Educação, em tese, existe para formar pessoas. Formá-las como cidadãs, como profissionais, como seres pensantes e livres. Na prática, torna-se dinheiro (ponto de vista empresarial), rende votos (ponto de vista político) ou vira notícia (ponto de vista midiático).
Na revista Claudia deste mês de abril, a matéria ‘Como construir o estudante do século 21’ ocupa oito páginas. A jornalista Sibelle Pedral descreve algumas experiências pedagógicas interessantes em colégios particulares e públicos de São Paulo, apoiando-se em comentários de Moacir Gadotti, Fredric Litto e Alípio Casali, conhecidos pensadores da educação. Pinçando essas experiências, indica um modelo de ‘boa escola’.
Não é a primeira vez. Em junho de 2007, com a assinatura de Suzana Lakatos e colaboração de Sibelle, a mesma revista publicou ‘Vergonha nas escolas’, pondo em xeque os Parâmetros Curriculares Nacionais e slogans como ‘construir o conhecimento’ e ‘educar para a vida’.
A solução já estava apresentada nessa edição de 2007:
‘Cresce o número de escolas privadas e redes municipais que firmam convênios com grandes sistemas de ensino. De acordo com Claudia Costin, vice-presidente da Fundação Victor Civita, quem comprou um método saiu-se melhor na Prova Brasil: ‘Bem ou mal, essas instituições passaram a contar com um material que diz claramente o que fazer em cada aula. O plano de aula, embora pareça um pouco totalitário, garante a aprendizagem.’ Com 700 escolas privadas conveniadas, o Objetivo firmou acordo com mais de 30 prefeituras espalhadas pelo país. ‘As cidades estão descobrindo que essa estruturação assegura qualidade de ensino’, conta Márcia Carvalinha, coordenadora do departamento de apoio pedagógico às escolas conveniadas do Objetivo. Outro peso-pesado, o Sistema Anglo, tem 600 estabelecimentos conveniados. O grupo Abril, que engloba as editoras Ática e Scipione, também colocou no mercado o próprio sistema de ensino, o Ser, que poderá ser adotado a partir de 2008 e põe à disposição dos professores o conteúdo das publicações da editora (incluindo a revista Claudia).’
Apostilas pasteurizadoras
É uma tendência que passa ao largo das recomendações do MEC. Instalou-se na rede privada – calcula-se que um terço dos alunos de escolas particulares estudam segundo esses sistemas, Objetivo, Anglo, COC, Positivo, Pueri Domus, Pitágoras, o da Saraiva, da Abril etc. – e avança para as redes públicas: ‘150 municípios paulistas adotam apostilas em escolas públicas’ (Estado de S. Paulo, 13/04).
As apostilas, produzidas por grupos privados, é uma moda que veio para ficar, se não se oferecer nada em seu lugar, como tem procurado fazer a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, com já previsível fracasso, pois os professores se sentem igualmente atropelados por fórmulas e indicações que prescindem de seu parecer.
Na Folha de S.Paulo (13/04), Antônio Ermírio de Moraes manifesta apoio às iniciativas de Maria Helena Guimarães de Castro para melhorar a situação caótica em que se encontra a educação em São Paulo. Mas faz uma consideração interessante:
‘Isso precisa continuar, acrescentando-se novas medidas não só para chegar a melhores notas nos exames de avaliação mas, sobretudo, para ensinar os alunos a pensar – e pensar bem. É disso que dependerão o sucesso profissional e o progresso da nação.’
Palavras que nos fazem pensar… Serão as apostilas pasteurizadoras o melhor caminho? Onde está a filosofia, que alguns consideram penduricalho na grade curricular? E filosofia que virá de onde?
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br