A biografia que o jornalista Daniel Piza escreveu (Machado de Assis – Um Gênio Brasileiro, lançada recentemente pela Imprensa Oficial de São Paulo) é, simplesmente, ‘um livro imprestável’, segundo a curta e grossa definição que lhe dá a revista Veja. Em uma resenha elíptica, mas corrosiva, a revista mostra erros graves de informação e interpretações desastradas que Piza faz da vida e da obra daquele que é considerado o maior escritor brasileiro.
Veja não deixa de ter razão, quase toda. Mas uma crítica tão virulenta sem assinatura se destaca menos pelo acerto dos seus argumentos do que pela má impressão que seu anonimato deixa: alguém se aproveitou da oportunidade para um acerto de contas com um provável desafeto, sem precisar responder pelo que disse, ainda que o desafeto mereça as chibatadas que recebe.
Esse tipo de atitude tem uma definição: é covardia.
Desinteligência
Quem, anos atrás, se acostumou a divergir e brigar com Veja em alto nível e através de polêmicas consistentes, agora sente engulhos quando lê alguns dos textos mais incisivos da revista, independentemente de concordarmos ou discordarmos do que é dito. Está faltando ao principal semanário do país (o quinto em tiragem do mundo), além de respeito à informação, seriedade.
O humor, a ironia e o deboche, para merecerem consideração, precisam ser inteligentes. Mas que inteligência há nas grosserias primitivas que a revista vem cometendo, como, ao reproduzir uma frase infeliz do presidente Lula (mais uma na antologia de despautérios), a ilustra com uma foto do humorista Bussunda, caracterizado como Lula, e acrescenta este pé-de-página à nota: ‘Epa! Erramos a foto…’?
Talvez por causa de cometimentos como esse, a revista luta desesperadamente, há tempos, para manter-se na faixa dos 1,2 milhão de assinantes. A cada espetáculo de pobreza intelectual, como esse, o assinante pede a conta. E assinante de publicação jornalística, quando decide ir embora, dificilmente volta. Veja que cuide melhor do seu jornalismo, antes que a vaca vá para o brejo.
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Editor do Jornal Pessoal