A ascensão de Obama à presidência do grande império do Norte colocou-o não apenas como o homem mais poderoso do mundo. Ele galga o cargo envolvido por uma tal torrente de mídia, que passa a ocupar o papel de algo como um messias, um enviado que vai mudar tudo na face da Terra.
Isso é reflexo bastante explícito da situação que hoje se vive: o mundo chegou a um patamar de inseguranças e incertezas tamanhas, que ao surgir alguém cujo perfil destoa completamente do padrão étnico dos presidentes americanos, essa condição étnica passou a ser vista como status ético; um novo modelo estruturante, uma nova mentalidade e, especialmente, um novo modo de encarar o mundo por parte do sistema americano de poder.
Obama seria o sinal de que os Estados Unidos abandonariam sua política de polícia do mundo – e polícia voltada para a preservação dos interesses americanos –, passando a exercer uma liderança voltada para a paz e a conciliação entre os povos.
Catarse coletiva
É que a angústia dos nossos tempos clama por um avatar e visualizou nele um taumaturgo, um ser superior capaz de, pela serenidade, humanidade e propósitos inatacáveis, nos encaminhar a uma era fabulosa de paz e bem.
Obama, carismático, culto, refinado, tornou-se um fenômeno de mídia. O jornal Washington Post, frente à avalanche de leitores em busca de exemplares, imprimiu na sexta-feira (7/11) 350 mil exemplares adicionais à edição comemorativa, veiculada dia anterior. Mais: o site de leilão eBay está vendendo exemplares a 100 dólares, enquanto o site Craigslist vende cópias do jornal a 50 dólares, ainda no saco plástico.
Trata-se, evidentemente, de um fenômeno de comunicação. Uma grande catarse coletiva, uma exultação, um fulmine, como dizem os italianos para designar algo extraordinário e alumbrante, paralisante pela sensação magnífica que domina, encanta e sensibiliza.
Voltar ao dia-a-dia
Mas Obama pouco a pouco adentra o mundo dos mortais. Já despacha com a CIA e mantém seus primeiros contatos com relatórios do serviço secreto estadunidense. E estes, dizem as coisas de jornais que li, apontam para um mundo que tende sempre e mais à tensão e à guerra – sempre com a participação dos EUA.
É que o mundo real não parou. O que é preciso é que as pessoas comecem a sair do sonho para voltar a trilhar o dia-a-dia. Logo, logo ele tomará posse. E as pessoas serão levadas e admitir, como John Lennon, quando disse, em relação à dissolução dos Beatles: ‘O sonho acabou.’
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Jornalista, professor do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN