Estarei escrevendo na tentativa de estar contribuindo para que os leitores possam estar prestando atenção a uma determinada forma de comunicação oral e escrita que está sendo comumente utilizada em nosso tempo.
Caros leitores, por favor, não estranhem a linguagem. Procuro apenas ser fiel à maneira de se comunicar que, se já foi novidade e modismo, hoje parece consolidada e incorporada à fala e escrita da intelligentsia de Pindorama. Até mesmo quem deveria prezar pela ‘última flor de Lácio, inculta e bela’, como diria o poeta, aderiu ao gerundismo.
O gerúndio, segundo o dicionário Aurélio, vem do latim gerundiu: é a forma nominal do verbo, formada, em português, pelo sufixo -ndo. Ex.: comendo, falando. Claro que bem usado tem sentido e cumpre a sua função. Por exemplo, alguém me liga no horário do almoço e recebe a seguinte resposta: ‘Ele está almoçando.’ Ainda que insista, o recado está dado.
Ganhando brilhantismo
Mas há usos que são estranhos. Não direi risíveis para não ofender! O/a jornalista informa que ‘vamos futuramente estar falando sobre isto’ ou que ‘a gente vai estar conversando’. Outro diz: ‘É uma satisfação estar conversando com você.’ Já a autoridade pública, inquirida sobre um problema urbano, não se faz de rogada e promete ‘buscamos sempre estarmos fazendo’. Também diz que ‘Nós podemos estar trazendo.’ O ambientalista, por sua vez, faz questão de dizer que ‘vamos estar plantando a árvore’. Mas não haverá resistências ao plantio? Afinal, nem todos são palmeirenses, nem todos gostam do verde em frente à residência e, principalmente, ao seu comércio! ‘Acho que ninguém vai estar se opondo a isso’, responde.
E já que falamos em árvores, tratemos do nosso próprio ‘quintal’. No meio acadêmico, o gerundismo faz parte das rodas de conversas, reuniões e ornamenta o discurso professoral. Muitos reclamam que os alunos não sabem escrever, e que estão viciados na linguagem do chat, msn, orkut e coisas do tipo. Pelo menos nesses casos evita-se o gerúndio – o estilo é telegráfico e não fica bem esticar a palavras. Porém, em plena aula, o/a professor/a, talvez imaginando que assim seu discurso ganha brilhantismo, abusa do gerúndio e fala coisas como: ‘está sendo organizado’; ‘ele vai estar colocando’; ‘não deixar de estar pensando’; ‘pra nós estarmos pensando’; ‘o primeiro a estar relacionando’ etc.
O uso do gerúndio, nessas circunstâncias, é uma daquelas coisas que nos faz segurar o riso. Não rimos por respeito. Mas confesso que também são situações irritantes. Uma vez recebi um email cheio de gerundismo. Não resisti e, com o mesmo estilo, caprichei na resposta. O interlocutor não achou graça e não escreveu mais. Passei a prestar mais atenção nessa mania e guardei preciosidades. Compartilho algumas com os leitores.
‘É uma satisfação estar conversando com você’
‘Está sendo lançado’
‘Estarão sendo iniciadas’
‘Estarei enviando’
‘Estarei fazendo’
‘Estaremos apresentando’
‘Onde a gente vai tá fazendo’
‘Você está se comunicando com’
‘Devo estar enviando em breve’
‘Estamos tendo’
‘Estar acompanhando’
‘Gostaria de estar realizando a publicação’
‘Quero estar participando’
Agradeço aos autores. Não cito nominalmente porque não é pessoal, nem recordo as autorias e fiz questão de reter apenas as frases. Também não é meu intuito corrigir ninguém. Apenas me soa esquisito tanto gerundismo. Parece-me que torna a língua, parafraseando o poeta, ‘inculta e feia’. Seria influência do inglês? Não é o caso de repensar a linguagem? Prefiro, então, a fala das pessoas comuns, mesmo que, perante a norma culta, cometam erros. Mas é melhor do que o discurso rebuscado, cuja prolixidade gera pérolas como as relatadas.
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Professor da Universidade Estadual de Maringá, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo