Voltada totalmente para as eleições americanas, a agenda midiática em todos os veículos se homogeneizou há mais de um mês – de uma forma tão absurda que as pautas mais relevantes em termos de prestação de serviços foram praticamente engavetadas.
A idolatria pelos americanos chega ao ápice do desespero quando a Globo, perdendo audiência no Jornal Nacional, coloca o seu âncora, William Bonner, para transmitir de Washington a tão propagada eleição.
Vale ressaltar ainda a presença de Pedro Bial, sempre com cara de BBB, fazendo comentários pitorescos para não perder o hábito bigbrodiano e os outros correspondentes em vários estados americanos e na Europa que já fazem coberturas diárias. Entre uma matéria e outra dos telejornais, a temática era Obama.
Folha de S.Paulo, O Globo, O Dia, O Estadp de S.Paulo, os maiores portais do Brasil, todos com a mesma agenda abarrotada de informações para brigar por um pedaço da audiência.
Que as eleições americanas são importantes, é inegável. Que a grande imprensa deve cobrir da melhor forma possível para deixar a sociedade informada, é indispensável.
Políticos mexem as pedras
Agora, é preciso fazer uma reflexão dessa cobertura espetacularizada e, com efeito, de idolatria máxima. O novo super-herói, o ‘salvador’ do mundo, a grande revolução, um negro no poder da maior potência do mundo, o melhor país em termos de democracia… e por aí vai…
Emoção de jornalistas, lágrimas de desconhecidos em vídeo, detalhes sobre a família de Obama e algumas coisitas sobre a relação Brasil e EUA. A imprensa americana toma posições e escolhe lados. A nossa também.
Enquanto exalta os americanos, o efeito Obama toma conta da cena brasileira. Os políticos começam a mexer as pedras em Brasília e em todos os estados. A mídia cobre lá fora e abafa o caso por aqui. Os larápios fazem à festa. Eles estão amando esse momento brasileiro-americano de ser…
Maestros em falcatruas
A grande imprensa chega aos detalhes da vida do novo presidente americano (lá… de lá…) e aqui não aprofunda nenhuma matéria sobre estes aumentos de salários dos representantes do povo (que povo? Deve ser o povo da casa deles!) e deixam de estimular o debate social sobre um fato que diz respeito diretamente a nós, brasileiros.
Vocês se lembram da cobertura da imprensa americana quando Lula foi eleito pela primeira vez? E da segunda vez? Vocês se lembram? Também temos um descendente de negro no poder. Também temos uma representação da base, do povo, no poder. E nem por isso os jornalistas americanos choraram com as nossas eleições.
Enquanto a grande mídia puxa o saco dos americanos (que não estão nem aí pra gente…), nossos políticos, que são maestros em falcatruas, mandam a fatura pra gente no próximo mês e ainda vem no envelope com selo americano, para não cair no esquecimento.
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Socióloga e jornalista, professora do curso de Jornalismo e Multimeios da Universidade do Estado da Bahia e do curso Publicidade e Propaganda da Faculdade São Francisco de Juazeiro, BA