O Liberal é o mais antigo diário em circulação no Pará. Mas divide o mercado com o Diário do Pará. No dia 15/11, a atual fase, comandada pelos herdeiros de Romulo Maiorana, se tornou a mais longa das três etapas da vida do jornal, que já foi o líder. Qual o seu futuro?
O Liberal completou 61 anos de vida em 15/11. Para comemorar, colocou nas ruas uma edição especial com 176 páginas. Apesar das aparências, provavelmente foi a menor dos últimos tempos. Mas não em auto-exaltação, na qual se derramou, indiferente ao dito popular de que elogio em boca própria é vitupério. Em nenhum dos textos hagiográficos fez menção ao principal significado da data: ela confirmou que a terceira fase da história do jornal, a atual, já é a mais extensa de todas.
Até o aniversário anterior, as três fases estavam rigorosamente empatadas: O Liberal foi o órgão oficial do extinto Partido Social Democrático, do caudilho Magalhães Barata, entre 1946 e 1966; durante os 20 anos seguintes foi comandado pessoalmente (e com mão de ferro) por Romulo Maiorana, casado com uma sobrinha de Barata; em 1986, com a morte de Romulo, o jornal passou para a viúva, Déa, e seus sete filhos. Esta última fase completou 21 anos no dia 15. Ao invés de fazer propaganda de pé quebrado, já sem o resultado de outros tempos, o jornal reuniria legitimamente a opinião pública em sua festa se refletisse um pouco mais sobre a sua trajetória, que chegou a um novo momento decisivo – ou a um impasse.
Editoriais via malote
Nas duas décadas como órgão partidário, O Liberal foi a expressão de um tipo de jornalismo do qual, infelizmente, os paraenses ainda não se desgarraram. Por ser o porta-voz do partido político dominante, o PSD dos ‘baratistas’, O Liberal usava e abusava das palavras conforme as suas conveniências. Era um jornal de combate aos adversários e de defesa dos correligionários. A objetividade (não a neutralidade, que é um mito e uma mentira), a fidelidade aos fatos, o reconhecimento do erro e sua correção – nada disso estava nas regras editoriais do diário.
Com raros momentos de exceção, o campo de batalha da imprensa era maniqueísta e ela sempre buscava a unanimidade, à custa do ‘outro lado’, naturalmente, que tentava esmagar. De um lado, O Liberal. Do outro, a Folha do Norte. Tão categóricos e ferozes que funcionavam como imãs, magnetizando todas as publicações que estivessem no seu campo gravitacional. As tentativas de independência e autonomia não foram duradouras.
Graças a Frederico Barata (nenhum parentesco com o caudilho), e a despeito de Assis Chateaubriand, os Diários e Emissoras Associados tentaram demarcar no Pará uma ‘terceira via’ logo depois da Segunda Guerra Mundial. Beneficiavam-se da redemocratização do país e de um ambiente mais favorável à pluralidade e à tolerância (além de maior integração entre todas as regiões brasileiras, sobretudo em relação à Amazônia). Ressuscitaram A Província do Pará, que hibernava havia duas décadas, adicionando-lhe A Vanguarda, seu vespertino, a Rádio Marajoara e, uma década depois, a TV Marajoara, no primeiro conglomerado de comunicação moderno do Pará.
Os Associados podiam ter arrebatado a liderança incontestável da Folha, mas cometeram um erro fatal: na busca da profissionalização, que requer objetividade, e de uma impossível neutralidade, ilusoriamente alcançável pelo distanciamento do centro de combate, se omitiram da disputa política que ainda fervia no Pará. Ela foi requentada pela derrota de Barata em 1950 e o seu retorno ao poder cinco anos depois, no qual se manteve até morrer, em 1959 (logo em seguida, começava a era da televisão no estado). Os editoriais de A Província vinham por malote postal do Rio de Janeiro e de São Paulo, atrasados, frios, indiferentes à realidade local, enquanto Folha e O Liberal trocavam farpas envenenadíssimas.
