As regras do jogo mudaram. Não se faz mais jornalismo do mesmo jeito. Com as novas possibilidades tecnológicas, aqueles que antes eram considerados espectadores, se transformaram em jogadores aptos a participarem das partidas e a disputa por espaço ficou mais acirrada. No entanto, jornalistas profissionais e não profissionais estão criando uma rivalidade desnecessária, pois não há nada que os impeça de formarem um mesmo time. Basta que se estabeleçam novas e melhores regras.
Assim como as técnicas, práticas e posturas aceitáveis aos profissionais da notícia, tanto no exercício do jornalismo quanto além dele, são debatidas e afirmadas por entidades e empresas, a audiência participativa e colaborativa também deveria receber atenção referente ao seu grau de responsabilidade. Um caminho seria contemplar a atuação dos profissionais diante dessa avalanche de conteúdos e as ações dos não profissionais na redação de códigos de ética e manuais de redação.
Os códigos e manuais podem propor condutas éticas dos profissionais da redação diante das novas formas de colaboração dos públicos jornalísticos como fontes, como colaboradores e produtores de conteúdos. Sugerir como responder às duvidas e aos questionamentos que chegam publicamente através das redes sociais na internet. Orientar como proceder diante de críticas, denúncias e elogios. Ou seja, como corresponder às expectativas desses públicos ávidos por um diálogo mais franco e por estabelecer parcerias com os editores e jornalistas.
Os códigos e manuais também podem se preocupar com a atuação dessas pessoas. Delimitar quais conteúdos são considerados desejáveis e quais são inaceitáveis, assim também como seus comportamentos. Esclarecer quais são os melhores canais de interação e abordagem, prever também possíveis obrigatoriedades e punições. Tudo isso, é claro, de forma aberta à participação e colaboração dos públicos e de cerceamento ou controle desse conteúdo.
A inclusão dos públicos em manuais de redação e códigos de ética serve para dignificar as novas relações estabelecidas por eles com veículos e jornalistas. Pode contribuir, ainda, com a qualidade dessas participações, ao possibilitar maior valorização da audiência ao convidá-la para participar do estabelecimento desses novos parâmetros e orientando-a sobre os valores fundamentais do jornalismo. Construídas em conjunto, as novas regras do jogo podem possibilitar novos esquemas táticos e uma forma de jogar mais evoluída. Um jornalismo possível para profissionais e não profissionais.
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Thiago Amorim Caminada é mestrando no POSJOR/UFSC e pesquisador do objETHOS