Um dos grandes problemas enfrentados pelo rádio AM nos dias de hoje é o desprezo promovido pela sociedade, que não tem tido a preocupação necessária com seus rumos, nem fiscaliza as emissões, nem exercita uma visão crítica do que se passa nas programações. Outro problema é a falta de apoio dos órgãos de publicidade, que não aplicam planos de mídia adequados para conquista de público, nem rediscutem o problema das verbas publicitárias, que muitas vezes vão para o rádio de forma minguada e baseada, não em critérios técnicos, e sim, em discursos do tipo ‘vou fazer esta propaganda para o ajudar’.
Em muitos casos, temos também a falta de preocupação dos jovens com a programação de qualidade – preferem alienadamente uma programação musical, sem teor cultural nem informação, promovida pelo rádio FM. A formação de locutores também é um problema, pois apesar dos programas dos cursos serem baseados nos ideais de uma programação ética e de qualidade não há fiscalização das ações dos novos radialistas que, ao fazerem programas arrendados, dizem o que querem ou o que lhes mandam dizer.
Ética e cidadania
Outro exemplo de descaso são os novos aparelhos de mídia, como Mp4, Ipod, Mp3 e outros equipamentos de som que são desprovidos da faixa AM, o que prova um descompromisso e um desconhecimento da importância do rádio AM na história do nosso país e na reunião da sociedade nos grandes eventos político-culturais de nossas comunidades. A luta pela valorização do Rádio AM tem que ser bandeira dos grupos organizados de nossa sociedade, sejam cursos de jornalismo e publicidade, seja a Associação das Emissoras, Sindicatos de Jornalistas e Radialistas, assim como todos os grupos que precisam defender uma comunicação livre, democrática e, sobretudo, digna e ética.
É urgente criar projetos que procurem formar novos ouvintes que exerçam sempre um uso crítico deste meio de comunicação para que a forma como o rádio vem sendo feito seja questionada e todos os usuários deste meio de comunicação sejam respeitados tanto na mensagem que vem até eles quanto no tipo de programação que lhes é apresentado. É importante que se façam fóruns, debates e discussões sobre o meio rádio em todos os cursos de comunicação e que a formação de locutores seja baseada em conteúdos de ética, solidariedade, respeito ao próximo, cidadania e desenvolvimento de práticas sociais consistentes para melhoria do nível cultural de nosso povo.
Atenção e renovação
É de grande alvitre que se fomentem ações que tenham como missão o fortalecimento do meio rádio no tocante às emissões e ao aparelhamento técnico das rádios para que haja qualidade dos programas tanto nos aspectos operacionais como nos discursos proferidos pelos radialistas, que muitas vezes emitem mensagens preconceituosas, de atrelamento político subserviente e de desrespeito aos que buscam este meio de comunicação.
O rádio é um grande meio de comunicação precisando ser respeitado tanto pelos que nele trabalham quanto pelos que ouvem e esse respeito é traduzido na participação do ouvinte, que deve ser concisa, séria e desatrelada de interesses. Os que hoje se dizem proprietários das emissoras precisam investir na programação buscando modernizar os estúdios e dotá-los de equipamentos que permitam uma emissão qualificada para que as pessoas entendam o que têm nos programas e compreendam o conteúdo de cada programa.
O respeito ao rádio deve ser buscado pela sociedade, pois o rádio sempre foi e será um meio de comunicação dos mais versáteis e dos mais importantes no quesito de chegada ao povo e na certeza de uma comunicação instantânea, rápida e extremamente popular. Precisamos defender o rádio que fala nossa linguagem, que emite nossa cultura e diz os anseios do povo. Devemos rechaçar as emissões importadas e valorizar a programação local no sentido de que os que ouvem rádio precisam saber de sua terra, seus problemas e as possíveis soluções – o rádio precisa ser regional tanto na programação quanto nas iniciativas. O rádio é nosso, precisa ser reconhecido como nosso e merece, sobretudo, atenção, renovação e busca da qualidade para o bem de todos e melhoria de nossa sociedade.
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Vice-presidente da Associação dos Ouvintes do Ceará, Fortaleza, CE