Aliança precária
Tentando escapar da bitola política do jornal de Antônio Lemos, causa da sua destruição em 1912, mas valorizando seu acervo técnico (que o colocara entre os melhores do Brasil no início do século passado), A Província acabou por incorporar a síndrome do segundo lugar e morreu sem tentar ser a primeira ao menos uma vez. Já havia espaço propício para um jornal moderno, realmente profissionalizado.
Quando comprou por valor simbólico um jornal moribundo, incapaz de sobreviver à perda da proximidade do poder, que fora sua razão de ser, à sombra de Magalhães Barata, Romulo Maiorana percebeu essa avenida. Como fizera com sua rede de lojas no centro comercial antigo de Belém, apostou, sobretudo, na vitrine, na aparência do seu jornal. Seria como um chamariz para seu novo cliente penetrar na sua nova loja e verificar a nova mercadoria que passava a lhe oferecer (com a qual já vinha lidando desde vários anos antes, no varejo do colunismo social da Folha).
Por isso, mesmo dependendo do capital de amigos, integrantes de uma confraria que formara desde a sua chegada ao Pará, 13 anos antes de começar a se tornar um dos homens mais influentes no estado, Romulo conseguiu ser, 35 anos atrás, o primeiro a incorporar no Pará uma inovação tecnológica que ainda era privilégio de poucos no Brasil: o sistema de impressão em off-set.
De início o sistema foi usado com muitos erros, devidos à falta de adestramento dos gráficos para lidar com a nova rotativa e suas extensões (outra marca do modo de gestão das empresas jornalísticas paraenses, esta negativa: dar pouca atenção aos seus recursos humanos). Mas quando circulou pela primeira vez com mais nitidez nas imagens e nos textos, O Liberal deu um salto à frente dos concorrentes, que apresentavam ao público jornais borrados, sem nitidez. Eles envelheceram quando o leitor os confrontou com o jornal de Romulo Maiorana, que continuou a adotar todos os recursos possíveis e imagináveis para aumentar essa distância. Ela se tornou enorme quando ele colocou no ar a TV Liberal, retransmitindo a programação da Globo, líder disparada em audiência.
Aos favores que passou a dever ao regime militar, pela concessão do canal sete de televisão e outros benefícios, Romulo teve também que considerar o retorno ao poder, em 1982, dos velhos ‘baratistas’, como Hélio Gueiros e Henry Kayath, engrossados pelos ‘neo-baratistas’, com destaque para Jader Barbalho, o caudilho da redemocratização no estado, se cabível a contradição em termos. O cap precisou acender velas a um e a outro parceiro, mesmo sabendo que eram inimigos entre si.
O jogo do equilíbrio não era fácil, mas ele o manteve durante três anos, enquanto ainda havia um general de plantão no Palácio do Planalto. A ascensão do seu amigo José Sarney à presidência da república, em 1985, lhe permitiu cortar o elo com os aliados da véspera e aderir ao novo poder estadual, comandado por velhos e novos ‘baratistas’, como ele próprio era ao mesmo tempo, hibridamente.
Mas tanto ele quanto Barbalho sabiam que era precária essa nova aliança (ou a retomada de uma aliança que apenas se tornara oculta). Subsistiria só até um novo confronto se apresentar, quando, em mais um dos episódios autofágicos dos quais a disputa pelo poder é pródiga, um aliado engoliria o outro.
Habilidade política
Recomposto com Hélio Gueiros, Romulo passou a apostar suas fichas nele e naquele que o deveria suceder no governo, o médico Kayath. Os velhos ‘baratistas’ despejariam os novos ‘baratistas’ do trono. Essa estratégia não visava apenas o poder político, mas também o mundo nos negócios. Aos olhos de Romulo, Jader cometera o erro da cobiça: ao invés de fechar, decidira manter em circulação o Diário do Pará, lançado em 1982 como jornal de campanha para a eleição geral daquele ano (conforme fora O Liberal em 1946), sob o comando editorial do mesmo Hélio Gueiros da primeira fase. Gueiros fustigou o ‘outro lado’, incluindo aí seu amigo fraternal da véspera, coerente com seu passado de editor de O Liberal como órgão partidário (e tendencioso).
