Em sua coluna deste domingo [21/10/07], a ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, tratou das omissões e das ênfases dadas a determinados assuntos no diário. Alguns grupos ambientais criticaram recentemente uma matéria publicada na capa sobre os benefícios de se comer peixe durante a gravidez, prática recomendada pela Coalizão Nacional de Mães e Bebês Saudáveis (National Healthy Mothers, Healthy Babies Coalition). Segundo os críticos, é alto o risco deste tipo de alimento conter mercúrio, sendo sua ingestão não recomendada para gestantes.
A repórter Sally Squires informa no artigo que as recomendações foram emitidas por ‘uma coalizão de cientistas de grupos privados e de agências federais’. As recomendações, entretanto, entram em desacordo com o Food and Drug Administration, órgão americano que regulamenta a comercialização de todos os produtos alimentícios do país, e com a Agência Ambiental dos EUA. Na realidade, elas foram feitas pelo Grupo de Nutrição Materna (Maternal Nutrition Group), composto por 14 nutricionistas, pesquisadores e físicos, a maior parte deles de universidades. A Coalizão Nacional de Mães e Bebês Saudáveis apenas decidiu que as recomendações deveriam ser divulgadas, explica Judy Meehan, diretora-executiva da instituição.
O Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano e o Centro de Controle de Doenças e Prevenção enviaram uma carta ao Post, publicada no diário, discordando das recomendações. Desde então, a coalizão postou uma declaração em seu sítio informando que a aprovação do conselho não ‘implica que ela foi endossada pelos membros de nossa organização’.
Conflito de interesses
Sally deveria ter mencionado, em seu artigo, que o Instituto Nacional da Pesca (NFI, sigla em inglês) pagou US$ 60 mil para ajudar na divulgação da pesquisa e US$ 16 mil por despesas de viagem e honorários para os membros do grupo de nutrição. A porta-voz do instituto, Mary Anne Hansan, nega esta informação. James McGregor, professora da Universidade da Carolina do Sul e membro do Grupo de Nutrição Materna, afirmou que pediu dinheiro ao NFI porque era a ‘única maneira de reunir todos os pesquisadores’. O editor da seção de Ciência, Nils Bruzelius, e a repórter estavam cientes do dinheiro envolvido. Bruzelius não sabia, no entanto, que os membros da coalizão não endossavam as recomendações.
Destaque às críticas ao governo
Outra matéria gerou críticas de diversos leitores citava o tenente-general Ricardo S. Sanchez, ex-chefe das Forças americanas no Iraque, afirmando que o plano de invasão ao país em 2003 ‘falhou catastroficamente’. Ele culpou a administração, o Congresso e especialmente o Departamento de Estado pela ‘falha catastrófica’. Sanchez também criticou a mídia, mas esta informação só foi dada no último parágrafo.
‘Jornalistas parecem gostar quando Sanchez critica a administração Bush, mas quando ele critica os jornalistas, isto é ignorado’, lamentou o leitor Dean Dykema. ‘Não temos problemas em escrever sobre as pessoas que não gostam de nós, mas no contexto de todas as afirmações de Sanchez, isto é muito menos atraente’, defendeu o editor da seção Nacional, Jeffrey Smith. Deborah lembra que outros veículos de comunicação – como o New York Times, a AP, a AFP, Hearst e a Reuters – nem chegaram a mencionar estas críticas à mídia.