Os autores divergem em relação aos números – cada um apresenta porcentagem diferente – mas há um fluxo inegável no mercado da comunicação. Os recém-formados, em vez de tentarem a sorte nos veículos, estão migrando para assessorias de imprensa. Convenhamos, era preciso encontrar um espaço para abrigar a imensa gama de novos jornalistas. Fazendo um trabalho de qualidade nas empresas, estes profissionais encontraram remunerações diferenciadas e uma valorização maior sobre sua atuação.
No Brasil, ainda existe uma visão preconceituosa sobre a função das assessorias de imprensa. Essa perspectiva está atrelada aos jornalistas “chapa-branca” da época do regime militar, aqueles que viviam sob a égide do duplo emprego. Acusações de amadorismo, aposentadoria e traição eram comuns. A realidade mudou drasticamente. O assessor, hoje, é a regra, inequivocamente.
Os veículos de comunicação passam por entressafra. O modelo de negócios está em permanente reavaliação. O jornalista, desse modo, também passa por entressafra. As condições de trabalho decaíram. Isso afeta a qualidade do produto final. Ainda assim, atuar em empresa jornalística é uma escola. Aprender os usos e costumes da redação, seus horários de edição e fechamento, aproxima o assessor de imprensa do seu principal público.
Um profissional que define sua preferência por assessoria pode construir canais de conhecimento de outras formas, no entanto. A passagem por veículo não é pré-requisito. Mas ajuda, sem dúvida. O assessor precisa ter, acima de tudo, experiência. Conhecer as políticas editoriais dos veículos, as características de seus colunistas. Saber quando e para quem enviar um release. E facilitar o entendimento. Elementar.
Interesse público e privado
O assessor de imprensa é um estrategista. Deve pensar a notícia, seu contexto e compartilhar com a mídia atendendo a um plano de comunicação. O interesse defendido aqui é o do cliente, não do público. Isso afasta quem trabalha em assessoria da condição de jornalista? Não. Trata-se de um jornalismo diferenciado. As mesmas técnicas de apuração e relevância devem constar na produção de pautas corporativas.
Um assessor perspicaz, entretanto, nota que quanto mais o interesse do cliente se aproximar do interesse público, melhor. Conteúdos que ficariam mais adequados em espaços publicitários devem passar longe dos e-mails das redações, pois serão descartados de imediato. A mídia mantém, aos trancos e barrancos, a sua independência, cumpre destacar. Assuntos capazes de repercutir, incitar discussões certamente terão espaço.
Dizem que o assessor está “do outro lado balcão”, numa ideia de oposição ao Jornalismo. Entretanto, se o relacionamento entre os dois fluir por meio da lógica da notícia, não há impasse: vai ser profícuo e ético. O profissional que envia centenas de mensagens para as redações, transformando a imprensa numa mera distribuidora de releases, não tem vida longa na função. Queima-se por sua própria falta de credibilidade.
Destarte, o relacionamento na mídia se faz com confiança. O jornalista depende das pautas do assessor; o assessor depende das publicações do jornalista. Conviver em harmonia, portanto, é condição precípua para a satisfação do cliente e do público. De outro modo, os dois lados do balcão viram antagonistas da informação. Não é o que a profissão preconiza.
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Gabriel Bocorny Guidotti é bacharel em Direito e estudante de Jornalismo