Claro que fora mínima a parcela de contribuição do Diário para a eleição de Jader, mas o jornal cumprira sua missão: fustigar os ex-aliados para que pensassem duas vezes antes de decidir abrir fogo mais pesado contra o candidato do PMDB e seu padrinho poderoso, o então governador Alacid Nunes, que rompeu de vez com seu ex-companheiro de armas e de política, Jarbas Passarinho. Para dar um arremate nos longos combates que travou durante vários anos com Passarinho (num dualismo dentro da caserna), Alacid teve que ir além dos seus próprios limites e convicções. Por isso, rompeu com o próprio presidente-general, o truculento João Figueiredo. Nessa condição, capitalizou uma imagem favorável, exatamente no momento em que o país tentava sair do túnel da escuridão autoritária para as luzes democráticas.
Sagaz, Romulo cumpriu o compromisso de ajudar a eleger o candidato do ‘sistema’ ao governo do Pará, Oziel Carneiro, mas não atacou o ‘outro lado’. Deu a impressão ao leitor de que, mesmo tendo um candidato, por imposição dos militares, mantinha a postura profissional de O Liberal, que lhe garantia espaço único na imprensa paraense. Minha coluna diária, sempre crítica, inclusive ao candidato do ‘sistema’ (que, no auge da campanha, deixou de me receber, embora procurado para dar entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, do qual eu era correspondente), preservou essa imagem de imparcialidade.
As críticas mais duras que comecei a fazer a Jader Barbalho, no segundo ano do seu primeiro mandato de governador, também se acomodavam à estratégia de Romulo. Ele ainda acreditava poder convencer Jader a desistir da carreira de empresário da comunicação, como seu concorrente (naquela época, ainda fraco, mas com possibilidades de crescer até uma competição direta). Jader, porém, já tomara uma decisão: não iria ‘comer na mão do italiano’, como dizia em circuito íntimo. Símbolo dessa postura era sua recusa a subir as escadarias do jornal para visitar o dono em seu badalado birô, como vinham fazendo todos os governadores, sem exceção, posando para a foto tradicional do ‘beija-mão’.
Romulo captou o recado. Ao invés de partir para um combate aberto, para o qual não estava convenientemente preparado, decidiu reconquistar os velhos ‘baratistas’, que integravam a linha de frente de Jader. Iria surpreendê-lo com um cavalo de Tróia de largas entranhas, assim que ele apeasse do Palácio Lauro Sodré, em 1987. Estava nesses procedimentos quando soube da grave doença, que o mataria rapidamente, em abril de 1986. Teve que apressar as providências para repassar seu império de comunicações aos herdeiros com um esquema de longa duração.
Voltou a investir nos equipamentos industriais, para manter a imagem positiva do jornal, azeitou todas as engrenagens de sua empresa para garantir um fluxo de caixa confortável nos anos seguintes e referendou o acerto político pós-Barbalho, que seguiria exatamente o percurso traçado: Hélio Gueiros traindo Jader e tentando impedir que ele voltasse ao governo, em 1990, para poder fazer de Kayath o seu sucessor e quebrar o poder do Barbalho, inclusive na área empresarial, que já começava a indicar riscos.
O problema é que, demonstrando mais uma vez sua enorme habilidade política (tantas vezes desperdiçada com fins nada edificantes), Jader Barbalho venceu Sahid Xerfan, o candidato de Hélio Gueiros e de O Liberal, depois que outra manobra eficiente nos bastidores tornou Kayath inelegível, por conta de irregularidades na superintendência da Sudam (que voltaria ao foco, pelos mesmos motivos, uma década depois, por conta de outro apadrinhado de Jader).
