Pelo que temos notado, o brasileiro se importa muito com a imagem do país no exterior. Basta atentar para qualquer entrevista com alguma ‘celebridade’ internacional e logo sai: o que você acha do Brasil? Se a resposta for algo do tipo ‘o povo é maravilhoso’ ou ‘adorei e quero voltar quando puder’, a missão está cumprida. Reforça-se a ideia de que, apesar de todos os problemas, somos o melhor povo do mundo.
O entrevistador de celebridades Amaury Júnior lançou um novo gênero de entrevistas. Em vez de levar o entrevistado para um estúdio, vai ao seu encontro em lugares públicos ou eventos. Numa festa em Los Angeles, se identificou ao ator estadunidense Charles Bronson como repórter brasileiro. A reação do protagonista de muitos filmes exibidos no Brasil foi irônica: Brasil, o que é o Brasil? Onde fica esse tal Brasil? Algumas outras ‘celebridades’ também foram pouco delicadas com o ego dos brasileiros.
Faz bastante sucesso no Brasil o desenho de animação Os Simpsons, de Matt Groening. Os personagens são uma família de classe média nos Estados Unidos através da qual seu criador expressa um humor politicamente incorreto e tão ácido que não poupa gente famosa, instituições e costumes do seu e de outros países. Num episódio em especial, comentado pela revista Veja em 2002 e exibido em canais de TV por assinatura, ‘Blame it On Lisa’, Os Simpsons viajam para o Brasil. Na trama, nosso país é marcado por pobreza, sexo, carnaval, futebol, favelas, corrupção e outros elementos pejorativos. Além de as pessoas terem sotaque espanhol. Em 2003, o episódio concorreu ao prêmio de melhor roteiro de televisão, segundo o Sindicato dos Roteiristas da América.
‘Obrigado e leve um macaco’
Em outubro de 2009, o Rio de Janeiro foi a cidade escolhida pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) para sediar as Olimpíadas de 2016, deixando para trás cidades como Chicago, Tóquio e Madri. Num programa de entrevistas, Late Show, o ator Robin Williams declarou a um entrevistador, David Letterman, que a concorrência em Copenhague foi desleal. Pois a comissão do Rio de Janeiro levou 50 strippers e meio quilo de pó, enquanto Chicago enviou Oprah Winfrey e Michelle Obama. Depois da piada, o ator ainda imitou um macaco. O episódio foi noticiado nos principais jornais e telejornais do Brasil com ênfase para o mau gosto da piada.
Um episódio semelhante aconteceu há poucos dias. Sylvester Stallone filmou partes de seu novo filme, The Expendables, no Rio de Janeiro. Divulgando o filme no Comiccon 2010, o autor declarou que filmar no Brasil foi bom. Disse que podiam matar pessoas, explodir tudo e diziam ‘Obrigado, obrigado e leve um macaco’. Ainda traziam cachorro quente para aproveitar o fogo. Referiu-se também ao símbolo do Bope, uma caveira, duas armas e uma adaga cravada no centro, como elemento que mostra o Brasil como problemático.
Problemas facilmente esquecidos
Temos acima situações que mostram que o Brasil tem uma imagem estereotipada no exterior. O mais curioso é notar o quão ofendidos nos sentimos quando uma dessas ‘celebridades’ não diz o que queremos ouvir, da beleza de nossas praias e das mulheres, da acolhida do povo ou do calor do público, no caso dos músicos.
O entrevistador Amaury Júnior afirmou ter respondido a Charles Bronson que o Brasil é aquele país que engordou a conta bancária do autor muitas vezes por assistir seus filmes canastrões, mas um novo Brasil decretou sua decadência e com a entrevista queria dar-lhe uma chance de restaurar sua credibilidade. Em 13 de abril de 2002, a Folha de S.Paulo noticiou que a produção de Os Simpsons pediu desculpas por ter escarnecido do Rio de Janeiro e tirou mais uma casquinha oferecendo Homer Simpson para lutar com o então presidente Fernando Henrique Cardoso no ringue de um programa de celebridades em decadência. Já Stallone, se desculpou via Twitter de imediato. O Fantástico ainda enviou um jornalista para o entrevistar, como que a tirar satisfações: O que é isso de falar mal do Brasil?
Em resumo, podemos dizer que somos um país cheio de problemas. Mas prevalecendo a imagem de paraíso tropical com mulheres bonitas, nos esquecemos deles facilmente. E viva o samba, o carnaval e o futebol!
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Professor de História, Ponta Grossa, PR