A lista de especulações dos motivos que levaram o bilionário criador da Amazon, Jeff Bezos, 49, a comprar o centenário jornal Washington Post não para de crescer. Para especialistas em mídia, Bezos quer entender como funciona a distribuição de informação “curta” pela rede, agora que já domina a de livros e de varejo em geral. Outros opinam que ele gostaria de usar os editoriais do Post para ser ouvido na capital americana – e promover leis que abrangem de impostos a monopólios na internet. E há quem diga que é apenas um projeto pessoal, mais vaidade do que negócios.
Bezos comprou na segunda-feira (5/8) o Washington Post por US$ 250 milhões. O debate não se limita a cifrões. Há 226 anos, Thomas Jefferson, um dos pais da Constituição americana, afirmou que “entre um país com governo e sem jornais, e um sem governo, mas com jornais, prefiro o segundo”. Não são poucos que se questionam se Bezos bancaria a independência que levou a lendária editora Katharine Graham a publicar o escândalo de Watergate, que derrubou o presidente Richard Nixon, em 1974.
O colunista da revista The Atlantic James Fallows, amigo da família Graham, escreve que jornalismo sério é “quase inviável como negócio”, por ser muito caro.
Tablets
Em uma entrevista publicada no jornal alemão Berliner Zeitung no ano passado, Bezos disse que, “em 20 anos, os jornais impressos não terão utilidade”. “Mas descobrimos que as pessoas pagam por suas assinaturas no tablet. Logo, todos os lares terão tablets. Isso vai fortalecer os jornais.” Para o consultor de mídia Ken Doctor, os jornais saíram das bolsas para as mãos de “poucos bilionários, que têm apetite por papéis sociais e cívicos, além dos financeiros”.
Já Fallows acha que o investimento que Bezos está fazendo é modesto se comparado “ao que fizeram em uma era anterior os Rockfellers, os Carnegies e os Fords ao criar universidades e fundações” e que será preciso mais para revitalizar o jornal. Otimista, ele defende que “os maiores beneficiários desses anos dourados reinvistam na infraestrutura da nossa inteligência pública”. O escrutínio sobre as posições políticas de Bezos apenas começou. Sabe-se que ele fez mais doações a candidatos democratas do que a republicanos e que fez doações para a fundação que publica a revista Reason, do movimento libertário americano – defensor de uma ação mínima de governo e Estado.
Na semana passada, o presidente Barack Obama fez um discurso sobre empregos em um dos depósitos da Amazon e concedeu uma entrevista a ser lançada no Kindle, o leitor eletrônico da marca. Bezos é visto como grande criador de empregos (tem 92 mil funcionários), embora as condições de trabalho na Amazon sejam contestadas. Há críticas à temperatura alta e às enormes distâncias às quais os empregados são submetidos em seus gigantescos galpões de armazenagem.
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Raul Juste Lores, da Folha de S.Paulo em Washington