Programação publicitária
Ao invés de sepultá-la de vez, O Liberal voltou à era do jornalismo radicalmente partidário na eleição de 1990, contra Jader, comprometendo a busca da profissionalização, mesmo numa sucessão empresarial familiar. Ao perder a eleição, deixou à mostra sua principal limitação: a dependência das verbas oficiais. Para voltar a contar com elas, recorreria a qualquer expediente, mesmo os que não combinam com uma empresa jornalística autêntica. Sua principal matéria-prima são os fatos e com eles não pode brigar.
A segunda geração Maiorana decidiu ignorar esse princípio: depois de expurgar o nome do candidato eleito, logo depois de terminada a apuração dos votos, foi-lhe cedendo espaço e destaque à medida que ele abria as burras do erário. Quem acompanhar as mutações do jornal nesse período verificará a absoluta sincronia entre a cobertura do governador e a propaganda oficial: uma crescia na dependência da outra.
Assim aconteceu a partir daí com o Banco da Amazônia, a Rede/Celpa e a Companhia Vale do Rio Doce, que ocupam o topo entre as empresas em atividade no Pará. Todas tiveram que ceder publicidade para estancar campanha hostil a elas por parte do jornal e, na progressão da verba de propaganda, passar a ter tratamento principesco nas páginas de O Liberal. E foi assim durante os 12 anos seguintes de tucanos no governo do estado, passando de Almir Gabriel a Simão Jatene, e nos oito anos de petistas na prefeitura de Belém, à frente Edmilson Rodrigues, culminando com o máximo de promiscuidade entre governo e imprensa no ‘convênio’ entre a Funtelpa e a TV Liberal, única nessa vasta história de consórcio ilegítimo entre a imprensa e o governo em qualquer parte do país.
O grupo Liberal recebeu como nunca dinheiro oficial nesse período, sob todas as formas, diretas e indiretas, legais e ilegais, transparentes e ocultas. Mas quanto mais era portentosa a geração de caixa, mais a saúde econômico-financeira da corporação se tornava artificial e precária. Ostentando poder, com sede nova, maquinário de vanguarda e outras extravagâncias, sem guardar coerência com o mercado, apesar disso, as Organizações Romulo Maiorana passaram a viver entubadas a uma matriz de dinheiro, sobretudo público, e utilizando recursos exageradamente drásticos para obtê-lo, cuja eficácia dependia da submissão do anunciante aos ditos e sobreditos das ORM.
Esse irrealismo sofreu um sério golpe quando O Liberal foi flagrado adulterando os números da sua vendagem e, para evitar nova e desmoralizadora autuação, teve que se desligar às pressas do IVC, caso inédito na história de 50 anos do Instituto Verificador de Circulação, uma das instituições brasileiras de maior credibilidade. A fraude era terrivelmente grave: de mais de 100% em relação aos números declarados ao IVC. O mundo da fantasia começava a desmoronar.
Todos que acreditavam piamente na propaganda do jornal, baseada nas estatísticas do IVC, divulgadas à exaustão até o ano passado, se sentiram lesados. O leitor, moralmente. O anunciante, materialmente. Os clientes pagavam os encartes que encomendavam acreditando que a venda do jornal aos domingos ultrapassava 100 mil exemplares, quando estava abaixo da metade desse valor. Compravam lebre e recebiam gato. A diferença de custo era embolsada pela empresa como taxa adicional (e fantástica) de lucro. Para o anunciante, a escrituração era de perda.
