Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Os cães de guarda voltaram

De acordo com o Dicionário de Comunicação, censura é o ato de proibir, parcial ou totalmente, uma publicação ou representação, com o objetivo de evitar possíveis danos com a divulgação de fatos escusos.

Apesar da ditadura militar, que durou 20 anos (1964-1984) e cerceou violentamente as manifestações contra os anos de chumbo, ter acabado há quase 27 anos, os resquícios da repressão continuam em nossa ‘democracia’. A censura de hoje é diferente, pois os modos de opressão são outros, mas a finalidade é a mesma: calar a boca dos jornalistas e tapar os ouvidos da população.

Revolta contra a Caldense

Em pleno século 21, a censura é velada e a liberdade, uma utopia. Infelizmente, temos que conviver com a censura política (extremamente ativa nos anos do regime militar), a censura judicial e a censura econômica. Acredito que a última é a mais praticada atualmente, pois ela mexe com o sustento, com a sobrevivência dos cerceados que, sem alternativa, acabam adequando-se ao sistema.

Toda esta introdução é apenas uma forma de chamar o leitor à realidade. O time da Caldense não ganha há seis partidas e não vem fazendo uma boa apresentação e/ou finalização no Campeonato Mineiro. Os torcedores, que querem ver um espetáculo, ou, no mínimo, um bom resultado para o time poços-caldense, estão revoltados com a situação. Assim, na democracia em que vivemos (?) e sabendo que a ditadura terminou em 1984 (?), fica a dúvida: cadê a liberdade de expressão dos jornalistas e da população?

Punir o ‘mediador’

Não levando em conta as questões internas do time – se as acusações proferidas contra os jogadores e a administração são verdadeiras ou não, isso não vem ao caso – o problema é que a lei agora é: Criticou?… Rua! Imagina se a moda pega. E, pelo jeito, é essa a intenção.

Na segunda-feira retrasada (19/03), durante o programa Bola na Rede, da TV Poços (exibido às 21h), o locutor esportivo Hugo Botelho abriu espaço aos telespectadores para opinarem a respeito da atuação da Caldense. Como, por unanimidade, as críticas não agradaram, a solução foi calar a boca do funcionário que não censurou a liberdade da torcida. Foi despedido.

O clube não pode censurar a população, apesar de proibir os torcedores de assistirem ao treino da Caldense (portões fechados, inclusive para a imprensa). Então, por que não punir o ‘mediador’ do ‘problema’?

Contra o corporativismo

Na última terça-feira (27/03), o absurdo repetiu-se. Marcelo Costa, estudante de jornalismo e torcedor da Veterana, escreveu uma opinião a respeito do futuro do time. O texto foi publicado no Jornal Mantiqueira. A diretoria do clube não gostou nada disso e entrou em ação. A assessoria de imprensa do clube tentou justificar-se em direito de resposta, veiculado ontem (28/03), também pelo Mantiqueira. A solução para acalmar a insatisfação e, como disse anteriormente, encobrir os fatos escusos, foi ‘pedir a cabeça’ do estudante. Felizmente ainda existe decência e o emprego do rapaz (pai de família) não foi abalado.

Os cães de guarda voltaram e, se ninguém fizer nada, a imprensa alternativa terá que ressurgir com força total, agora não contra o governo, mas contra o corporativismo.

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Estudante do 4° ano de jornalismo da Unifae, São João da Boa Vista, SP