororoca onde o rio encontra o mar. A política se choca com a mídia e saem as duas a devastar tudo que aparece pela frente. Todos fazem questão de comparecer às CPIs e às plenárias que serão transmitidas para todo o Brasil por uma TV que é assistida, apenas, por quem se interessa por política ou alguém que leu algo interessante sobre esse canal da sua revista preferida.

Veja ou CartaCapital

Contudo, o que determina o que é uma boa leitura ou uma má leitura?

O que define hoje se a Veja é a melhor revista do país ou se a CartaCapital é quem merece esse título não é a sua linha editorial, e sim, a orientação política de quem as lê.

Quem apóia o atual governo, lê CartaCapital, quem é contra, vê a Veja. A semiótica política nas entrelinhas das duas grandes revistas chega a ser vergonhosa em alguns casos, como no apoio deslavado da Veja à campanha de Alckmin nos outdoors da revista. A peça publicitária continha a foto do candidato tucano à Presidência da República e o título, ‘O desafiante’. Obviamente o TSE interferiu e proibiu as peças, pois a propaganda eleitoral era muito evidente.

Já a CartaCapital, uma explícita revista de esquerda (se é que isso ainda existe no país) serve de contrapeso aos ‘abusos direitistas’ da revista anterior. O pior de tudo é o cinismo das duas em querer ser imparciais. Talvez até enganem a grande massa, mas que a logo da Carta é uma estrela vermelha e a da Veja é um tucano azul e a amarelo, ninguém tem dúvidas.

O caso Sarney

A campanha contra José Sarney, chegando agora com mais de 20 anos de atraso, é somente mais uma jogada política em época de eleição. Afinal, 2010 vem aí. Mas quem não sabe disso? A oposição, completamente perdida em suas estratégias, não sabia o que fazer. Vejamos:

** Como atacar publicamente o presidente da República se o mesmo goza no momento de uma altíssima taxa de aprovação? Falar mal de Lula pegaria mal.

** Atacar o Bolsa Família? Também não. Eles perderam a eleição passada com essa estratégia e agora querem assumir a ‘paternidade’ do projeto.

** Chamar a candidata dele de guerrilheira e ex-presidiária? A Folha fez, mas não deu resultado.

** CPI da Petrobras? O governo ficou com as peças chaves da Comissão e ainda jogou o peso político de uma intenção de privatização da estatal, nas costas dos tucanos e democratas.

** Então que fazer? Simples, usemos a mídia para atacar o principal aliado do atual governo. O PMDB e um dos seus representantes mais emblemáticos, José Sarney. Simples, não? Mas não podemos parar por aí. Vamos usar a Veja para espalhar o boato de um terceiro mandato de Lula para tentar ‘endemonizar’ a figura do presidente, comparando-o a Chávez, Evo Morales, Fidel Castro e até Hitler. Isso aconteceu em abril deste ano.

Já na Veja desta semana (última de julho), aparece uma cobra engolindo o Palácio do Planalto com o inteligente título ‘PMDB, da demagogia ao fisiologismo’. O maior partido político do país é tratado na matéria ‘A digestão do poder’, como acéfalo, ‘maleável’, ‘adaptável politicamente’ (Maria-vai-com-as-outras), atrasado e resiliente (resistente a choques). Além, obviamente, de demagogo.

Pergunta: como falar de demagogia quando uma revista faz política abertamente contra um determinado partido, ou dois, e ainda se julga isenta e sem tendências políticas? Para ajudar ao semanário da Editora Abril, segue uma pérola do Aurélio:

Demagogia: s.f. Política que favorece as paixões populares. / Dominação das facções populares. / O que inculca os valores populares.

Veja só, é a cara da revista…

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Estudante de Propaganda e Marketing da Faculdade 2 de Julho, Salvador, BA