Principal demanda funcional do ministro da Comunicação Social no governo brasileiro é administrar um orçamento de quase R$ 2 bilhões de verbas de publicidade (em 2012, R$ 1.797.848.405,13.) e os contratos publicitários do governo federal, o maior anunciante do Brasil. Entretanto, sua atribuição institucional mais importante é formular e conduzir diretrizes, programas e estratégias da política de Comunicação Social do governo, como fez, na história recente do Brasil, em sua plenitude, o ministro Said Farhat, no governo João Figueiredo. Sem cumprir essa responsabilidade não será ministro da Comunicação Social e o governo corre o risco de cair em um grande buraco negro.
É o caso do governo Dilma Rousseff, que tem “comunicação errada e errática, vive um caos político e dificilmente conseguirá reverter esse quadro”, conforme diagnóstico de Thomas Traumann quando ainda ministro da Comunicação Social, recentemente demitido e substituído. Em documento interno vazado, ele acertou no atacado mas errou no varejo. Acertou, por exemplo, ao dizer que “aliados do Planalto estão levando uma “goleada” da oposição nas redes sociais”, mas errou ao avaliar que a militância do PT se sente acuada pelas acusações de corrupção na Petrobras e desmotivada por não compreender o ajuste na economia. Pelo contrário, a militância petista está desmotivada exatamente porque não tem argumento defensivo no caso do Petrolão e por compreender os efeitos danosos do ajuste na economia para todo mundo.
Acertou na crítica às primeiras medidas anunciadas por Dilma após a reeleição: “A mudança nas regras do seguro desemprego e pensão por morte, o desastrado anúncio de cortes do Fies, o aumento nos preços da gasolina e energia elétrica e o massacre nas TVs com as denúncias de corrupção na Petrobras geraram entre os dilmistas um sentimento de abandono e traição.” Mais do que isso, pesquisa Datafolha mostrou grande indignação: Dilma mentirosa para 47% dos brasileiros, desonesta para 54% e falsa para 50%. Entre esses estão seus eleitores, revoltados por terem sido enganados e traídos.
Por isso, Traumann acertou ao ressaltar que dificilmente o quadro será revertido. Mas errou ao apontar estratégias para virar o jogo, como concentrar verbas publicitárias da Secom-PR em São Paulo para ajudar a elevar a popularidade do prefeito Fernando Haddad, sob este argumento: “Não há como recuperar a imagem do governo Dilma em São Paulo sem ajudar a levantar a popularidade do Haddad. Há uma relação direta entre um e outro.” Mais do que equivoco. Se a Secom-PR fizer isso estará cometendo crime de improbidade administrativa pois utilizando verbas de publicidade do governo em favor do partido e da promoção eleitoral da presidente Dilma. Não pode. De tudo isso, resta uma conclusão: Traumann queria deixar o governo abatido e sem rumo, num beco sem saída, e fez um documento critico para não deixar o Planalto como incompetente, porém sinalizando que entende da sua área e não agiu porque não teve apoio.
Um sapo extra
Na verdade, Thomas Traumann saiu do governo Dilma tentando se livrar de um trauma que lhe acompanhou até o fim: ministro da Comunicação Social de direito sem ser ministro da Comunicação Social de fato. Culpa da própria presidente Dilma que nunca respeitou o ministro da Comunicação Social como ministro, com responsabilidades estratégicas no governo, mas apenas como simples assessor de imprensa atendendo as demandas diárias dos jornalistas. Comprovação: antes da demissão de Traumann, em plena crise, a presidente Dilma fez reunião com vários ministros com os quais debateu estratégias de comunicação do governo, após as grandes manifestações e a queda de popularidade, mas sem a presença do ministro Traumann, não convidado. No próprio domingo dos protestos, 15 de março, Dilma se reuniu para avaliação e definição de estratégias de comunicação, sem a presença do ministro Traumann, não convidado, somente com os ministros da Secretaria Geral da Presidência, Miguel Rossetto, da Casa Civil, Aloísio Mercadante, e da Justiça, Eduardo Cardoso, três maus conselheiros pois três ministros radicais petistas que não enxergam um palmo à frente do nariz fora do PT. Parece que Dilma prefere ser enganada por julgamentos petistas parciais e tendenciosos a ouvir análises imparciais e seguras de um cientista político independente.
Quanto ao ex-ministro Trauman, também petista de carteirinha, sua presença nessa reunião não iria resolver o problema, mas teria sua função respeitada e alguma lógica de comunicação a ser considerada. Este é um grave problema da presidente Dilma: falta de entendimento sobre o papel estratégico do ministro da Comunicação Social. Como não consegue compreendê-lo, nem aceitá-lo, primeiro passo para resolver o problema, melhor não tê-lo, evitando desgaste, frustração e trauma. Por isso, Thomas Traumam imaginou que poderia superar esse trauma acumulando mais poder. Queria que ficassem também sob sua coordenação a Voz do Brasil, a Agência Brasil e os sites e redes sociais dos Ministérios. Esqueceu-se de que, como Lula e o PT, Dilma tem dificuldades para fazer as coisas certas na comunicação. Prefere falar só para dentro do PT, desprezando os aliados, e prefere o marketing porque acha que pode mentir à vontade, já que propaganda é propaganda. Foi mentindo, que o Brasil estava às mil maravilhas, que ela ganhou a reeleição. Depois, o que se viu foi o grande rombo fiscal mais o pibinho de 0,1%. Agora está pagando o preço das mentiras de campanha. Segundo o último Ibope, rejeitada por 64% da população e aprovada por apenas 12% dos brasileiros. Dessa forma, quem aguentar ficar no cargo de Ministro da Comunicação Social, nesse cenário ainda mais complicado e até tenebroso do governo Dilma, terá que ter estômago para engolir esse sapo extra: o trauma de Traumann.
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Jota Alcides é jornalista e escritor