Como levar jornalismo de qualidade a todas as camadas sociais da população brasileira? O Observatório da Imprensa exibido na terça feira (27/11) pela rede pública de televisão analisou o perfil dos leitores de jornais da chamada grande imprensa e dos jornais populares. Uma pesquisa recente do Datafolha, o instituto de pesquisas do Grupo Folha, que edita a Folha de S.Paulo, apontou que o púbico do jornal tem curso superior completo, pertence às classes A e B, tem entre 23 e 49 anos e usa a internet. Mas o crescimento das vendas dos jornais de perfil mais popular mostra que o consumidor com menor poder aquisitivo também busca um bom noticiário diário impresso.
Participaram do programa ao vivo Bruno Thys, diretor da unidade de Jornais Populares da Infoglobo, que coordena o Extra, o Expresso e o Diário de São Paulo; o secretário de redação do Agora São Paulo, Antonio Rocha Filho; Teodomiro Braga, diretor executivo da Sempre Editora, de Minas Gerais, que edita os jornais O TEMPO, Pampulha e Super Notícia e o editor do jornal Aqui DF, Leonardo Meireles.
‘O leitor de um grande jornal nacional vale mais do que o leitor de um jornal popular?’, questionou Alberto Dines no editorial que abre o programa. ‘Os três jornalões venderam em média no mês de outubro pouco mais de 800 mil exemplares, mas os três maiores jornais populares venderam quase a mesma coisa. Mas, além deles existem mais quatro jornais populares no país que somados produzem quase o dobro dos leitores dos chamados jornalões. Então, quem influi mais, o jornal popular que vende mais ou o jornal classe A que atende a uma camada da população já informada?’, questionou.
Na reportagem exibida antes do debate, o gerente-geral do Diário Gaúcho, Alexandre Bach, explicou que o formato do jornal, com textos curtos, atraiu pessoas que não tinham o hábito de ler jornal porque consideravam o produto caro. Flávio Pestana, diretor-geral da Rede Bom Dia de Jornais, disse que para um periódico popular ter sucesso, precisa de um preço atraente, promoções eventuais que agreguem valor ao jornal e capas chamativas. O grande desafio seria dar o tom certo, não ser apelativo na tentativa fácil de aumentar as vendas. O sensacionalismo afastaria os anunciantes e as famílias que compram o jornal.
Novos leitores de jornais
No debate ao vivo, Dines pediu para Teodorimo Braga – que anteriormente trabalhou no Globo e Jornal do Brasil – analisar o tipo de jornalismo feito pela grande imprensa e pelos jornais populares. Para Teodomiro, eles são complementares e apresentam a mesma qualidade. No popular, as notícias são editadas de forma mais curta e atraente para o leitor.
O Super Notícia teria conquistado um público que não tinha o hábito de comprar jornais e por isso não teria afetado de forma significativa a circulação dos concorrentes. A receita do sucesso – a circulação media do mês de outubro, segundo o Instituto Verificador de Circulação, foi de 300 mil exemplares, abaixo apenas da Folha de S.Paulo – seria a direção empresarial competente associada a uma gestão jornalística de qualidade.
Bruno Thys concordou que nos últimos dez anos criou-se um novo modelo de jornal popular, inaugurado pela publicação carioca O Dia. ‘Se você espremer, ao invés de sair sangue, sai notícia’, disse. O leitor teria imposto a mudança, ao se desinteressar do modelo sensacionalista. Com a expansão da classe C propiciada pelo Plano Real, aumentou o número de pessoas que queria informar-se melhor.
Para Thys, o consumidor de baixa renda avalia a relação custo-benefício de forma criteriosa e só investe no jornal se for útil e prestar serviço. Economia popular, emprego, esporte, TV, saúde, polícia são os temas abordados com maior freqüência nos jornais populares da Infoglobo, que na opinião de Bruno, oferecem um bom espaço para reportagens.
O preconceito contra os leitores dos jornais populares foi abordado por Leonardo Meireles. Para ele, estes consumidores são multiplicadores de opinião da mesma forma como os leitores da grande imprensa. Meireles revelou uma peculiaridade do público do Aqui DF: diferentemente dos leitores dos grandes jornais, que se manifestam mais por e-mail e telefonemas, os do jornal que representa preferem escrever cartas em papel. São exigentes, participativos e críticos. ‘Constroem o jornal junto com a gente’, afirmou.
Credibilidade é fundamental
Dines perguntou a Antonio Rocha sobre a credibilidade do jornalismo impresso. Para o secretário da redação do Agora São Paulo, a credibilidade é fundamental tanto nos populares, quanto na grande imprensa. ‘É o bem mais importante do jornal’, avaliou. A fidelidade do leitor e o interesse dos anunciantes seriam determinados por ela. O jornalismo de serviço é a marca do Agora São Paulo.
