Jader Barbalho Filho, diretor-presidente do Diário do Pará, comemorou o título de supermercadista de 2006, concedido anualmente pela Associação Paraense de Supermercados, anunciando que seu jornal já é o líder do mercado. Nos dias de semana a tiragem do Diário seria o dobro da de O Liberal. No domingo a diferença baixaria, mas não seria eliminada. Os anúncios de varejo publicados na folha dos Barbalho teriam superado os dos Maiorana. Com essa evolução, a completa inversão da situação que prevalecia até recentemente, com um domínio absoluto de O Liberal, seria uma questão de tempo.
Essa perspectiva seria tão nítida que, em entrevista concedida ao colunista Mauro Bonna, em seu próprio jornal, Jader Filho anunciou o plano audacioso de tornar o Diário ‘um dos maiores jornais do Brasil’. A empresa acredita já dispor de equipe para dar conta da imensa tarefa. Mas vai adestrá-la cada vez mais. Para isso, conta com um auditório, recém-concluído, que servirá para a realização de seminários e cursos para os jornalistas da casa. O Diário, além de se tornar um centro de formação e qualificação de mão-de-obra especializada, finalmente conseguiu se profissionalizar. Tornou-se independente do seu patrono, o deputado federal Jader Barbalho, dono do PMDB do Pará.
Seria bom se essas projeções já se tivessem materializado, ponto fim ao mando exercido por tanto tempo, de forma próxima ao absoluto, pelo grupo Liberal. Mas não é suficiente ao principal executivo do Diário declarar: ele precisa demonstrar o que diz. Embora seja evidente o crescimento da tiragem do jornal, defini-la publicamente só será possível quando o Diário ocupar o lugar que O Liberal deixou vago no IVC (Instituto Verificador de Circulação), ao sair pela porta dos fundos – e às pressas – da instituição que produz a informação de maior credibilidade sobre a tiragem da imprensa. Enquanto isso não ocorrer, os números apresentados pela direção do Diário terão que ser recebidas sob reserva.
Bons propósitos
É fato que os veículos de comunicação da família Barbalho são muito mais pluralistas do que os da família Maiorana. Neles é possível fazer críticas ao ex-governador ou ler notícias sobre sua carreira tumultuada, enquanto nos órgãos do império Maiorana tal coisa é simplesmente impossível. Qualquer tentativa de insinuação contra os donos da corporação é preventivamente reprimida.
Mas a profissionalização ainda é uma meta no grupo Diário/RBA – e nada próxima de realizar-se. Presentemente, por exemplo, o jornal aceita só abordar matérias contrárias à Companhia Vale do Rio Doce, um de seus principais anunciantes, depois que a empresa divulga notas de esclarecimento. A referência a acontecimentos incômodos à CVRD é feita num contexto a ela favorável, o que prejudica a isenção editorial e a riqueza informativa.
Neste momento, a cobertura de O Liberal a respeito é melhor. Até há uma inclinação mais crítica, algo até pouco tempo atrás impensável, ao menos desde que a Vale voltou a anunciar normalmente no jornal dos Maiorana. Pode ser justamente porque a empresa não está satisfeita com a programação publicitária da CVRD ou pretende manifestar contrariedade com o estreitamento da relação da Vale com os Barbalho.
Espera-se que Jader Barbalho Filho consiga juntar mais fatos e provas às suas declarações de bons propósitos. A opinião pública precisa dessas melhorias tão – ou mais – do que o Diário do Pará. Seria muito bom que tudo que foi dito já fosse verdade. Mas, infelizmente, não é.
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Jornalista, editor do Jornal Pessoal, Belém, PA