Por receio de retaliação, mais uma nas já contumazes práticas da ‘casa’, ninguém quis atirar a primeira pedra, ao menos não por iniciativa própria. Mas a pedreira acabaria desabando como decorrência de mais uma exigência abusiva das ORM: o maior anunciante particular do mercado e o segundo de todos (abaixo apenas do governo) não aceitou uma imposição do grupo Liberal e o excluiu de sua programação publicitária. Era nada menos do que o grupo Y. Yamada, que se orgulha de ter um cadastro de clientes com mais de 800 mil nomes ativos em suas vendas e no seu crediário.
Quem manda
Nenhum anúncio de Y. Yamada saiu na edição especial de aniversário de O Liberal no dia 15. Depois de suspenderem uma integral abstinência de mais de quatro meses, publicando uma ração de anúncios na edição do Círio e o primeiro encarte desde o início do litígio, logo depois os Yamada voltaram a ignorar as ORM. Mandaram uma mensagem a quem interessar possa, ainda não completamente explícita, mas capaz de gerar conseqüências. O exemplo será imitado?
Mesmo os que programaram a edição dos 61 anos não foram tão numerosos quanto nos anos anteriores e suas peças transmitiram uma sensação de cautela e sondagem. Vários anunciantes, que não querem atrito com os Maiorana, querem, no entanto, novos parâmetros de relacionamento: ou foram mais comedidos na determinação do espaço publicitário que se dispuseram a ocupar, ou foram discretos nas suas mensagens. Muitos preferiram excluir a referência ao aniversário do jornal, fazendo apenas propaganda dos próprios serviços ou produtos.
A edição de aniversário, que já foi a mais magra em muitos anos, podia ter ficado ainda mais delgada se não houvesse permutas por conta de serviços prestados às ORM, como foram os casos da Unimed (duas páginas), Coelho de Souza Advocacia (uma página), IBF e Silveira Athias (meia página). Todas as mensagens desses anunciantes saudaram O Liberal. A quantidade de anúncios gratuitos pode ser maior, como foi na edição do Círio (para fazer falso volume, O Liberal gasta mais papel, tinta e outros componentes da sua produção industrial).
As empresas educacionais, que estão no apogeu quantitativo, foram o segmento mais presente, com 12 anúncios (a maioria dos quais abaixo da meia página), apenas metade deles fazendo referência à data. Já a construção civil, também destacada, em função da atual corrida imobiliária, apareceu com oito anúncios, dos quais cinco sem relação com a data.
Oito prefeituras do interior cederam anúncios, mas apenas as de Parauapebas e Castanhal programaram uma página. Só três incorporaram mensagem pelo aniversário. A prefeitura de Belém entrou com duas páginas, sem referência específica. O governo do estado, confirmando a atitude de aproximação cautelosa entre as partes, destinou uma página e meia, esta, patrocinada pelo Hangar, com saudação pelo aniversário.
Outros órgãos públicos foram tímidos: o Tribunal de Justiça do Estado e o Tribunal de Contas dos Municípios com um oitavo de página e o Ministério Público do Estado com um décimo. Já a Companhia Vale do Rio Doce prosseguiu na sua ofensiva de relações públicas: uma página em seu nome e meia página pela Albrás e mais meia página pela Alunorte. A Imerys, multinacional do caulim, foco do noticiário pelos acidentes ecológicos que provocou, estreou em grande estilo publicitário: uma página. Já sabe como alcançar o que quer.
Numa iniciativa inédita, três dias depois O Liberal publicou um anúncio de página inteira para agradecer aos anunciantes e agências de propaganda pelo ‘sucesso’ da edição de aniversário. Mas ao contrário do que dizia a edição do dia 15, que o jornal estava ‘esbanjando credibilidade’, a comemoração era irreal. No dia 15, o jornal circulou com 176 páginas. Na edição dominical rotineira, dia 18, declarou conter 214 páginas. Ou seja: 20% a mais de páginas. Como sempre, o número precisa ser conferido. Na soma, O Liberal considera como sendo página standard o formato tablóide dos seus encartes na forma de revista. Trazendo tudo para o tamanho de uma página convencional, seriam, na verdade, 178 páginas (uma página padrão corresponde a duas de tablóide). Ainda assim, foi mais do que o ‘sucesso’ da edição do dia 15. O que devia ser a proclamação da grandeza, acabava atestando o inverso: a perda de força, a redução do poder de influência que o jornal tinha até recentemente.
A curva vai continuar a evoluir em sentido descendente ou a queda pode ser contida e a linha de crescimento retomada? Este é o grande desafio que os sucessores de Romulo Maiorana vão precisar enfrentar até voltar a rodar uma nova edição de aniversário, no próximo ano. Depois de voarem com o piloto automático ligado pelo pai, eles é que agora conduzem o aparelho. ‘Eles’ é um modo de dizer: a condução é exercida quase monocraticamente pelo presidente executivo, Romulo Maiorana Jr., o único dos irmãos que divide com a mãe o cabeçalho da primeira página do jornal e o único que tem sua foto divulgada (à larga) nas edições especiais. Não só é o principal executivo: tornou-se também o segundo maior acionista, depois de Déa Maiorana, com a antecipação que ela lhe fez e com a compra das ações da irmã mais velha.
O que acontecer com o grupo Liberal será obra de Romulo Maiorana Jr. Talvez a sua maior obra.
Propaganda
Em outubro a Unimed incrementou sua propaganda nos jornais diários de Belém. A ofensiva nos veículos de comunicação das Organizações Romulo Maiorana tinha uma explicação: como substituiu a Blue Life no atendimento aos funcionários da corporação, toda a farta publicidade feita pelo maior plano privado de saúde do Estado seria através de permuta. Pode ser, entretanto, que uma parte do valor da publicidade dê entrada em dinheiro mesmo. Ainda que haja acerto através de encontro de contas, cabe perguntar se o novo plano de mídia está compatível com o plano de saúde. É perfeitamente adequado, dentro do equilíbrio econômico-financeiro da cooperativa? Não modificou esse equilíbrio?
Como há uma guerra feroz entre os dois jornais diários, hoje em igualdade relativa de condições, o plano teve que destinar a mesma programação ao Diário do Pará, embora seja, de longe, o líder do mercado e não haja no horizonte nenhum competidor capaz de se apresentar para concorrer.
A Unimed podia dar as respostas aos seus usuários e à opinião pública, que deve ter ficado impressionada com o volume de propaganda que passou a aparecer na imprensa.
Revista
Começou a circular uma nova revista em Belém, a Via Pará. Mensal, com 72 páginas, tem boa aparência gráfica. Podia dar certo e abrir uma nova oportunidade para trabalho verdadeiramente jornalístico e para bom aproveitamento pelos leitores. Mas ficou com uma aparência muito chapa branca: dois dos quatro anúncios (e justamente os mais caros, ocupando quatro páginas) foram bancados pelo governo do Estado (outro é da Tim e o quarto é da gráfica-editora responsável pela publicação). O texto reflete esse perfil publicitário: serve de abre-alas para a visão oficial. E parece que a revista já terá um novo editor-responsável no seu segundo número, talvez algo inédito na história da imprensa.
Imprensa
O advogado Roberto Lauria é um dos mais destacados na área penal no fórum de Belém. No ano passado o anúncio do seu escritório, publicado com grande regularidade em O Liberal, introduziu uma de suas novas especialidades: o direito de imprensa. Nada mais natural: Lauria era o patrocinador das numerosas ações, com base na Lei de Imprensa (de 1967, em pleno regime militar), dos irmãos Ronaldo e Romulo Maiorana Júnior contra outras empresas de comunicação e jornalistas. Mas nos últimos tempos essa especialidade foi excluída do vistoso anúncio do escritório de Roberto Lauria. Em compensação, outros tipos de delitos (como os crimes contra o sistema financeiro e a lavagem de dinheiro) foram incorporados ao portfólio.
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Jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)