O estuário de Suape está condenado. Não só pelo governo estadual, que tem a destruição ambiental como prática recorrente para a promoção do crescimento econômico, mas também pela mídia, seja ela a mainstream (portais de notícias) ou a alternativa (blogosfera ambiental e progressista). Com poucas exceções que persistem na resistência escrita contra o desmatamento e aterro daquela área, vemos um silêncio tumular na grande maioria das entidades e pessoas que deveriam estar publicando denúncias contra a insustentabilidade do porto de Suape e a política antiambiental do governo Eduardo Campos.
Se nos primeiros meses depois do anúncio do então PL 1.496/2010 (hoje Lei 14.046/2010) – a lei do sacrifício ambiental pró-Suape – tivermos discretas gritas por parte de políticos como Raul Jungmann, o hoje secretário de Meio Ambiente Sérgio Xavier e uma divulgação razoável do plano destruidor em diversos portais e blogs, hoje essa onda relativamente volumosa de notícias já é coisa de um passado distanciado. Secou como o Mar de Aral, também vítima de um plano ecocida de ‘desenvolvimento’. É como se o ecocídio de Suape tivesse sido rebaixado ao status de lenda urbana, infactível e indigna de divulgação.
Para piorar, nem a maioria dos próprios ambientalistas vem mais divulgando abertamente possíveis novidades no caso, o que deixa a população bastante mal informada e inibe qualquer iniciativa de mobilização contra a destruição ambiental que se vê no horizonte. Como seria possível lutar contra algo obscuro, cujos aspectos éticos e socioambientais são quase desconhecidos, e ainda mais sem apoio explícito de ninguém? Acaba-se promovendo passivamente, por omissão, um verdadeiro obscurantismo que deixa o governo livre para atuar nas sombras, escondido das pessoas, e torna a sociedade pernambucana e brasileira ignorante e inerte acerca do que está prestes a acontecer no estuário.
O ecocídio que se avizinha
Sem falar no silêncio das ONGs ecológicas de abrangência nacional, muitas das quais se restringiram a noticiar em 2010, em uma ou duas postagens por blog, a votação e aprovação do PL 1.496. Fala-se muito de priorizar os ecossistemas tipicamente tropicais, enfocando-se apaixonadamente a Amazônia, Mata Atlântica e mangues, mas quase nada sobre a praticamente iminente catástrofe antrópica de Suape, que vitimará grande área de mangue e um pedaço prezável de floresta atlântica e restinga.
É provável que a omissão quase generalizada tenha a ver com as dimensões relativamente reduzidas da área a ser devastada – pouco menos de 7 quilômetros quadrados, muito pouco diante, por exemplo, dos mais de 500km² de floresta ameaçados pela hidrelétrica Belo Monte e das dezenas de milhares de km² ceifados da Amazônia nos últimos dez anos. Postura essa que menospreza a sensível situação da vegetação litorânea e ciliar brasileira, na qual três hectares já fazem grande diferença para o ecossistema local e mesmo para os habitantes humanos das redondezas e pequenos desmatamentos somados totalizam enormes perdas de biodiversidade.
Se a situação persistir, perderemos para sempre um dos maiores estuários de Pernambuco para o desenvolvimentismo irresponsável do governo estadual, cujo paradigma relembra o industrialismo europeu dos séculos 19 e 20. A hora é de se esboçar uma reação final, ressuscitando-se as denúncias e os debates sobre (in)sustentabilidade e políticas públicas e abrindo os olhos da população diante do ecocídio que se avizinha.
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Estudante, Recife, PE