Depois de dedicar cinco décadas dos 77 anos de sua vida a transformar a Editora Abril no maior conglomerado de revistas da América Latina – com faturamento de R$ 2,1 bilhões em 2010 – o empresário italiano Roberto Civita agora está empenhado em fazer com que outra empresa da família se torne um negócio igualmente vultoso: a Abril Educação, dona das Editoras Ática e Scipione e do Anglo. Civita colocou em curso um intenso movimento de negociações para aquisições e está em busca de sócios investidores para ajudar a consolidar a Abril Educação como uma das maiores empresas de sistema de ensino do país.
Segundo apurou a reportagem do Valor, a Abril Educação está em conversas com investidores da rede de colégios Ponto de Ensino Pensi, instituição de ensinos infantil, médio e fundamental do Rio de Janeiro, para adquirir uma fatia da empresa carioca. O Pensi é uma rede de 16 unidades, entre próprias e franquias, que também administra cursos preparatórios para vestibulares de universidades e escolas militares. ‘A aquisição faria sentido porque o Pensi é considerado uma prestigiada instituição que poderia servir de vitrine para o sistema de ensino da Abril Educação’, diz um executivo ligado à Abril Educação que falou ao jornal na condição do sigilo.
Em entrevista ao Valor, o presidente do Pensi, Bruno Elias, negou a negociação. ‘Não estamos à venda’, afirmou. Procurada pela reportagem, a Abril Educação informou, por meio da assessoria de imprensa, que não comentaria o assunto. Segundo o Valor apurou, o movimento da Abril Educação ocorre em meio ao processo de conversas da família Civita com potenciais sócios investidores para a venda de participação minoritária da empresa.
Fora do Grupo Abril
Há cerca de 15 dias, a família Civita rechaçou a proposta de compra de uma fatia minoritária da Abril Educação pelo fundo americano de private equity General Atlantic. Desde o final do ano passado, a família Civita conversa com pelo menos quatro fundos de investimento como estratégia para capitalizar a empresa e pavimentar seu crescimento no mercado de sistema de ensino. O General Atlantic foi o fundo que mais avançou nas tratativas. Apoiados pelo conselho de administração da Abril Educação, os Civita recusaram aceitar um conjunto de exigências apresentado pelo fundo americano embalado na proposta de compra. O General Atlantic queria amarrar o contrato de compra da participação a uma ‘proteção de preço’, conhecida como direito de antidiluição (antidilution right, em inglês). A proteção é uma espécie de compensação. Caso a Abril Educação fizesse uma oferta inicial de ações com uma precificação abaixo do preço pago pelo General Atlantic, o fundo não seria diluído. Nesse caso, o acordo permitiria que o General Atlantic aumentasse a fatia acionária na Abril Educação sem que fosse necessário fazer novos aportes. Procurado, o responsável pela operação da General Atlantic no Brasil, Fernando Marques Oliveira, não deu entrevista.
O presidente do conselho de administração do grupo Abril, Roberto Civita, não confirma o nome do fundo. Mas, afirma que não negocia privilégios com potenciais sócios. ‘Queremos manter estrutura de governança transparente, sem diferenças de direitos ou privilégios entre os investidores.’ Hoje, a Abril Educação tem entre os acionistas o BR Investimentos, do economista Paulo Guedes, que comprou 25% da empresa no final do ano passado.
Desde o início de 2010, a Abril Educação está fora do guarda-chuva do Grupo Abril, controlado pela família Civita. A separação foi decidida em acordo entre os Civita e o grupo sul-africano Naspers, que comprou 30% do Grupo Abril em maio de 2006. Há pouco mais de duas semanas, a Abril Educação informou, em nota publicada no site Exame.com, que tinha encerrado o período de private placement (colocação privada). Segundo Civita, a empresa estuda fazer a oferta inicial de ações ainda em 2011.