Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O cinema de baixo orçamento

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

Como vocês veem, o assunto é cinema, e cinema BO – baixo orçamento. Um segmento que movimenta produtores, técnicos, artistas e roteiristas para realizar um sonho nas telas. No mundo e aqui no Brasil a indústria do audiovisual já passou por muitas, mas muitas transformações e segue viva, por isso mesmo. Os holofotes se acendem novamente no Rio de Janeiro com a tendência de produções de baixo orçamento. E não apenas documentários, apropriados para séries televisivas; canais de TV por assinatura trazem para os telões e para as telinhas um elenco de temas, histórias, rostos, realidades. Na busca para reencontrar a sua vocação, a antiga capital federal já é o maior pólo de audiovisual com a forte presença, é óbvio, da Central Globo de Produções.

Com o cinema de rua, câmera na mão, muitas ideias na cabeça e, sobretudo, muito profissionalismo o Rio volta aos cartazes. A Lapa, berço da música, da boêmia, da malandragem, do que vocês quiserem, é tema e cenário de um documentário sobre o samba e como tantos similares realizado com baixo orçamento. BO. Juntos comigo estão três expoentes desse segmento, verdadeiras estrelas desse setor, que tem muito idealismo e pouco financiamento. Anna Azevedo, Luciano Vidigal e Cavi Borges.

 

O cinema já foi declarado morto diversas vezes desde a consolidação da televisão como veículo de massas. O vaticínio seguinte também não se consumou: só sobreviverão as superproduções, com grandes orçamentos: filmes baratos arrebataram grandes prêmios e tornaram-se sucessos de bilheteria. Então se decretou que não há vida nos estúdios fora do eixo Estados Unidos-França-Inglaterra-Itália: aí estão as florescentes indústrias cinematográficas da Índia, China, Japão, Polônia, Argentina, Grécia, Espanha, México, Brasil, Rússia e tantas outras.

O cinema brasileiro já teve a fase do cinemão nos anos 1950, com os grandes estúdios paulistas — como a Vera Cruz, Maristela, Multifilmes e Kino Filmes – engajados em projetos ambiciosos e nem sempre com o retorno à altura.

E o Rio de Janeiro ?

O Rio é um caso aparte: antes mesmo do pretensioso cinemão paulista, funcionaram aqui pelo menos dois estúdios com uma produção regular e filmes extremamente populares e comerciais: a Cinédia, fundada em 1930 pelo jornalista Adhemar Gonzaga é considerada a precursora com uma produção regular de dois ou três filmes por ano entre melodramas, comédias e musicais com as grandes figuras do rádio. Seus grandes estúdios no Alto da Tijuca foram depois utilizados para a gravação de telenovelas.

Outro polo cinematográfico carioca localizava-se não muito longe daqui, no coração da cidade: a Atlântida, com uma produção regular de chanchadas pré-carnavalescas, comédias baratas e sátiras circenses, herdeiras da era do rádio e do teatro de revista trazido de Portugal.

Em oposição ao cinemão paulista surgiu e desenvolveu-se no Rio, nos anos 1950 e 60, o “Cinema Novo”, descendente do neorrealismo italiano, o cinema de rua, às vezes com toques épicos dos mestres russos, consagrado internacionalmente. (Alberto Dines)