Em sua coluna de domingo [9/3/08], a ombudsman do Washington Post, Deborah Howell, tratou de um artigo de opinião, publicado na semana anterior, que provocou a ira de milhares de mulheres – inclusive ela própria. Escrito por Charlotte Allen, o artigo falava das mulheres que são fãs do pré-candidato democrata Barack Obama e que, em seus comícios, esperneiam e chegam até a desmaiar – como nos shows de rock’n’roll. ‘Ao ler sobre estes episódios, fico pensando se a mulher não é realmente o sexo mais frágil, ou então, o mais estúpido, com nossos cérebros sendo invadidos por emoções e distrações superficiais’, escreveu Charlotte. ‘Pode ser depreciativo, mas muitos dos mitos sobre a inferioridade feminina têm se mostrado verdadeiros’.
Além das argumentações polêmicas, a autora mencionava no artigo dados que sugerem que pessoas do sexo feminino se envolvem mais em acidentes de carro, têm mais dificuldades com problemas espaciais, como leitura de mapas, e têm cérebros menores. Segundo Deborah, o texto era ofensivo. Charlotte quis escrever um artigo bem-humorado, mas, na opinião da ombudsman, é preciso ter muito cuidado ao se usar humor, sátira ou ironia quando se aborda raça, gênero ou religião. É necessário um cuidado extra com a edição do texto, pois o humor pode ser facilmente mal-interpretado. O artigo de Charlotte acabou não tendo graça nenhuma ao humilhar as mulheres; no fim, nenhum leitor quer ser insultado pelo diário.
Desde 1993, Charlotte escreveu 28 artigos de opinião para o Post. Nenhum deles havia sido tão polêmico. Ela escreveu este último texto a pedido da editora Zofia Smardz, que o achou engraçado. Segundo ela, seis outras mulheres – cinco do Post – leram o artigo e apenas uma o desaprovou. O editor das páginas editoriais, John Pomfret, aprovou a publicação e achou que o artigo geraria polêmica – mas não tanta. ‘Foi uma experiência que me ensinou sobre o poder desta seção, sobre o meu trabalho e sobre os nossos leitores’, diz ele.