O jornalismo popular – no passado ligado ao universo masculino, carregado de matérias de polícia, futebol e sexo – atualmente é voltado para as mulheres e a família. Bruno Thys afirmou que a marca contemporânea do jornalismo popular é que ‘pode ser levado para a casa’.
Política nos populares
Dines pediu para Teodomiro Braga avaliar se os jornalistas de publicações dedicadas aos consumidores de baixa renda não davam espaço para a política ou se os políticos é que não percebem o potencial do segmento. O jornalista afirmou que no Super Notícia a política tem um peso menor e que esta decisão foi baseada em pesquisas. Já no Aqui DF, a política é o segundo assunto preferido dos leitores, segundo Leonardo Meireles. O formato da notícia seria o diferencial em relação à grande imprensa.
A mídia impressa, para Antonio Rocha, não vai desaparecer com a difusão do uso da internet para consumo de notícias. Para Rocha, papel e o mundo virtual são complementares: o primeiro explica didaticamente e propõe a reflexão, e o segundo veicula a notícia factual com velocidade. A preocupação com os serviços em todas as áreas (de cultua à economia) é constante no Agora São Paulo.
A questão de um possível retorno dos jornais vespertinos foi abordada no debate. Para Bruno Thys, há um grave problema de logística e distribuição que precisaria ser resolvido para possibilitar a volta dos jornais do final da tarde, dos quais é saudosista. ‘Se você ficar preso ao modelo do jornal diário, a reboque dos fatos, com uma agenda do dia, você não vai conseguir entregar o produto quente e fresco como o pão de manhã cedo’, afirmou.
Leonardo Meireles afirmou que em Brasília, devido às condições geográficas da capital, seria possível a existência deste tipo de publicação. Meireles destacou uma característica dos leitores de jornal em Brasília: a maioria ainda não tem o costume de ler em transportes públicos, ao contrário da população das outras capitais.
Mulheres nuas e celebridades
Um telespectador perguntou aos debatedores por que estes afirmam que os jornais populares de hoje são voltados para a família se, frequentemente, publicam fotografias de mulheres nuas na primeira página. Antonio Rocha explicou que o Agora São Paulo dá destaque a fotos de celebridades em poses sensuais – e não nuas – que estejam em evidência na mídia, pois essa é uma notícia que interessa ao seu leitor. No passado, os jornais populares em geral apostavam em nudez explícita.
Para Bruno Thys, esta questão é vista com preconceito. Os jornais populares de hoje publicariam as fotos mais sensuais apenas se fossem notícia. ‘A gente tem uma pesquisa informal no Extra que diz que o homem olha a mulher bonita com pouca roupa com um desejo distante: ‘Não é para o meu bico, mas que bacana’. E a mulher tem um olhar muito clínico. Ela quer ver como ficou o silicone, como está a forma da mulher. É 100% de leitura.’, brincou.
Perfil dos participantes do programa:
Bruno Thys é diretor da Unidade de Jornais Populares da Infoglobo, que coordena o Extra, o Expresso e o Diário de S. Paulo. Trabalhou no Jornal do Brasil por vinte anos e está há dez no Extra.
Antonio Rocha Filho é secretário de redação do Agora São Paulo. Participou do processo de criação e lançamento do jornal. Trabalha há 18 anos no Grupo Folha, onde já exerceu várias funções.
Teodomiro Braga, jornalista há mais de 30 anos, é diretor executivo da Sempre Editora, de Minas Gerais, que edita os jornais O TEMPO, Pampulha e Super Notícia, entre outros títulos. Trabalhou em O Globo, no Jornal do Brasil e na Gazeta Mercantil.
Leonardo Meireles é editor do jornal Aqui DF, que faz parte do grupo Associados, desde sua inauguração, em março do ano passado. É formado em jornalismo pela Universidade de Brasília e também trabalhou no Correio Braziliense.
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Quem é o leitor de jornal no Brasil?
Alberto Dines # editorial do programa Observatório da Imprensa na TV nº 444, no ar em 27/11/2007
Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.
O leitor de um grande jornal nacional vale mais do que o leitor de um jornal popular? Os três jornalões venderam em média no mês de outubro pouco mais de 800 mil exemplares, mas os três maiores jornais populares venderam quase a mesma coisa, mas além deles existem mais quatro jornais populares no país que somados produzem quase o dobro dos leitores dos chamados jornalões.
Então quem influi mais, o jornal popular que vende mais ou o jornal classe A que atende a uma camada da população já informada?
Mas o jornal popular não presta um serviço maior à sociedade ao atender a um público que está na primeira etapa do processo informativo?
Esta edição do Observatório da Imprensa vai focalizar o destinatário do processo jornalístico: o leitor.
Não adianta discutir jornalismo sem levar em conta o público que vai servir-se deste serviço.
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