Quase todos os meus amigos jornalistas trabalharam com Sérgio de Souza. Eu, não. Sempre fui leitor do grande jornalista, que morreu três meses atrás, em São Paulo. Serjão, conforme o tratamento informal, foi uma figura rara na profissão: um verdadeiro alquimista. Tudo que ele tocava virava primor de criatividade, de inteligência, de ousadia e de refinamento. Em 42 anos de profissão, deixou uma árvore coberta de frutos maravilhosos, de Realidade a Caros Amigos. Em todas essas dezenas de publicações que criou ou das quais participou ficaram poucos dos seus textos. O que ele fez de mais constante foi conceber jornais e revistas, nutri-los de pautas, corrigir textos destituídos da qualidade final que passaram a ter depois do seu imprimatur, e editar capas e páginas com um aprumo sem igual na imprensa brasileira.
Na retaguarda, mas ativo e solidário como se estivesse na linha de frente, foi a sorte grande para as centenas de jornalistas que tiveram o privilégio de trabalhar com ele (sob ele, seria a expressão mais apropriada). Por isso, era o jornalista dos jornalistas, os mais credenciados a apreciá-lo melhor. O que explica a antológica edição especial que Caros Amigos lhe dedicou no mês passado, para ler e guardar. A inspiração de todos que participaram da edição foi transmitida justamente pelo personagem principal, que, indo, deixou sua marca em todos nós, seus parceiros ou leitores. Grande Sérgio, com o olhar curioso e determinado de um jovem aos 74 anos, a imagem surpreendente que nos deixou, como sua obra definitiva.
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Editor do Jornal Pessoal, Belém, PA